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Bolsa sobe apesar do recuo de mais de 1% do mercado de Nova York; dólar avança 0,9%

Decisão do banco central dos EUA de adiantar o reajuste dos juros e antecipar a retirada de estímulos afetou o desempenho dos ativos nesta sexta; ganhos de Vale e Eletrobrás ajudaram o Ibovespa

18 jun 2021 - 14h49
(atualizado às 18h18)
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Apesar da forte queda do mercado de Nova York, com os índices caindo mais de 1%, a Bolsa brasileira (B3) conseguiu se firmar no azul e interromper uma sequência de três quedas, ao fechar em alta de 0,27%, aos 128.405,35 pontos, nesta sexta-feira, 18. Ainda assim, o Ibovespa acumulou perda pela segunda semana consecutiva, embora moderada a 0,80%. No câmbio, o dólar foi pressionado pelas preocupações em torno da política monetária dos Estados Unidos e subiu 0,92%, cotado a R$ 5,0687.

"O exercício de opções sempre traz volatilidade, o que se viu desde a manhã, com o novo sinal do Federal Reserve [Fed, o banco central americano] sobre juros e retirada de estímulos", diz Robert Balestrery, sócio-fundador da SWM Investimentos, referindo-se ao presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, que mencionou hoje a opinião de que os estímulos monetários poderiam começar a ser retirados ainda em 2021, com aumento de juros nos Estados Unidos já em 2022.

O fortalecimento de posição no Fed sobre elevação de juros em 2023, na reunião da quarta-feira, havia ligado luz amarela no

mercado global quanto à antecipação do ciclo de alta nos EUA e a força da disparada dos preços da maior economia do mundo. Gustavo Cruz da RB Investimentos diz que o aumento das projeções do Fed para inflação, se esta não ceder até o final deste ano, cria expectativa de que não é transitória. "Enquanto estiver nesta fase de que isso não está tão claro, vai haver muito ruído", diz. A preocupação derrubou o mercado de Nova York hoje, com Dow Jones caindo 1,58% e S&P 500, 1,31%.

"O que realmente importa para o mundo são os juros americanos, e tivemos por lá juros a zero (ou perto disso) por 12, 13 anos. O mercado vai ter que se acomodar a essa nova realidade, em uma retomada econômica global que eleva preços de commodities e produz inflação", diz Balestrery, chamando atenção para a possibilidade do rendimento do título do Tesouro com vencimento para dez anos fechar 2021 a 2%, o que ajudaria a valorizar o dólar e enfraquecer o mercado acionário, opção de investimento menos segura do que a renda fixa americana.

"Hoje, houve abertura de juros nos Estados Unidos, no Brasil e em outras economias, com os comentários do Bullard, sobre inflação mais forte do que o previsto e que o Fed levará mais algumas reuniões para descobrir como reduzir seus estímulos monetários, o que afetou também as Bolsas", diz Thiago Raymon, head de estratégia da Wise Investimentos.

Por outro lado, no Brasil, a aprovação no Senado da MP que dispõe sobre a privatização da Eletrobrás foi um contraponto importante nesta sexta-feira para que o Ibovespa virasse o sinal e encerrasse o dia no positivo. "É a grande privatização do governo Bolsonaro e, mesmo com as 19 emendas, em negociação que se mostrou necessária à aprovação, acaba por prevalecer as ações da empresa, com casas projetando os papéis a R$ 60, R$ 70 com a perspectiva de privatização", observa Balestrery, da SWM.

Ainda que a inclusão de 'jabutis' no texto tenha afetado a percepção do mercado, Eletrobrás PNB fechou em alta de 5,49%, enquanto a ON subiu 5,89%. O desempenho fez com que o Ibovespa saísse de mínima aos 127 mil pontos, para voltar aos 128 mil pontos. No mês, o índice avança 1,73% e, no ano, 7,89%.

O dia também teve boa recuperação para Vale ON, com ganho de 3,01% no final do pregão, terceira maior alta do índice, após a

indicação dada pela empresa sobre dividendos, e para o setor siderúrgico, com CSN ON subindo 2,73%. No lado oposto, destaque para Raia Drogasil, em queda de 3,81%, Santander, de 3,32% e CVC, de 2,89%.

Após os sinais emitidos nesta semana por Federal Reserve e Banco Central de uma orientação mais restritiva para a política monetária, o mercado busca de alguma forma um reequilíbrio, ponderando o horizonte do ajuste em curso nos estímulos e na taxa de juros. "Tivemos hoje alguma correção de exageros, um mercado de volatilidade mesmo", diz Igor Barenboim, sócio da Reach Capital. "A vacinação está avançando agora para a casa de 2 milhões de doses/dia, o que contribui para melhorar a perspectiva."

Câmbio

Após cair 0,68%, a R$ 4,9884 na mínima do dia, o dólar cedeu à maior pressão vista no mercado externo e subiu frente ao real durante toda a tarde. Hoje, o dólar para julho fechou em alta de 1,65%, a R$ 5,0960. Segundo profissionais do mercado de câmbio, depois da última quarta-feira, com as decisões mais duras tomadas pelos bancos centrais dos Estados Unidos e do Brasil, o real enfrenta duas forças contrárias que acabam tirando da moeda local a liderança das maiores perdas se comparada a de pares emergentes.

Se por um lado, a perspectiva de antecipação de aperto monetário pelo Fed faz o dólar se valorizar no globo, por outro, a "porta aberta" deixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para um ajuste de 1 ponto porcentual na Selic atrai recursos ao país e ajuda ao real. Assim, na semana o dólar se desvalorizou 1,05% e, no mês, 2,99%. "Por força do Copom, o comportamento do real está bom a despeito do contexto externo", ressalta Thomas Giubert, sócio da Golden Investimentos.

Giubert ressalta que, com os mercados ainda digerindo o anúncio do Fed, o índice DXY, que mede as variações da moeda americana frente a outras seis divisas relevantes, como euro e libra, saiu da marca dos 90 pontos para 92,2 pontos.

"A expectativa de alta de juros nos Estados Unidos foi a principal responsável pela oscilação do mercado de câmbio nesta semana. Apesar dessa volatilidade, comparado a moedas de emergentes, o real foi a que menos depreciou. O avanço da vacinação aqui e a perspectiva de elevação da Selic seguraram uma alta mais significativa da taxa de câmbio nesses últimos dias", diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest./ LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO

Estadão
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