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Incerteza reduz apetite pela Cesp e gera dúvidas sobre demanda em leilão

1 out 2018 - 17h36
(atualizado às 18h28)
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Incertezas políticas e regulatórias afastaram alguns investidores com interesse na privatização da estatal paulista Cesp, cujo leilão está agendado para terça-feira, o que tem levado a uma aposta em um evento com pouca disputa, que poderia atrair apenas um lance ou mesmo nenhum, disseram especialistas à Reuters.

Torres de transmissão de energia elétrica em Brasília, Distrito Federal
31/08/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino
Torres de transmissão de energia elétrica em Brasília, Distrito Federal 31/08/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

A elétrica francesa Engie chegou a declarar publicamente que poderia avaliar o leilão, que também atraiu apetite do fundo soberano de Cingapura, GIC, e das gestoras de recursos Pátria Investimentos e Squadra Investimentos, conforme publicado pela Reuters no final de agosto.

Mas as indefinições sobre o vencedor das eleições presidenciais de outubro e sobre as regras do chamado "risco hidrológico" na operação de usinas hídricas reduziram a lista de possíveis compradores da estatal, que opera hidrelétricas com 1,65 gigawatt em capacidade no Estado de São Paulo.

"Ouvimos que tinha uma empresa só olhando com um pouco mais de vontade, a Squadra, mas não sei o apetite... estou vendo muito pouca movimentação em cima desse leilão, imaginávamos um pouquinho mais. É provável que a gente não tenha concorrência", disse à Reuters a diretora da consultoria Thymos Energia, Thaís Prandini.

"Por mais que seja um ativo bastante interessante, não temos visto muitos interessados. Avaliar, muita gente avaliou, porque de fato você tem uma oportunidade. Agora, na hora H, de assinar o cheque...", apontou o diretor-executivo da consultoria Excelência Energética, Erik Rego.

Ele não descartou totalmente a hipótese de um leilão "vazio", sem interessados, mas por outro lado destacou que a venda da Cesp em um momento ainda de elevadas incertezas pode ser uma boa chance para empresas que teriam menores possibilidades de disputar o ativo de igual para igual com grandes elétricas.

"Acho que pode aparecer alguém correndo por fora, eventualmente um player não-tradicional, nessa ideia de que a chance é agora", adicionou.

Uma fonte com conhecimento das conversas sobre o leilão disse que, além dos interessados já divulgados anteriormente, a Votorantim Energia chegou a visitar a Cesp para avaliar os ativos da companhia, enquanto a Engie, apesar do interesse, não chegou a ir até a estatal.

Uma segunda fonte próxima à organização da licitação, que também pediu para não ser identificada, disse ver pelo menos três grupos com capacidade de assumirem o negócio.

"Se vão 'bidar' (apresentar proposta) ou não, é outra coisa... mas há um interesse", afirmou.

O leilão da Cesp, aliás, correu risco de não ser realizado na terça-feira, após a Justiça conceder uma liminar em favor de eletricitários, decisão esta que foi cassada nesta segunda-feira.

Procurada, a Engie disse em nota que "acompanha e avalia todas as oportunidades nos segmentos estratégicos para a companhia". GIC, Pátria, Squadra Investimentos e Votorantim Energia não responderam pedidos de comentário.

ELEIÇÕES E RISCO HÍDRICO

Um dos fatores que afastou empresas potencialmente interessadas na Cesp foi a incerteza sobre a eleição presidencial deste mês no Brasil, ainda mais em um momento em que o governo federal discute uma eventual compensação a operadores de hidrelétricas por custos nos últimos anos com perdas associadas ao chamado "risco hidrológico".

Esses custos surgem quando os donos de usinas hídricas precisam comprar energia no mercado para compensar uma menor produção devido a questões como o baixo nível dos reservatórios.

Um projeto em tramitação no Senado autoriza uma compensação parcial dessas perdas por meio da renovação dos contratos das usinas, mas a matéria também traz mecanismos vistos como importantes para a privatização da distribuidora de energia da Eletrobras no Amazonas, o que tem gerado alguma resistência política à sua aprovação.

"Isso atrapalha a precificação. Não é afastar... mas cada um faz uma conta diferente, e você nisso faz um funil, em que muita gente fica de fora porque não topa, (o risco) não cabe no preço", analisou Erik, da Excelência Energética.

Além disso, a Cesp possui elevados passivos em discussão judicial que poderiam obrigar o novo dono da companhia a desembolsos futuros, alertou o especialista em energia do Demarest Advogados, Pedro Dante.

"O passivo dessas usinas da Cesp não é algo simples... apesar disso, ainda acho o ativo interessante. É uma usina hídrica, já pronta, e hoje em dia você não consegue mais construir hidrelétricas", apontou.

Pelo edital do leilão, eventuais interessados deverão apresentar propostas de preço e aportar garantias pela Cesp na manhã de terça-feira. A sessão pública do leilão acontece no mesmo dia, a partir das 14h.

A companhia será vendida por um bônus de outorga de no mínimo 1,37 bilhão de reais, a ser pago ao governo federal, e de 14,30 reais por cada ação do governo paulista na companhia, o que representa cerca de 1,66 bilhão de reais.

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