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Juros sobem com fala de Bolsonaro, câmbio e impasse no Orçamento

7 abr 2021 - 18h28
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Os juros fecharam o dia em alta e nas máximas da sessão. As taxas vinham em alta moderada, mas aceleraram o avanço no fim da etapa regular, em reação à declaração do presidente Jair Bolsonaro, no período da tarde, segundo a qual a política de preços da Petrobras poderá ser alterada, e à piora no câmbio. O fantasma da intervenção política nos preços da companhia voltou a assombrar o mercado num momento já de grande estresse em função do impasse em torno do Orçamento de 2021, que vem tornando a curva praticamente insensível a influências positivas, como por exemplo a acomodação do mercado de Treasuries e o bem-sucedido leilão de aeroportos.

No fim da etapa regular, todas as principais taxas estavam nas máximas. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,725%, de 4,656% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 marcava 8,38%, de 8,236%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 8,99%, de 8,854%.

A declaração do presidente foi feita com o mercado já na reta final dos negócios, mas causou estrago, com a alta das taxas passando de algo em torno de 5 pontos-base para até 14 pontos.

Na cerimônia de posse do novo diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, o chefe do Executivo defendeu "previsibilidade" e "transparência" na política de preços da companhia. Declarou que não iria interferir, mas que essa poderia ser alterada, citando o projeto sobre a mudança na cobrança do ICMS sobre combustíveis.

Bolsonaro já havia dado este tipo de indicação anteriormente, mas agora pegou o mercado num momento já de grande aflição com as questões fiscais. A exemplo dos últimos dias, nesta quarta o impasse em torno do Orçamento seguiu como entrave para um alívio de prêmios.

A ata do Federal Reserve, grande destaque da agenda, não foi capaz de influenciar diretamente os negócios com juros, mas sim via câmbio, com o dólar acelerando a alta a partir do avanço dos juros longos dos Treasuries, por sua vez, pressionados pelas indicações do documento.

"O problema é nosso, com essa incerteza orçamentária e risco de calamidade. É um pepino que enquanto não se resolver o mercado vai seguir pedindo prêmio", disse o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, para quem o fato de o presidente Jair Bolsonaro não se envolver diretamente na questão do Orçamento é um agravante.

O Orçamento foi aprovado no Congresso em 25 de março, com manobras contábeis via subestimação de despesas obrigatórias para a acomodação de emendas parlamentares, o que vai exigir um bloqueio nas despesas de ao menos R$ 30 bilhões para garantir o cumprimento do teto de gastos. O relatório da área técnica do Tribunal de Contas sobre a regularidade da redução de despesas obrigatórias é inconclusivo e a corte agora pede uma série de informações ao Ministério da Economia e à Casa Civil para embasar sua análise.

O noticiário da pandemia recorrentemente negativo também pesa. Com a marca de 4 mil mortes diárias por covid-19 no País, insuficiência de vacinas e atraso no fornecimento de insumo para os imunizantes, o quadro sanitário eleva as preocupações sobre a necessidade de restrições de circulação e à atividade ainda mais severas e de ampliação de auxílio financeiro à população. Caso o governo decrete novamente estado de calamidade, as regras fiscais serão suspensas e estará aberto caminho para um aumento mais significativo dos gastos.

Estadão
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