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Inflação desacelera para 0,11% em agosto; preço de alimentos recua

Principal impacto no aumento do IPCA foi a conta de luz, que ficou 3,85% mais cara no mês passado; para economista, inflação vai ficar abaixo da meta de 4,24%

6 set 2019 - 10h22
(atualizado às 23h40)
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RIO - A inflação oficial no País desacelerou de 0,19% em julho para 0,11% em agosto, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A conta de luz voltou a pesar no orçamento das famílias, mas os gastos foram menores com alimentos, transportes e saúde.

A tarifa de energia elétrica teve alta de 3,85% em agosto, após já ter aumentado 4,48% em julho. O item deu a maior contribuição para a inflação do mês, 0,15 ponto porcentual.

"Teve uma mudança de bandeira tarifária, era amarela em julho, e agora tem a bandeira vermelha patamar 1 em agosto, isso acabou pesando", explicou Pedro Kislanov da Costa, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

A bandeira tarifária mudou de amarela em julho, onerando as contas de luz em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, para a bandeira vermelha patamar 1 em agosto, com cobrança adicional de R$ 4,00 para cada 100 quilowatts-hora consumidos.

Na direção contrária, os gastos com alimentação e bebidas saíram de uma ligeira alta de 0,01% em julho para um recuo de 0,35% em agosto. Os preços dos alimentos para consumo no domicílio recuaram 0,84%. O tomate ficou 24,49% mais barato no mês, um impacto de -0,08 ponto porcentual para a inflação. As famílias também pagaram menos pela batata-inglesa, hortaliças e verduras e carnes. Por outro lado, houve reajuste nos preços das frutas e da cebola.

As passagens aéreas também pesaram menos no bolso das famílias em agosto, com redução de 15,66% nas tarifas, o impacto negativo mais intenso na inflação do mês, ao lado do tomate.

"É normal ter queda nas passagens aéreas em agosto. Você tem uma base mais alta por conta das férias de julho, então em agosto tem essa queda", justificou Kislanov.

Os combustíveis tiveram ligeira alta de 0,01% em agosto. A gasolina e o óleo diesel ficaram mais baratos, mas o etanol subiu 2,30%.

A recuperação ainda lenta e gradual do consumo das famílias descarta uma eventual ameaça de pressão de demanda sobre a inflação oficial no País, avaliou Kislanov.

"O que a gente nota é que o consumo das famílias tem tido crescimento lento, gradual. A taxa de desocupação caiu, mas essa criação de empregos tem se dado, principalmente, pela informalidade, que normalmente paga salários mais baixos. A massa de salários esta estável. Então é difícil a gente pensar em inflação de demanda com essa recuperação lenta ainda, gradual, e baseada na informalidade", justificou o gerente do IBGE.

Para o mês de setembro, haverá manutenção da bandeira vermelha patamar 1, mas o IPCA deve absorver o impacto de uma redução da tarifa de energia elétrica em São Luís, em vigor desde 28 de agosto. Por outro lado, a Petrobras autorizou reajuste de 3,50% no preço da gasolina nas refinarias em 27 de agosto.

A boa notícia para a inflação nos próximos meses pode vir do campo. A nova safra recorde de grãos prevista para este ano tem potencial para manter os preços dos alimentos comportados, confirmou Kislanov.

"Espera-se que sim. Lembrando que a safra recorde de 2017 se refletiu em quedas nos preços dos alimentos. Mas não dá para ter certeza absoluta, ainda depende de fatores como chuvas, condições climáticas", acrescentou.

Abaixo da meta

Para o economista André Braz, analista de inflação do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), os resultados de agosto mostram que a inflação para 2019 está praticamente dada: preços comportados e abaixo da meta de 4,25%.

"O número de agosto é um reflexo de duas coisas: tem uma economia que não estimula o consumo e isso faz com que alguns produtos acabem avançando menos de preço. As famílias ainda estão na fase de pagamento de dívidas, para depois conseguirem comprar bens novos. Mesmo com estímulos como o novo saque do fundo de garantia, o consumidor agora está dando prioridade ao pagamento de contas atrasadas, para sair dos juros altos."

Ele avalia, no entanto, que as altas recente do dólar - hoje na casa dos R$4,10 - ainda devem ser sentidas na inflação dos próximos meses, sobretudo refletindo um futuro aumento dos preços dos combustíveis, mais sensíveis ao câmbio. "Não vai ser nada, no entanto, que nos tire da meta de inflação ou que interrompa o espaço que existe hoje para queda de juros", diz. / COLABOROU DOUGLAS GAVRAS

Estadão
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