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Maia critica articulação de Campos Neto e diz que ele não está à altura do cargo de presidente do BC

Em seguida, presidente da Câmara disse ter recebido uma nova ligação de Roberto Campos Neto e que mantém confiança nele

29 out 2020 - 09h51
(atualizado às 16h30)
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BRASÍLIA e SÃO PAULO - Depois de criticar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de ter vazado informações sobre conversa que os dois tiveram na quarta-feira, 28.

A conversa, revelada pelo Estadão, aconteceu no dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que manteve em 2% a taxa Selic.

Logo cedo nesta quinta-feira, 29, Maia postou na sua conta do Twitter que Campos Neto não está "à altura de um presidente de Banco de um país sério" ao "vazar" para a imprensa conversa particular que tiveram.

Uma hora depois, o presidente da Câmara voltou à rede social para dizer que recebeu uma ligação de Campos Neto, que afirmou que não foi o responsável por divulgar a jornalistas o conteúdo da conversa que tiveram. "Diante da palavra do presidente, o vazamento certamente foi provocado por terceiros. Deixo aqui registrada a ligação e a confiança que tenho nele", escreveu Maia.

Antes disso, porém, Maia criticou ao Estadão a articulação do presidente do Banco Central em alertar sobre os reflexos para a economia da dificuldade do Congresso em avançar com as votações da pauta de ajuste fiscal. Segundo o presidente da Câmara, Campos Neto tentou fazer uma articulação política, sem combinar, o que não seria papel dele, mas dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e de articulação política, Luiz Eduardo Ramos.

"O governo resolver obstruir e fica tudo misturado. Não dá. Ele tentou mostrar uma articulação que não é papel dele", disse Maia em rápida entrevista ao Estadão. "Ele não tem esse papel. Eu não gostei. Está errado. Não fui quem vazou. Foi ele", disse. De acordo com Maia, o presidente do BC estava "meio estressado" com a pressão do câmbio e por isso o procurou.

Ontem, o dólar fechou em alta de 1,31%, a R$ 5,7599. Na máxima da sessão, chegou a bater R$ 5,7900, maior valor desde 18 de maio (R$ 5,8025). A alta do dólar perdeu força após intervenção do Banco Central, que vendeu US$ 1,042 bilhão em leilão.

O presidente da Câmara disse que sempre teve uma boa relação com Campos Neto e que continuará tendo, mas alertou que tem de tomar cuidado. "Não posso deixar mais que esse pessoal fique me expondo. Me colocam em matéria que a culpa não é minha", reclamou o presidente da Câmara. Maia disse para Campos Neto reclamar com a base do governo que está obstruindo a pauta.

Ele disse que já apresentou ao senador Marcio Bittar (MDB-AC) uma proposta de PEC emergencial, que prevê cortes em gastos obrigatórios, como os com o funcionalismo, para abrir espaço no Orçamento para o novo programa social que o governo estuda em substituição ao Bolsa Família. Bittar é o relator da PEC emergencial e do Orçamento de 2021. "Eu já apresentei, já me expus, já dei entrevista para o Estadão, escrevi artigo, não venham reclamar de mim, não", desabafou.

Nesta entrevista ao Estadão, Maia defendeu que governo e lideranças dos partidos fechassem com a máxima urgência um cronograma para votação de medidas de corte de gastos para garantir a adoção do Renda Cidadã, o programa em avaliação para substituir o Bolsa Família, e dar tranquilidade fiscal ao País nos próximos dois anos. Para o presidente da Câmara, não há mais tempo a perder porque, segundo ele, a crise "está muito mais perto, o prazo é curto e não se tomou a decisão até agora do que fazer".

Maia negou que as suas críticas tenham também relação com o votação pelo Senado do projeto de autonomia do BC. A votação está marcada para o dia 3 de novembro no Senado e depois o projeto terá de ser votado pela Câmara. "Sou 100% a favor de autonomia do BC. Depois que Senado votar, vamos trabalhar para votar (na Câmara). Mas não vou votar de um dia para outro, não consigo", avisou.

As críticas públicas de Maia a Campos Neto se somam à irritação do presidente da Câmara com a falta de empenho do governo para desobstruir a pauta de votação da agenda econômica, principalmente, com o impasse na Comissão Mista de Orçamento (CMO), responsável por analisar temas orçamentários.

O alerta feito por Maia em entrevista na terça-feira, 27, afetou os indicadores de mercado financeiro, o que gerou ainda maior preocupação com o pouco tempo para as votações até o fim do ano da PEC emergencial, da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e do Orçamento de 2021. Caso a proposta LDO de 2021 não seja votada até o final do ano, o governo ficaria sem qualquer base legal para executar suas despesas, como revelou o Estadão/Broadcast.

Estadão
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