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Lição sobre a China atrai empresários

Com blocos e canetas nas mãos, executivos de primeiro escalão lotam aulas e viagens ao país asiático para entender o futuro dos negócios

20 jul 2019 - 12h12
(atualizado em 22/7/2019 às 15h48)
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No início do mês, cerca de 40 executivos e empresários de primeiro escalão sentaram-se num auditório, com caderno, caneta na mão e celular pronto para fotografar. Por quase duas horas, tornaram-se alunos atentos, para tentar entender o que está por trás do avanço avassalador de gigantes como Alibaba, Tecent, Baidu e outras. Queriam também buscar inspiração para tornar os negócios mais criativos, produtivos - e sobreviventes ao terremoto causado pela tecnologia.

No caso, o encontro aconteceu no Brooklin, para convidados da consultoria GS&MD. Comandantes de marcas tão diferentes quanto a empresa de logística Caramuru e as redes varejistas Kipling e Restoque assistiam ao especialista em mercado chinês In Hsieh, associado à consultoria, levá-los a uma imersão na cultura e no mundo dos negócios naquele país.

Não foi o único encontro do tipo. A cena tem repetido-se com alguma frequência em eventos promovidos por outras empresas, sobretudo ligadas à área de inovação. "O Vale do Silício é a meca da inovação, mas a China, nos últimos anos, virou referência para empresários de vários segmentos", diz Pedro Englert, CEO da StartSe, empresa de educação executiva que promove encontros semelhantes.

Há 28 anos, a GS&MD leva executivos aos Estados Unidos para conhecer inovações das varejistas americanas. Só que o auditório repleto de executivos novatos e veteranos de vários setores lotou por causa da China.

"Já levamos ao país 70 executivos, presidentes ou donos de empresas de diversos setores, varejo, indústria, mas os bancos têm predominado", disse Eduardo Yamashita, diretor de operações da GS&MD.

Capitalismo de Estado

Governado pelo partido comunista e com a perspectiva de se tornar a maior economia do planeta em dez anos, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a China virou modelo para as empresas capitalistas.

Cerca de 15 anos atrás, as gigantes chinesas eram empresas de "garagem". Uma das estratégias para se chegar lá, segundo Yamashita, é que as empresas são estruturadas em grandes ecossistemas. São companhias independentes, cujos negócios são altamente interdependentes. A geração de valor resulta das competências de cada empresa dentro desse universo interligado. "Fora do ecossistema, essas empresas não são nada", diz ele.

Um exemplo é o Alibaba, avaliado em cerca de US$ 500 bilhões, e que mudou a forma de fazer varejo, segundo Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. A empresa nasceu como plataforma de exportação, conectando empresas da China com o resto do mundo. Evoluiu no comércio eletrônico por meio plataformas com propostas diferentes. Depois avançou para criação de solução de tecnologia, de logística para entregas e de pagamento de compras (Alipay). Sobre essa base, afirma Terra, foram erguidos negócios inovadores nos segmentos de e-commerce, supermercado, shopping, loja de departamento com uma velocidade impressionante.

Não foi a única citada. A Luckin Coffee, concorrente chinesa da Starbucks, por exemplo, abriu 2.450 lojas em 14 meses.

Para Yamashita, uma das dificuldades de quem visita o país é entender a necessidade de crescer rapidamente para não ser engolido pela concorrência. Para isso, nos primeiros anos os ganhos são reinvestidos no negócio. Na cabeça do chinês, afirma Yamashita, o importante é o modelo de negócio ser sustentável - nesse momento o lucro não é variável-chave. "O empresário brasileiro fica louco com isso, pois é uma quebra de paradigma muito grande na forma de conduzir os negócios", diz.

Outro segredo das empresas chinesas para se transformar no modelo hoje mais cobiçado por companhias de diferentes setores é a velocidade com a qual colocam em prática as inovações. "Enquanto o Vale do Silício pensa a inovação, a China executa e isso impressiona muito quem participa das nossas viagens", diz Yamashita.

As informações apresentadas à plateia são uma forma de instigar os participantes a visitarem o país asiático. No caso da GS&MD, um roteiro de 12 dias, com visitas guiadas, de negócios e turismo, e hospedagem em hotéis cinco estrelas, pode custar até R$ 40 mil.

Nos últimos dois anos, a StartSe, que tem escritório no Vale do Silício levou cerca de 500 executivos à China. O "programa educacional" de cinco dias, como prefere designar a viagem Englert, sai por US$ 4,5 mil e não inclui hospedagem. A China ganhou tanta importância que, em 2017, a consultoria abriu escritório em Pequim e, há seis meses, outro em Xangai.

Alavancas

- Urbanização

300 milhões de chineses migraram do campo para as cidades

- Escala global

Modelo mental de obsessão por crescimento

- Classe média

300 milhões de chineses ingressaram na classe média

- Educação

7,5 milhões por ano concluem faculdade

- Internet

800 milhões de acessos

- Governo

Tem forte presença nos negócios

Estadão
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