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Hidrelétrica de Jirau sofre impactos por problemas em linhões de transmissão

15 mai 2018 - 18h21
(atualizado às 19h15)
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A hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, uma das maiores do Brasil, tem sofrido impactos operacionais e financeiros devido a falhas nas enormes linhas de transmissão que levam sua produção do Norte até o Sudeste, segundo um documento da Eletrobras visto pela Reuters e uma fonte ligada ao empreendimento.

Os linhões receberam mais de 6 bilhões de reais em investimentos e possuem mais de dois mil quilômetros de extensão cada, mas um deles teve uma estrutura, o eletrodo de terra, construída no local errado, o que faz o sistema de transmissão como um todo operar com limitações.

A estatal Eletrobras, sócia tanto dos linhões quanto de Jirau, enviou uma carta à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na qual reclama dos impactos que as restrições dos linhões causam sobre a usina, que recebeu aportes de cerca de 20 bilhões de reais e também tem como acionistas a francesa Engie e a japonesa Mitsui.

"Em 2018, a UHE Jirau foi impactada por diversas perturbações sistêmicas originadas no sistema de transmissão... as quais provocaram mais de uma centena de desligamentos automáticos --trips-- de unidades geradoras da usina", apontou no documento o diretor de Transmissão da elétrica, José Antonio Muniz Lopes.

"Esse cenário, de sucessivas perturbações sistêmicas, tem como consequência diversos prejuízos ao empreendimento", acrescentou ele, sobre a usina com cerca de 3,75 gigawatts em capacidade instalada.

Entre os impactos, ele listou desgastes precoces em componentes das unidades geradoras e deformações em uma estrutura da usina que serve para evitar que troncos de árvores que correm pelas águas do rio Madeira prejudiquem suas máquinas.

No documento, Muniz, que já foi presidente da Eletrobras, afirmou que uma das consequências dos problemas nas linhas foi uma rejeição da carga da usina, que mudou o sentido do fluxo da água do rio e forçou a estrutura que segurava os troncos, o chamado "log boom", que acabou rompendo em janeiro.

O rio Madeira tem esse nome justamente por conta dos troncos levados por sua forte correnteza durante a época de cheia, e segundo a carta da Eletrobras o rompimento do "log boom" após problemas no sistema de transmissão gerou um acúmulo de madeira que prejudicou a geração da usina, com "significativo impacto financeiro" para Jirau.

Segundo uma fonte próxima ao empreendimento no rio Madeira, os problemas devem continuar até que seja resolvida a questão do eletrodo de terra em um dos linhões.

"O sistema continua tendo alguns problemas, e esses 'trips' (desligamentos) continuam acontecendo por essa falha de confiabilidade em um dos linhões, por conta dos problemas do eletrodo de terra", afirmou a fonte, que falou sob anonimato porque não tem autorização para conversar com a imprensa.

A Energia Sustentável do Brasil (ESBR), que reúne os sócios de Jirau, disse que não iria comentar o assunto.

A Eletrobras também não quis comentar.

PROBLEMAS NA TRANSMISSÃO

Para o pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), Roberto Brandão, a questão do eletrodo é um "problema construtivo" que impacta as usinas principalmente na época de fortes chuvas na região do rio Madeira, entre dezembro e maio.

"Isso está limitando as usinas em uma época como agora, em que você tem muita água. Limita a exportação de energia pelas usinas do Madeira (para o Sudeste), mesmo elas já estando a plena capacidade", afirmou.

O linhão de transmissão que enfrenta o problema com o eletrodo foi construído pela IEMadeira, uma sociedade entre a Cteep, majoritária, e a Eletrobras.

"A solução da referida restrição se dará com a construção de um novo eletrodo de terra no terminal de Rondônia, previsto para o quarto trimestre de 2018, desde que sejam liberadas as licenças ambientais para sua implantação", afirmou a IEMadeira em nota após questionamentos da Reuters.

A empresa disse que "os desligamentos citados... vêm ocorrendo, na maioria das vezes, devido a falhas na linha de transmissão do bipolo 2, que pertence a outro agente de transmissão".

O segundo linhão pertence à Norte Brasil Transmissora (NBTE), sociedade entre a espanhola Abengoa e a Eletronorte, da Eletrobras.

Mas a própria IEMadeira admite que "por conta da restrição operativa do eletrodo de terra da IEMadeira" o segundo linhão tem operado com o chamado "trip cruzado", um esquema de operação em que a estrutura é bloqueada em casos de falha em qualquer um dos linhões.

Procurada, a Norte Brasil não respondeu a pedidos de comentário.

A IEMadeira tem visto um desconto de 10 por cento em sua receita referente às estações conversoras do linhão devido ao problema com o eletrodo de terra, que é considerado uma "pendência não impeditiva" para a operação do empreendimento. A receita será restabelecida quando a estrutura estiver corretamente implementada.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não quis comentar o assunto.

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