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Greve afeta indústria, que tem pior mês da história em maio

Queda da produção industrial no mês passado foi de 13,4%, segundo estimativa do Ipea

27 jun 2018 - 04h03
(atualizado às 11h29)
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A greve dos caminhoneiros que parou o País por 11 dias em maio fez a indústria brasileira registrar o pior desempenho de sua história. A produção industrial despencou 13,4% no mês passado na comparação com abril, o que representa um impacto maior que o da crise financeira global, de 2008, quando a queda, em um único mês, foi de 11,2%.

A estimativa referente a maio é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e será divulgada nesta quarta-feira, 26. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. Se a projeção for confirmada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no próximo dia 4 de julho, o parque fabril terá amargado o pior desempenho dentro da série histórica iniciada em 2002, já desconsideradas as influências sazonais. Os segmentos mais afetados foram os de automóveis e alimentos.

A produção industrial despencou 13,4% em maio na comparação com abril, o que representa um impacto maior que o da crise financeira global, de 2008, quando a queda, em um único mês, foi de 11,2%
A produção industrial despencou 13,4% em maio na comparação com abril, o que representa um impacto maior que o da crise financeira global, de 2008, quando a queda, em um único mês, foi de 11,2%
Foto: Rafael Neddermeyer / Reuters

"É uma estimativa ainda bastante conservadora, porque a retomada e o escoamento da produção demoraram um tempo depois do fim da greve", diz Julia Nicolau, consultora de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). "Houve caso de um fabricante de massa que interrompeu a produção porque não recebeu farinha. Um produtor de leite teve de jogar fora litros do produto porque venceu a data da validade." Um levantamento da federação nos dias mais críticos da greve aponta que seis em cada dez indústrias fluminenses pararam ou reduziram as atividades durante a paralisação.

Os cálculos do Ipea mostram que a greve derrubou a atividade econômica como um todo em maio, interrompendo o processo de retomada. O instituto estima que, além da indústria, as vendas do comércio varejista tenham recuado 1,4% na passagem de abril para maio, sob influência da crise de desabastecimento causada pela paralisação. A expectativa é que as perdas generalizadas prejudiquem os dados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre, embora alguns setores tenham apresentado desempenho bastante positivo em abril. "A dúvida é até que ponto o mês de junho vai conseguir recuperar o que foi perdido em maio", diz Leonardo Mello de Carvalho, técnico do Ipea responsável pelo estudo.

Segundo ele, o aumento das incertezas no cenário externo e interno também devem prejudicar o desempenho dos investimentos no ano. "Se a expectativa ficou um pouco mais nebulosa, mais incerta, a intenção de investimento fica menor", justificou o técnico do Ipea.

Na Alumbra, fabricante de materiais elétricos como interruptores e tomadas, instalada em São Bernardo do Campo (SP), a greve dos caminhoneiros jogou para baixo a projeção de vendas no ano. Em maio, a produção ficou 15% abaixo do planejado inicialmente, segundo o diretor de tecnologia da empresa, Cláudio Barberini Jr. A fábrica reduziu o ritmo de produção porque teve dificuldade de escoar seus produtos. "Eu tinha matéria-prima, tinha produto, mas não tive como escoar", afirmou. A empresa usou a frota própria de seis caminhões para fazer entregas nas proximidades. Os clientes mais distantes ficaram sem o produto. / COLABOROU VINICIUS NEDER

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