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Fabio Coelho, do Google: 'Não podemos ser punidos por termos serviços de alta qualidade'

Executivo diz que possíveis medidas para reduzir o tamanho das grandes empresas de tecnologia podem piorar o ambiente de negócios e aumentar os custos das ferramentas de internet

21 jul 2021 - 22h01
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Possíveis medidas para reduzir o tamanho das grandes empresas de tecnologia podem piorar o ambiente de negócios digitais e aumentar os custos das ferramentas de internet. A avaliação é de Fabio Coelho, presidente do Google no Brasil. Embora não responda sobre os impactos que uma "quebra" das chamadas "big techs" teria sobre a companhia, ele defende, é claro, que as empresas não podem ser punidas por seu tamanho ou pela qualidade de seus produtos. "As fronteiras do entendimento de concorrência ficaram muito fluidas. A definição de ambiente competitivo não é clara", diz ele.

Trata-se de uma discussão bilionária. Em 2020, de acordo com cálculos do Google, as plataformas da companhia movimentaram R$ 67 bilhões na economia brasileira, salto de 30% causado pela pandemia. O dado não se refere à receita da empresa no País, guardada a sete chaves pela Alphabet, dona do Google. O número é uma estimativa - segundo o Google, conservadora - do retorno financeiro que os investimentos em seus produtos de publicidade e busca geram para as empresas que pagam por eles. Em todo o ano passado, a receita global da Alphabet foi de US$ 182,5 bilhões. Do total, 92% vieram dos serviços do Google, excluído o de computação em nuvem. Confira os principais trechos da entrevista.

O que puxou o crescimento na movimentação econômica do Google?

Somos sempre muito conservadores para fazer esse cálculo. É o reconhecimento não só de todas as atividades do Google, mas também da capacidade de adaptação dos brasileiros, entendendo que a audiência ou o mercado consumidor deles tinha que estar online.

Nessa mudança de padrões de consumo, o que surpreendeu?

Esperávamos que acontecesse o que aconteceu: o varejo brasileiro teve agilidade. De uma hora para outra, as empresas começaram a ter prateleiras maiores de e-commerce. O que nos surpreendeu foi a capacidade de todo empresário e empreendedor brasileiro fazer esse ajuste. Uma coisa é uma empresa grande, outra mais difícil é um negócio pequeno, que não estava em São Paulo, fazer isso, mas eles conseguiram se conectar com seus públicos. Há três anos, se dissessem que o Fasano (restaurante de alta gastronomia em São Paulo) iria entregar em casa, as pessoas não acreditariam.

Há uma forte crítica, principalmente no exterior, ao modelo de plataformas como o Google. Essas empresas estariam com poder excessivo diante dos usuários, graças à junção de ferramentas, cujo uso a pandemia intensificou. Como o Google responde a essa crítica?

Ainda bem que podemos usar as plataformas. Se a pandemia tivesse ocorrido há 40 anos, teríamos um problema mais dramático. Não se pode ser punido por ter um serviço de alta qualidade. Temos outros buscadores disponíveis, outras plataformas de vídeo e quantidade enorme de participantes fazendo streaming. A multiplicidade e a democratização do acesso geram mais condições de concorrência. Estamos em um mercado com uma atividade febril, e as empresas começam a montar sistemas operacionais. Está no DNA de uma empresa de tecnologia a escalabilidade, construir soluções para milhões de pessoas a custo baixo ou gratuitamente. Esse grande charme não é entendido. Em uma plataforma como o YouTube, metade do faturamento vai para os criadores de conteúdo. Todas as nossas soluções têm modelos concorrentes.

Parte do questionamento é sobre se seria ou não o momento de dividir as empresas ou colocar freios. O Google vê isso como um problema?

É necessário avaliar o ambiente competitivo. Competimos em tantas áreas que as fronteiras do entendimento de concorrência ficaram muito fluidas. A definição de ambiente competitivo não é clara. Há um deslocamento de audiência para o mundo digital e qualquer medida pode levar ao enfraquecimento do ambiente de negócios e ao aumento de custo. Hoje, temos soluções gratuitas, e isso é amplamente saudável, porque promove a democratização da capacidade de trabalhar, estudar, se informar e se divertir para milhões de pessoas. Não podemos esquecer que estamos em um ambiente competitivo global.

Algumas tendências de consumo se repetiram, durante a pandemia, em diferentes mercados. No Brasil, houve algo diferente?

Houve duas coisas parecidas com tintas locais. Tivemos um movimento muito forte de varejo e de finanças, e tem a ver com a inclusão financeira. A combinação do e-commerce em um país continental com o Pix ou uso de aplicativo foi bem, porque o Brasil tem escala. Nos Estados Unidos, já há uma retomada, porque o vírus está mais controlado e tem mais gente vacinada. Lá, como a pandemia foi mais curta, observamos que algumas categorias voltaram mais rápido, como o turismo. No Brasil, os voos domésticos não voltaram a ser o que eram, o consumo de automóveis também foi afetado. Nossa crise foi mais prolongada, e vai ser ainda, por um tempo.

Há uma discussão sobre o crescimento, após a pandemia, de negócios que deram um salto durante a crise. Já existe uma desaceleração?

Esperamos uma reacomodação porque as pessoas querem voltar a sair de casa, mas isso não significa que o digital vai deixar de crescer. O crescimento da economia digital para as empresas brasileiras é pautado em uma jornada consistente, elas não jogaram dinheiro fora.

O Google vai adotar um modelo de trabalho híbrido?

Temos uma definição de três dias no escritório e dois em casa, que vamos colocar em prática quando for possível.

Esse momento será quando houver uma parcela relevante da população totalmente vacinada?

Ainda não temos data, mas acompanhamos um cronograma mundial, com vários indicadores. É uma grande conquista para a sociedade poder trabalhar de qualquer lugar. No Google, mundialmente, as pessoas poderão trabalhar por quatro semanas de outros lugares.

Estadão
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