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Janot defende denúncia contra Temer e afirma que relação com crimes é clara e forte

1 jul 2017 - 14h03
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O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou neste sábado que a narrativa da denúncia apresentada contra o presidente da República, Michel Temer, é "muito clara e muito forte", mas que não teve nenhum "prazer mórbido" em denunciar o presidente.

"Ninguém tem esse prazer mórbido de oferecer denúncia contra um presidente no exercício do cargo. Queria ter passado ao largo disso", afirmou Janot, em uma sessão no 13o Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ao comentar a suposta fragilidade da denúncia oferecida ao Supremo Tribunal Federal.

"A narrativa é muito forte. É de uma clareza tão grande, eu duvido que não fosse recebida em qualquer outro juízo. Se isso não é motivo para abrir uma ação penal, eu não sei o que é."

Janot disse ainda que ao apresentar uma denúncia não se entrega um "caderno de provas", mas indícios suficientes para se abrir a instrução penal.

"Se apresento, a defesa vai dizer que produzi as provas sem ouvi-los e é preciso anular tudo", disse o PGR. "Ninguém vai passar recibo. Esse tipo de prova é satânica, é quase impossível. Tem que olhar a narrativa".

De acordo com Janot, não há como negar a relação do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures com Temer e o fato de que Loures, o "homem da mala", agia por determinação do presidente.

"Tem um acerto para que um bandido --não deixa de ser um bandido-- entrasse na residência do Presidente da República, tarde da noite, sem ser identificado e, se fornecesse um nome, devia ser um nome falso. Isso é impensável. E esse ajuste foi feito com o cara da mala", afirmou.

O PGR confirmou ainda que trabalha em outras duas investigações contra o presidente, uma de participação em organização criminosa e outra de obstrução da Justiça.

"Uma delas está mais adiantada, mas não tenho como dizer que a denúncia vai sair dia tal", explicou.

Ao ser questionado se pretendia desacelerar o ritmo nos meses finais no posto, já que deixa o cargo em 17 de setembro e sua substituta, Raquel Dodge, já foi indicada, Janot negou.

"Enquanto tiver bambu, lá vai flecha. Até o dia 17 de setembro a caneta está na minha mão e eu vou continuar nesse ritmo que estou", garantiu.

Fontes que acompanham de perto o trabalho do procurador disseram à Reuters, há algumas semanas, que Janot planeja, antes de sair, encerrar as negociações das próximas delações que trazem grandes expectativas, a do ex-ministro Antonio Palocci e do operador financeiro Lúcio Funaro --essa mais adiantada.

A intenção de Janot não é apenas fechar os acordos, mas ter tempo ainda de usá-las para pedir as aberturas de inquérito que podem vir dos acordos.

ESCOLHA DE SOFIA

Janot ainda defendeu o acordo de delação premiada com os executivos da JBS, alegando que passou por uma "escolha de Sofia". Segundo o PGR, se a delação não fosse fechada, ela seria cobrada porque teria deixado que crimes de altas autoridades continuassem a ocorrer.

"A escolha de Sofia a fazer era fingir que não ouvi isso e deixar que isso continue porque a premiação ao delator é alta. Ele não deixou de ser bandido porque colaborou, mas a sociedade brasileira ganhou mais. Estou com a consciência tranquila", disse.

De acordo com o procurador, é preciso estar atento para articulações legislativas que possam limitar a ação do aparato de investigação do Estado. O procurador cita, por exemplo, uma proposta de prazo limite para investigação.

"A única maneira de segurar isso é cidadania ativa, é o trabalho da imprensa", afirmou.

Janot elogiou o fato de Temer ter escolhido Raquel Dodge, segunda colocada na lista tríplice votada pelo Ministério Público, como uma vitória institucional, mesmo que ela não tenha sido a primeira colocada na votação. Mas explicitou diferenças com a próxima procuradora-geral.

Dodge já deu declarações em que diz acreditar que as negociações de delações premiadas não poderiam definir reduções ou anulações de pena porque esse não seria o papel do MP.

"Se não puder mexer na pena, o que eu vou oferecer? Nada. Uma caixa de bombom garoto, um pão de mel. Se não tiver redução de pena não tem acordo", defendeu.

POLÍCIA FEDERAL

Apesar das divergências com a Polícia Federal --em especial as reclamações por parte da PF de que deveria participar dos acordos de delação-- Janot elogiou o trabalho da polícia, que classificou de essencial.

E, em meio aos boatos de que o Palácio do Planalto manobra para tirar Leandro Daiello da direção da PF, em uma manobra para tentar controlar as investigações, deu um recado:

"É impensável hoje um diretor-geral que não seja um delegado de Polícia Federal. Isso é impensável admitir como sociedade", afirmou.

Próximo de deixar o cargo, com 33 anos de carreira, Janot afirmou que o nível de corrupção encontrado pela operação Lava Jato é o que mais o chocou em sua vida pública.

"O que mais me chocou foi a extensão dessa atividade criminosa. E a decepção é que isso se estendeu, atingindo pessoas e instituições que eu jamais poderia supor, imaginar", disse. "Hoje ainda se vê pessoas com a maior desfaçatez e cara de pau continuar a mesma atividade criminosa".

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