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Mercado de defensivos biológicos avança

Tecnologia que vem sendo cada vez mais adotada no Brasil e no mundo se baseia no controle de pragas por meio de organismos vivos

21 nov 2020 - 04h11
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O aumento na demanda por produtos mais sustentáveis e alternativos aos químicos na agricultura impulsiona o mercado de defensivos biológicos, não apenas no Brasil, mas no mundo. A tecnologia é recente e se baseia no controle de pragas por meio de organismos vivos que são seus inimigos naturais, o que reduz o risco de poluição do meio ambiente e a exposição a produtos tóxicos, tanto das lavouras, quanto dos trabalhadores. O principal embalo do mercado ocorre com a entrada de grandes indústrias no segmento, como a Syngenta, o que possibilita aumentar a escala de produção e ampliar o acesso a esses produtos.

A parcela que os biológicos representam no mercado total e global de defensivos ainda é muito incipiente - cerca de 2% de um total de US$ 11 bilhões -, mas segundo a diretora de biológicos da CropLife Brasil, Amália Borsari, o que chama a atenção não é a fotografia do momento, mas a perspectiva de crescimento, que é muito rápida. No País, uma pesquisa feita pela consultoria Spark Inteligência Estratégica e divulgada em outubro mostrou que o mercado movimentou quase R$ 1 bilhão na safra 2019/20, 46% a mais que na temporada anterior. Nesse sentido, a área potencialmente tratada com os biológicos aumentou 23%, para 19,4 milhões de hectares.

 Tecnologia de controle biológico  é recente e o mercado encontra desafios regulatórias 
Tecnologia de controle biológico é recente e o mercado encontra desafios regulatórias
Foto: Divulgação / Estadão

Segundo Amália, mais da metade dos produtos disponíveis no segmento foi lançada nos últimos dois anos. Foi nesse período também que houve um aumento na capacidade produtiva das empresas, o que, dentre outros fatores, favorece uma projeção de crescimento de 20% a 30% no mercado de biológicos ao fim de 2020, quando comparado a 2019, conforme a CropLife, que agrega uma série de entidades do setor, inclusive a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio). "Esse mercado não está consolidado no Brasil, estamos em uma curva de crescimento acelerada, diante de uma série de oportunidades. Por isso, o potencial é enorme", disse ela.

Apesar da perspectiva positiva, como a tecnologia é recente, o mercado encontra desafios em questões regulatórias e na tecnificação dos produtores rurais. De acordo com a especialista, o setor está avançando e conseguindo criar um ambiente "menos engessado" para aprovação de novas tecnologias, em diálogo com o Ministério da Agricultura, a Anvisa e o Ibama. "Normalmente, as políticas públicas não acompanham, no mesmo compasso, o desenvolvimento tecnológico, mas temos sempre de buscar esse ambiente propício para a inovação, trazendo segurança e qualidade para o produtor", disse.

Governo aprvou produtos de baixo risco

Apenas em 2020, o Ministério da Agricultura aprovou 76 registros de produtos considerados de baixo risco, dentre biológicos, microbiológicos, semiquímicos, bioquímicos, extratos vegetais e reguladores de crescimento ou de agricultura orgânica. Isso representa um aumento de 76,74% ante o número de 2019, quando 43 registros foram aprovados, segundo dados fornecidos pela pasta.

Além disso, o governo federal segue elaborando normativas que facilitam os registros de defensivos biológicos. Na quarta-feira, por exemplo, quatro novas especificações de referência (ER) foram publicadas, guiando e ampliando as opções para solicitações de registros dos produtos.

Outro ponto que Amália chama atenção é o desconhecimento da tecnologia por grande parte dos produtores rurais, o que ela considera um desafio para a indústria, que precisa direcionar os seus investimentos para capacitação técnica. "Se a indústria estiver mais perto do produtor, auxiliando no manejo dos biológicos de forma integrada aos produtos agroquímicos, vai resultar em um crescimento acelerado do mercado", acrescentou. A integração das tecnologias é, de fato, uma pauta das grandes indústrias, que vêm investindo no nicho e ampliando a oferta de produtos, caso da Basf, Bayer CropScience, Corteva Agriscience e da Syngenta, que concretizou o interesse no mercado com a aquisição da italiana Valagro em outubro.

O líder de Biológicos para a América Latina da Syngenta, Thomas Altamann, comentou que nos últimos anos o mercado vem notando a necessidade de oferecer soluções que possam contribuir com o melhor manejo de resistência, além da melhoria da qualidade do solo das culturas tratadas. Nesse sentido, "os biológicos têm um encaixe muito adequado dentro do que o mercado e a sociedade demandam".

Em relação à taxa de utilização, ele disse que os agricultores brasileiros têm uma forte característica inovadora e empreendedora e, por isso, estão avançando de forma rápida na curva de aprendizado. "É um nicho que cresce no mundo todo, com a taxa de utilização aumentando em uma faixa muito superior à que cresce a dos produtos convencionais", disse ele, acrescentando que no mundo a alta anual se aproxima dos 10%, enquanto no Brasil o avanço tem ficado entre 13% e 14% no ano.

Embora o segmento de hortaliças e frutas tenha, inicialmente, mostrado maior afinidade com o uso de defensivos biológicos, nos últimos anos, os produtos já chegaram às lavouras maiores, como de soja, milho, café, algodão e cana-de-açúcar.

Estadão
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