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Guedes diz que só sai do governo se alguém mostrar que ele está fazendo 'algo muito errado'

'Se fizer errado, Brasil vira Argentina em seis meses e Venezuela em um ano e meio', disse o ministro, que participou de podcast de youtuber

2 mar 2021 - 10h01
(atualizado às 17h25)
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BRASÍLIA - Depois de o presidente Jair Bolsonaro determinar a troca do presidente da Petrobrás, o que abriu questionamentos sobre a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo, o ministro disse que só vai embora se alguém mostrar "que estou fazendo algo muito errado".

"Tenho noção de compromisso enquanto puder ser útil e gozar da confiança do presidente. Se o presidente não confiar em meu trabalho, sou demissível em 30 segundos. Se eu estiver conseguindo ajudar o Brasil, fazendo as coisas que acredito, devo continuar. Ofensa não me tira daqui, nem o medo, o combate, o vento, a chuva", afirmou.

Guedes gravou na última sexta-feira, 26, podcast com o youtuber Thiago Nigro, do canal Primo Rico, que foi ao ar no início da manhã desta terça-feira, 2. Ele disse ter uma missão e se sentir responsável por esse desafio. "Consigo ter uma comunicação boa com o presidente de um lado e com a centro-direita de outro. O que me tira daqui é a perda da confiança do presidente e ir para o caminho errado. Se tiver que empurrar o Brasil para o caminho errado, prefiro sair. Isso não aconteceu, tenho recebido apoio do presidente e do Congresso para ir na direção certa", assegurou.

O ministro está apostando suas fichas na aprovação pelos parlamentares da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza o pagamento de uma nova rodada do auxílio emergencial e, ao mesmo tempo, cria uma espécie de "protocolo" de crise para o futuro, com acionamento de medidas de contenção de gastos automaticamente.

O ministro aproveitou o programa para fazer um longo desabafo sobre seus problemas no governo. "Piratas privados estão colocando boato no jornal todo dia, dizendo que o ministro vai cair, ministro brigou com presidente, presidente brigou com o ministro. Tem políticos que querem contribuir com o futuro do Brasil, mas tem um pedaço que é o pântano", afirmou.

Guedes contemporizou dizendo que os políticos podem "brigar entre si", mas que ele não pode brigar com ninguém. "A maioria esmagadora do Congresso é reformista, mas tem meia dúzia por cento que está com maus desígnios", completou. "Há pedra no caminho de vez em quando, mas cai, levanta de novo. O saldo é vastamente positivo, estamos conseguindo andar."

Em uma versão "paz e amor", Guedes disse que está se tornando "um ser humano melhor" e que não pode "pensar só nos números". "A confusão está tão grande que estou sendo obrigado a ficar mais sereno. Só vou conseguir entregar o produto se ficar calmo. Está todo mundo nervoso demais, eu que sou nervoso, tenho que ficar calmo", completou.

'Se fizer errado, vira Argentina em seis meses e Venezuela em um ano e meio'

O ministro falou ainda de "narrativas idiotas" que o colocam como uma pessoa que quer reduzir gastos com saúde e educação. O relatório da PEC do senador Marcio Bittar (MDB-CE) previa originalmente o fim dos dois pisos. No texto da PEC que o governo enviou ao Congresso, em novembro de 2019, estava proposta a fusão dos dois mínimos para que o gestor gastasse da forma como quisesse.

"Quem é o idiota que seria contra a saúde? Como posso ser contra educação se sou produto da educação? São narrativas idiotas, despreparadas, odientas".

Guedes disse que o pagamento do auxílio emergencial sem contrapartidas fiscais seria "caótico para o Brasil". "Isso teria um efeito muito ruim para o Brasil. É o que aprendemos ano passado, não podemos repetir", afirmou. O ministro lembrou que, em 2020, como contrapartida à ajuda federal para Estados e municípios, o Congresso aprovou o congelamento dos salários dos servidores públicos por dois anos, o que rendeu uma economia de R$ 150 bilhões.

"Tentar empurrar o custo para outras gerações, juros começam a subir, acaba o crescimento econômico, endividamento em bola de neve, confiança de investidores desaparece. É o caminho da miséria, da Venezuela, da Argentina".

"Se fizer errado, Brasil vira Argentina em seis meses e Venezuela em um ano e meio. Estou exagerando, leva uns três anos para virar a Argentina e uns cinco ou seis para virar a Venezuela. Mas para virar Alemanha e Estados Unidos, é dez, quinze anos em outra direção", completou.

O ministro afirmou estar perdendo "perdendo bastante dinheiro" estando no governo e disse ter entrado no governo "meio inadvertidamente". "O presidente tem ótimas intenções, responsabilidade e compromisso com o País. Parti da ideia de que vindo para cá teria apoio do presidente para fazer mudanças. O presidente também quer mudanças, isso nos aproximou", completou.

Guedes disse ainda que nunca pensou que seria o ministro que mais aumentaria gastos públicos no Brasil. Isso, de fato, aconteceu em 2020 por causa das despesas relacionadas ao combate da covid-19. "O destino me tornou pessoa que gastou muito, mas gastei com consciência tranquila porque sei que era compromisso com a saúde dos brasileiros e com a recuperação econômica."

Estadão
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