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Ex-presidente da Eletrobras prevê resistência de políticos à desestatização da empresa

22 ago 2017 - 17h15
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Ex-presidente da Eletrobras nos anos 90 e ex-chefe do Conselho de Administração da companhia em duas gestões, a última dela encerrada mais cedo neste ano, o engenheiro civil José Luiz Alquéres elogiou a intenção do governo de vender o controle da empresa, mas previu resistência política ao movimento.

Ele lembrou que o presidente Fernando Henrique Cardoso não conseguiu vencer uma queda de braço com bancadas do Nordeste e de Minas Gerais no Congresso Nacional nos anos 90, quando políticos se colocaram fortemente contra a venda de subsidiárias da companhia como Furnas e Chesf, o que travou a intenção de vender gradualmente os ativos da elétrica.

"A resistência é muito grande no Congresso... a mais complicada, no Brasil, é a resistência, vamos chamar assim, fisiológica. Porque essas empresas têm suas diretorias loteadas por deputados, senadores, tudo mais", disse Alquéres a jornalistas nesta terça-feira, nos bastidores de evento do setor em São Paulo.

Ele defendeu a proposta de desestatizar a Eletrobras, mas ao mesmo tempo alertou que é preciso avaliar com cuidado o modelo do negócio, sugerindo uma negociação das subsidiárias da estatal em separado e a manutenção de uma delas como estatal, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), que atua no Nordeste.

Essa seria uma forma de arrecadar mais, e no caso da Chesf a responsabilidade da companhia de gerir os múltiplos usos da água no rio São Francisco é vista como uma atribuição com viés estatal que poderia dificultar uma venda.

Representantes do governo disseram nesta terça-feira que o modo como se dará a venda do controle da companhia é uma decisão que ainda não foi fechada.

"Basicamente, o governo expôs muito mais uma ideia do que um plano... na minha visão, os grandes blocos regionais deviam ser vendidos sob a forma de corporação, para não haver nenhum grupo individualmente dono", sugeriu.

Ele condenou, no entanto, a pressa com que a discussão começa a ser travada no governo, em meio a esforços para arrecadar recursos e cumprir metas fiscais.

"A ideia de fazer isso de afogadilho para contemplar buraco de orçamento, acho absolutamente condenável. Por outro lado, acho que privatizar é uma chance de a Eletrobras voltar ao que foi no passado, uma líder na engenharia."

Alquéres lembrou que nos anos 2000 o Brasil chegou a vender turbinas fabricadas localmente para a hidrelétrica de Três Gargantas, na China, operada pela China Three Gorges, hoje apontada por alguns como um dos grupos que poderiam ter interesse na compra da estatal brasileira.

A usina chinesa é a maior do mundo em capacidade instalada, mas ainda perde para Itaipu, parceira entre Brasil e Paraguai, em volume energia produzida.

"Vejam vocês, 17 anos depois, estamos aí de pires na mão a mendigar investimentos chineses", ironizou Alquéres.

Ele destacou ainda que a Eletrobras acabou envolvida em escândalos de corrupção nos últimos anos, após investigações da Operação Lava Jato terem apontado pagamento de propinas em empreendimentos liderados pela companhia, como a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

"A Eletrobras gastou 280 milhões de reais em 2016 e vai gastar mais entre 60 e 80 milhões de reais em 2017 com advogados procurando mal-feitos", apontou, citando despesas com escritórios de advocacia e consultorias.

A estatal contratou o escritório especializado Hogan Lovells para apurar prejuízos com desvios apontados na Lava Jato.

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