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Francesa Total investe R$ 15 milhões em estudo com a PUC-Rio para reduzir emissões de navios

Tecnologia semelhante à usada em carros híbridos deve reduzir o consumo de combustível fóssil nas embarcações da indústria de óleo e gás e diminuir pela metade a emissão de gases poluentes

24 jun 2020 - 16h11
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RIO — A francesa Total está investindo R$ 15 milhões em uma parceria com o Centro de Desenvolvimento em Energia e Veículos (CDEV) da PUC-Rio para desenvolver tecnologia inédita no Brasil, para reduzir o consumo do combustível fóssil nas embarcações da indústria de óleo e gás. A previsão é que as emissões de gases poluentes durante a operação caiam pela metade, como metano e óxidos de nitrogênio emitidos no processo de combustão.

Nova também no resto do mundo, a tecnologia se assemelha à usada em carros híbridos, explica o coordenador da pesquisa e diretor do CDEV, Sérgio Braga. A bateria instalada no navio é carregada durante o funcionamento do motor à combustão, otimizando o consumo de energia da embarcação quando estiver parada nos portos ou no local da produção realizando tarefas.

As baterias também têm a vantagem de absorver as grandes variações instantâneas de carga, permitindo que os geradores operem em regime mais estável, e ainda apresentam tempo de resposta bem menor do que os motores convencionais, o que aumenta o controle da embarcação.

O navio escolhido para a instalação do novo modelo foi um barco do tipo PSV classe 4500 afretado pela Total da Siem para o campo de Lapa, no pré-sal da bacia de Santos, onde a empresa é operadora com 35% e tem como parceiros a Shell (30%), Repsol-Sinopec (25%) e Petrobrás (10%).

Na embarcação será instalado um banco de baterias em paralelo aos grupos de geradores a diesel, de modo a alternar a utilização de diesel e de bateria para geração de energia elétrica. A escolha se deveu às várias atividades que o navio de apoio realiza, como o carregamento em portos, posicionamento dinâmico e lançamento de equipamento de trabalhos submarinos.

O consumo de energia de um navio desse porte, segundo Braga, é equivalente a uma usina de 7 Megawatts (MW), superando em muito o consumo de uma universidade como a PUC, onde circulam diariamente 30 mil pessoas e existem centenas de aparelhos de ar condicionado, computadores, iluminação, elevadores etc, e que consome 5 MW. Para gerar a energia, são consumidos 5 mil litros de diesel por dia.

O projeto tem três fases. Na primeira, iniciada em 1º de janeiro deste ano, será medida a ineficiência dos processos para avaliar o tamanho do banco de baterias e a potência que será necessária, além de definir estratégia e parceiros.

"Vamos descobrir onde está a ineficiência dos processos e isso depende de como o barco opera. Se ele fica parado no posicionamento dinâmico e vem uma onda ou uma rajada de vento, os motores são altamente usados, consome muita energia. Nessa hora a gente vai ver o tamanho da bateria que seria necessária", disse Braga.

Na fase dois, será elaborado o projeto básico e contratada empresa para o projeto detalhado. Um estaleiro será escolhido para fazer a conversão. "A expectativa é de que, no final de 2021, o navio já esteja convertido para a gente passar para a fase três, que será o monitoramento do funcionamento da bateria para medir a eficiência", explica.

A bateria será adquirida de um fornecedor ainda a ser escolhido e terá a certificação da DNV-GL, que está acompanhando o projeto e é responsável pela certificação do navio. "Como a DNV está acompanhando todo o projeto de perto, acredito que vai ser fácil a certificação", informou o coordenador da pesquisa.

Braga pretende que o projeto seja o primeiro de muitos realizados em estaleiros brasileiros, e para isso poderá ser formada uma startup que dominará o processo para ser levado a outros navios do setor.

"Daqui a dois anos, a gente talvez tenha uma empresa formada para fazer futuras conversões e passar a ser um serviço, e não apenas um projeto de pesquisa. O grande objetivo desse projeto é o desenvolvimento da tecnologia nacional e desenvolvimento de fornecedores locais, e ter uma produção de petróleo mais limpa, mais eficiente", disse.

Estadão
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