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Loucos por bife, argentinos ignoram inflação e seguem comprando carne bovina

28 ago 2019 - 19h42
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Os tempos são duros na Argentina, afetada pela recessão e com um forte declínio do peso elevando os preços de alimentos.

Um açougueiro corta carne em um açougue em Buenos Aires. 
REUTERS/Marcos Brindicci
30/10/2018
Um açougueiro corta carne em um açougue em Buenos Aires. REUTERS/Marcos Brindicci 30/10/2018
Foto: Reuters

No entanto, em um país onde comer carne é considerado mais um direito do que um luxo, as pessoas estão esticando seus orçamentos para que continuem adquirindo bife, enquanto açougues veem suas margens de lucro encolherem.

Para ricos e pobres, a vida social argentina gira em torno dos churrascos nos finais de semana. A famigerada imagem do cowboy atravessando os pampas a cavalo e levando ao fogo um bife de alta qualidade faz parte da identidade do país tanto quanto tango, Evita Perón e crises financeiras.

O mais recente revés econômico ocorreu no início deste mês, quando uma vitória esmagadora da oposição populista nas eleições primárias de 11 de agosto levou o peso a despencar e reduziu as chances de o atual presidente e amigo dos mercados, Mauricio Macri, conquistar um segundo mandato.

Atordoados pela queda do peso, os pecuaristas argentinos -- que exportam boa parte da proteína produzida -- desistiram das vendas, preferindo aguardar para que a volatilidade passe.

O corte na oferta teve como efeito uma alta nos preços. Ainda assim, muitos argentinos continuaram comprando bife, optando por diminuir seus orçamentos domésticos em outras áreas antes de se privarem de sua principal fonte de proteína.

"Argentinos podem deixar de comprar roupas e outros itens, mas não deixarão de comprar carne, mesmo que reclamem dos preços", disse Orlando Mamani, que trabalha no açougue de um mercado em Belgrano, nos arredores de Buenos Aires.

E eles, de fato, reclamam, ainda que façam filas para compras em açougues da capital portenha.

"Os preços subiram de 15% a 20% desde as primárias. O resultado da eleição foi realmente surpreendente", disse Julio Basmagian, de 70 anos, ao deixar um açougue carregando compras.

"Para nós, a carne bovina é muito importante. É muito incomum encontrar um argentino que passe um dia sem comer carne, de uma forma ou de outra", afirmou, antes de reconhecer que, como um idoso vivendo de renda fixa, talvez tenha de retirar o produto de seu orçamento se os preços continuarem subindo.

Espera-se que neste mês o índice de inflação ao consumidor atinja os 3%, disse Macri na terça-feira, ante 2,2% em julho. Mas, segundo açougueiros e consumidores entrevistados pela Reuters, os preços da carne parecem avançar em um ritmo maior que a inflação oficial.

"Não é que a carne seja muito cara. O fato é que os assalariados pensam que é muito cara, pois acreditam que têm o direito de comer carne todos os dias", disse Miguel Schiariti, chefe da CICCRA, câmara argentina do setor.

Schiariti acrescentou que a oferta recuou 30% em Liniers, principal mercado de gado de Buenos Aires, após as primárias.

"Demanda sempre existe. Mas a oferta cai quando os pecuaristas ficam nervosos por causa do peso e aguardam para ver o que vai acontecer antes de venderem", concordou Miguel Narciso, açougueiro do Nucho, mercado do bairro de classe média de Caballito, em Buenos Aires.

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