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Empresários de lista de encontro de Guedes não foram ao evento

Ministério divulgou relação de 33 'pesos pesados' que teriam participado do evento, mas Estadão apurou que, pelo menos, dez deles não compareceram

8 jul 2021 - 13h44
(atualizado às 20h43)
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BRASÍLIA E SÃO PAULO - Pelo menos dez dos principais empresários 'pesos pesados' não foram ao encontro promovido nesta quinta-feira, 8, em São Paulo, pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, organizado para diminuir as resistências do setor produtivo à proposta do governo de reformulação do Imposto de Renda (IR) para pessoas físicas, empresas e investimentos.

O Estadão apurou que não foram ao evento André Esteves (BTG), Luiza Trajano (Magazine Luiza), David Feffer (Suzano), José Isaac Peres (Multiplan), Josué Gomes (Fiesp), Cândido Pinheiro (Hapvida), Bruno Blatt (Qualicorp), Flávio Rocha (Guararapes), Edgard Corona (Biorritmo) e Fernando Simões (JSL).

O Ministério da Economia divulgou uma lista de 33 empresários como sendo de participantes do almoço às 13h10, com o aviso de que o encontro tinha começado às 13h. Depois de questionado pela reportagem, o ministério informou que divulgará outra lista dos que realmente estiveram presentes.

Da relação que foi divulgada, estiveram presentes, segundo apurou a reportagem, José Berenguer (Banco XP), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), André Freitas (Hedge Investments), Alberto Saraiva (Habib's), José Olympio (de saída do Credit Suisse), Jean Jereissati (Ambev), Washington Cinel (Gocil Segurança), Daniel Goldberg (Faralon), Vander Giordano (vice-presidente institucional da Multiplan) e o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida (BTG).

De acordo com relatos dos presentes, Guedes defendeu que há uma "brecha" neste momento para aprovar a reforma tributária, com ajuda do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). O ministro voltou a defender no discurso que a proposta foi baseada na neutralidade tributária, ou seja, no total, não vai ter aumento da carga tributária.

"A conversa foi surpreendentemente positiva. O ministro disse que o objetivo é de neutralidade, com mecanismos de compensação", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França. "Ficou muito claro que tem preocupação do governo em não desorganizar os vários setores da economia, inclusive o de incorporação".

"Chegamos à reunião muito preocupados e saímos menos", disse o presidente do Secovi-SP, Basílio Jafet. Segundo ele, o setor imobiliário seria muito afetado com a atual proposta da reforma "em todos os seus segmentos". "O ministro nos disse que a reforma precisa ser neutra e que aparentemente a receita errou na dosimetria e que isso precisa ser corrigido para que o objetivo da reforma seja atingido".

Segundo um dos empresários presentes, que preferiu não ser identificado, Guedes falou 80% do tempo e tocou em um ponto essencial: o governo se compromete a refazer os cálculos para reduzir ainda mais a alíquota cobrada de IR sobre as empresas. O ministro chegou a pedir aos empresários que mandassem cálculos do quanto deveria ser a alíquota para garantir a neutralidade de cada setor já que não abre mão da volta da taxação na distribuição de lucros e dividendos.

"Isso não é uma reforma. É um arrocho tributário pensado e gerado por mentes meramente fiscalistas e que vão agravar os processos e o ciclo vicioso que estamos vivendo. Vai forçar mais os contribuintes a pular a cerca. Aí você tira a competitividade da economia", criticou Flávio Rocha, presidente do conselho do Grupo Guararapes, que não esteve no evento.

Guedes busca apoio de todos os setores da economia para convencer o Congresso a cortar até R$ 40 bilhões em subsídios a poucos conglomerados em troca de uma redução de até 10 pontos porcentuais no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) para todas as empresas do País. A proposta original de reforma prevê uma queda de apenas 5 pontos porcentuais no tributo em dois anos.

Na quarta-feira, 7, o setor empresarial se uniu para tentar barrar a tramitação do projeto. Um grupo de mais de 120 entidades do setor empresarial enviou uma carta ao presidente da Câmara, alertando para os impactos negativos da proposta e cobrando alterações no texto.

As associações empresariais - e não apenas as representadas na carta - pedem que o Congresso vote primeiro a reforma administrativa, que mexe nas regras para contratar, promover e demitir os servidores públicos, antes do texto que prevê, entre outros pontos, a volta da taxação na distribuição de lucros e dividendos - a mais polêmica medida incluída no projeto.

A proposta entregue ao Congresso pelo ministro Guedes, no fim do mês passado, fixa em 20% a taxação de lucros e dividendos e extingue os juros sobre capital próprio, uma outra forma de remunerar os acionistas. O texto também prevê reduzir a alíquota do IRPJ para 12% em 2022 e 10% em 2023. Hoje, é de 15% e há cobrança de 10% sobre o lucro que exceder R$ 20 mil, que não seria alterada.

Os empresários não acreditam nos números do ministro de que não haverá aumento da carga tributária. Na carta entregue ontem, eles argumentam que a alíquota total sobre as empresas, de 34% (incluindo o IRPJ mais CSLL) subiria para 43,2%, com a adição da tributação sobre os dividendos. Segundo as entidades, o Brasil já figura entre "os países do mundo que mais tributam o consumo de bens e serviços, o emprego formal e o lucro dos empreendimentos". /COLABORARAM CIRCE BONATELLI E FERNANDA GUIMARÃES

De acordo com o Ministério da Economia, a lista de executivos que teriam participado do encontro é a seguinte:

  • João Camargo - Administrador do grupo de empresários Esfera Brasil
  • Alberto Saraiva - Fundador do Habib's
  • André Esteves - Senior partner do BTG
  • André Freitas - Sócio fundador da Hedge Investments
  • Benjamin Steinbruch - Presidente da CSN
  • Bruno Blatt - Presidente da QUALICORP
  • Candido Pinheiro - Fundador da HAPVIDA
  • Carlos Jereissati - Presidente do Iguatemi
  • Claudio Vale - Fundador da CVPar
  • Daniel Goldberg - Gestor e sócio da Farallon Latin America
  • David Feffer - Presidente da Suzano
  • Edgard Corona - Presidente da Bioritmo
  • Eduardo Diego - Diretor de Administração e Finanças do SEBRAE Nacional
  • Fernando Marques - Presidente da União Química
  • Fernando Simões - Fundador da JSL
  • Flávio Gurgel Rocha - Presidente do Conselho de Administração do Grupo Guararapes
  • Florian Bartunek - Fundador e chefe de investimentos na Constellation
  • Isaac Sidney - Presidente da Febraban
  • Jaimes de Almeida Jr. - Presidente da Almeida Junior
  • Jean Jereissati - Presidente da Ambev
  • José Isaac Peres - Diretor-presidente da Multiplan
  • Josué Gomes da Silva - Presidente da Fiesp e diretor presidente da Coteminas
  • Leopoldo Brugen - Diretor financeiro da Estre Ambiental e do Grupo NC
  • Luiz Carlos Trabuco - Presidente do Conselho de Administração do Bradesco
  • Luiza Helena Trajano - Presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza
  • Mateus Ruiz Santiago - Presidente da Ageo Terminais
  • Orcalino Magalhães - Sócio-administrador do grupo Brasanitas
  • Pedro Kopstein - Sócio-administrador da Kopstein
  • José Berenguer - Presidente do Banco XP AS
  • Rafael Furlanetti - Sócio-diretor institucional da XP Investimentos
  • Renato Kluger - Diretor na Sanca Engenharia
  • Vander Giordano - Vice-presidente institucional da Multiplan Empreendimentos SA
  • Washington Cinel - Presidente e sócio fundador da Gocil Segurança e Serviços
Estadão
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