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Guerra comercial afeta exportações e OMC revê para baixo a expansão do comércio

América do Sul terá expansão de vendas abaixo da média mundial

27 set 2018 - 07h44
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GENEBRA - A Organização Mundial do Comércio revê para baixo o crescimento das exportações em 2018, diante de um cenário de tensão e de escala tarifária. A guerra comercial entre EUA e China já atingiu bilhões de dolares, com efeitos para além dos dois países.

A projeção há cinco meses era de uma expansão do comércio mundial de 4,4%. Para 2019, o crescimento seria de 4%. Em 2017, a expansão em volume foi de 4,7% e em valores chegou a 10,7%, o melhor desde 2011 e atingindo US$ 17 trilhões. Nada disso, porém, previa a proliferação de medidas protecionistas.

Agora, a projeção é de que o comércio em 2018 terá uma expansão de 3,9%, com um impacto ainda maior em 2019, quando os efeitos das novas barreiras começarão a ser sentidos em diversos mercados. No ano que vem, a taxa de expansão não deve passar de 3,7%.

Na avaliação da OMC, o impacto direto na economia das barreiras adotadas por enquanto são modestos. Mas é a incerteza que amplia sua repercussão, levando investidores a adiar projetos de produção.

Políticas monetárias em países desenvolvidos também tem afetado os emergentes, criando volatilidade para suas moedas.

"Ainda que o comércio continue forte, essa revisão para baixo reflete o aumento da tensão que estamos vendo entre grandes parceiros comerciais", disse o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo. "Mais do que nunca, é fundamental que governos trabalhem suas diferenças", pediu.

Na América do Sul, as projeções para 2018 apontam para uma expansão do comércio abaixo da média mundial, de 2,8%. Em 2019, ela será de apenas 2,6%.

Do lado das importações, o continente deve registrar um aumento de apenas 3,6% em 2018 e 4% em 2019.

Nesta semana, Azevedo estimou que a escalada tarifária entre as maiores economias do mundo poderia retirar 17% do crescimento do comércio mundial e 1,9% do crescimento do PIB.

"O cenário de uma guerra comercial completa, com o rompimento da cooperação do comércio internacional teria um efeito dramático", disse Azevedo, num evento que contou ainda com a participação da chanceler Angela Merkel. "Ele retiraria cerca de 17% do crescimento do comércio global e 1,9% do crescimento do PIB", disse.

"Não existiriam vencedores em tal cenário. Todas as regiões seriam afetados e, na Europa, o golpe ao PIB seria de cerca de 1,7%", disse. "Claramente não podemos deixar isso ocorrer", completou. Azevedo não deu detalhes de qual seria a base do cálculo e nem os valores absolutos.

Ele voltou a alertar que a tensão tem aumentado rapidamente nos últimos meses. "Novas tarifas até agora cobrem centenas de bilhões de dolares em comércio e novas medidas foram propostas. Atualmente, não há um fim a vista", alertou.

Azevedo questionou aqueles que tentam minimizar o impacto da crise, alertando que as medidas por enquanto afetam apenas 2,5% do comércio mundial e que a expansão da economia mundial tem sido relativamente positiva.

"Claro, isso tudo é verdade. Mas, ao mesmo tempo, sinais de alerta estão sendo emitidos", disse. "Uma continuação na escala da tensão colocaria uma ameaça à estabilidade, aos empregos e ao tipo de crescimento que vemos hoje", disse.

Segundo ele, há uma discrepância entre o momento de implementação de barreiras e seus efeitos na economia real. "Mas talvez já estejamos vendo alguns dos efeitos iniciais", alertou. "Indicadores apontam que empresários estão segurando investimentos que criariam empregos. Demandas de exportação estão em queda", disse.

Estadão
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