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Guedes diz que economistas fazem 'rolagem da desgraça' ao revisarem projeções do PIB para 2022

Declaração vem após instituições como Itaú, Banco BV e XP revisarem, para baixo, as previsões do PIB do Brasil para o ano que vem, com algumas prevendo crescimento menor que 1%

14 set 2021 - 19h04
(atualizado às 19h38)
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BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse hoje que há "uma rolagem de desgraça" no Brasil, ao referir-se ao pessimismo de economistas e outros agentes em relação às medidas do governo. Em 2021, com o crescimento esperado acima de 5%, porém, "a desgraça foi rolada para o ano que vem", afirmou o ministro.

Hoje, economistas do Itaú Unibanco, do Banco BV e da XP, entre outros, revisaram, para baixo, as projeções de crescimento da economia em 2022, quando o presidente Jair Bolsonaro tentará a reeleição. Algumas instituições passaram a esperar PIB menor que 1% no ano que vem.

Guedes disse que, não fosse o que ele chama de "barulho político", o câmbio de equilíbrio no Brasil estaria hoje entre R$ 3,80 e R$ 4,20 -- a moeda americana fechou hoje em R$ 5,2573. "Esse dólar já era para estar descendo, mas barulho político não deixa descer. Não tem problema [dólar mais alto], mais tempo para exportações. O importante é continuar fazendo tudo certo", afirmou, em evento promovido pelo BTG Pactual.

Ele voltou a repetir que o Brasil voltou a crescer "em V", mas admitiu que isso não significa que a taxa de crescimento continuará alta. "Esse é outro desafio", completou. Para o ministro, o País perdeu muito tempo em relação à recuperação da economia primeiro porque não tinha base parlamentar e, segundo, por conta da pandemia do coronavírus. "O Brasil está em ritmo de crescimento interessante. O setor privado está investindo em todas as direções", afirmou.

Guedes voltou a falar também que os atores políticos "cometem excessos", mas são limitados pelas instituições brasileiras. " Toda hora tem um no Brasil que pula da cerca para o lado selvagem, mas instituições convidam para voltar para o lado certo. São robustas", completou.

Segundo o próprio Guedes, apesar de seu temperamento "agitado", ele hoje é uma "força moderadora" no ambiente quente da política brasileira. "Nunca pensei que eu seria um sujeito moderado, sou hoje uma força moderadora", afirmou.

O ministro voltou a defender o presidente Jair Bolsonaro dizendo que ele tem apoio popular e "não cruzou a linha". "Faltam 10 meses para eleição, vamos inventar o que?", questionou. "Todo dia chamam o presidente de genocida, ele não mandou prender ninguém. Tem gente mandando prender", disse, em uma indireta ao Supremo Tribunal Federal, que prendeu apoiadores do presidente Jair Bolsonaro investigados no inquérito das Fake News.

Apesar disso do ambiente político, o ministro afirmou que o governo está "fazendo dever de casa" em acordo com os fundamentos da economia. Ele ainda criticou economistas que afirmaram que o "meteoro" dos precatórios (dívidas judiciais), estimados em R$ 89,1 bilhões para 2022, era previsível. Como mostrou o Estadão/Broadcast, a própria Advocacia-Geral da União (AGU) emitiu alertas desde o ano passado para o risco de elevação dos débitos.

"É brincadeira, né. Faltavam dez dias para fechar janela (para expedição dos precatórios), (STF deu) R$ 10 bilhões para Bahia, R$ 4 bilhões para Ceará, R$ 2 bilhões para Pernambuco. Foi dinheiro para governadores do Nordeste de oposição nos últimos dez dias da janela", disse Guedes.

O ministro disse ainda que o teto de gastos, regra que limita o avanço das despesas à inflação, é uma bandeira importante para o governo. "Está toda furada lá na guerra, mas é o que segura (despesas)", disse.

Guedes também voltou a defender o Conselho Fiscal da República, medida proposta por ele para reunir chefes de poderes em decisões estratégicas do ponto de vista fiscal, como declaração de emergência (quando as contas estão com comprometimento elevado em despesas obrigatórias).

"Quando vejo ritual do Copom, reúne todo mundo... antigamente o negócio era mais emocionante, juro era 70%, se caísse para 50%, se subisse para 73%... hoje tem um saltinho um pouco maior que 1%", disse o ministro, emendando comparações com a institucionalidade do Copom. "Eu gostaria que houvesse ritual fiscal como nós temos ritual monetário", afirmou o ministro. "Não quero saber se vocês gostam um do outro, tem que se reunir, apertar o botão e fazer o que tem que ser feito", acrescentou.

Estados

Guedes também disse que a melhora no resultado dos Estados, ajudada pelo congelamento de salários aprovado no ano passado, poderia ser ainda maior se os governadores estivessem ajudando em vez de "jogar pedras". Durante evento do BTG Pactual, o ministro também afirmou que, com a melhora, "está todo mundo assanhado" pegando empréstimo e citou a possibilidade de revisar a metodologia de concessão de avais para novos créditos, mas, em seguida, disse que a medida não seria tomada porque o governo é "republicano".

"Todos os Estados melhoraram o ranking, está todo mundo agora assanhado, pegando empréstimo", disse Guedes. Em resposta, o economista-chefe do BTG, Mansueto Almeida, disse que a previsão para o ano é um superávit de R$ 55 bilhões para os Estados e municípios. "Isso que eles estão jogando pedra na gente. Se estivessem ajudando era mais fácil. Jogando pedra na gente deu para fazer só isso", reagiu Guedes.

Em seguida, Mansueto mencionou que há uma expectativa de que, ao fim do ano, 20 Estados estejam com notas de crédito A ou B, ou seja, aptos a obter aval da União na concessão de créditos.

"Agora, nós podemos fazer uma correção na metodologia. Nós podemos dizer, olha, agora (é) tirando o dinheiro que foi transferência para Estados e municípios, para saúde. A gente então muda o critério de ranking. Porque pô, não dá, eu te dou o dinheiro, aí você joga uma pedra em mim e diz que vem pedir mais empréstimo... Opa, peraí, então tira o dinheiro que eu te dei e vamos ver qual funciona. Mas não vamos fazer essa maldade, nós somos republicanos", afirmou Guedes.

O ministro defendeu as medidas de congelamento de salários devido à economia obtida. "Demos R$ 150 bilhões com a mão esquerda e tiramos R$ 150 bilhões com a mão direita", afirmou.

Estadão
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