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Governo admite que temor de greve de caminhoneiros levou a interferência na Petrobras

12 abr 2019 - 12h36
(atualizado às 12h57)
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O governo brasileiro admitiu que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de interferir na véspera na política de preços da Petrobras se baseou nos riscos de uma nova greve dos caminhoneiros, como revelaram em entrevistas na manhã desta sexta-feira o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Presidente Jair Bolsonaro conversa com ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante cerimônia no Palácio do Planalto
25/03/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente Jair Bolsonaro conversa com ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante cerimônia no Palácio do Planalto 25/03/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Em entrevista à rádio CBN, o vice-presidente informou que o governo vem recebendo informações sobre o risco de uma nova greve, como a que paralisou o país no primeiro semestre de 2018, e mesmo que não tenha uma confirmação de uma nova paralisação, é preciso tratar o tema com cuidado.

"Eu julgo que ele optou pelo bom senso nesse presente momento e vai buscar aí uma outra linha de ação. Mas também tenho a absoluta certeza que ele não vai praticar a mesma política da ex-presidente Dilma Rousseff no tocante aí à intervenção em preços do combustível e da energia", defendeu o vice-presidente.

Mourão avaliou ainda que a interferência direta do presidente na política de preços da Petrobras é um "fato isolado" pelo momento que se está vivendo.

"Eu tenho visto alguns dados que tem me chegado da pressão do lado dos caminheiros. Acredito que o presidente está buscando a melhor solução para equacionar o problema", disse.

De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, o presidente ligou na noite de quinta-feira diretamente para o presidente da estatal, Roberto Castelo Branco, e pediu que o aumento fosse reduzido dos planejados 5,7 por cento para 1 por cento. A estatal então preferiu cancelar o aumento.

Nesta sexta, as ações da Petrobras abriram em queda acentuada e operavam em baixa superior 5 por cento no meio do dia, com o temor do mercado de que o governo volte a controlar os preços de combustíveis, como ocorria no passado.

Em entrevista à rádio Bandeirantes, Onyx garantiu que não é o caso e se ofendeu quando a interferência do presidente na estatal foi comparada à política de preços do governo de Dilma Rousseff, que teria causado prejuízos à empresa.

"No governo Dilma roubaram mesmo, é diferente. Esse é um governo sério, o nosso não rouba. Não é por causa da inflação, a Dilma roubou, junto com o governo Lula...", respondeu irritado ao ser lembrado que a política de controle de preços da ex-presidente era para evitar o impacto do aumento dos combustíveis na inflação.

Onyx admitiu que a decisão de agora foi para evitar uma crise maior com os caminhoneiros. De acordo com o ministro, o Brasil tem um problema sério de concentração de transporte de cargas no modal rodoviário, e os caminhoneiros são pressionados de um lado pelo monopólio da Petrobras e de outro, pelos oligopólios das grandes empresas.

"Temos uma série de problemas na operação, principalmente no dos caminhoneiros autônomos. Um deles é o diesel, que ainda não foi adequadamente equacionado", afirmou. "A gente precisa de tempo para enfrentar a questão do monopólio da Petrobras, do oligopólio do varejo. Tem muitos anos para desfazer e 100 dias é muito pouco."

A distribuição de combustíveis é controlada por poucas empresas, incluindo a BR Distribuidora, da própria Petrobras. Mas o setor argumenta, quando acusado de se beneficiar de oligopólio, que a rede de postos tem mais de 40 mil unidades, e que a concorrência é acirrada

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