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Evergrande não é novo Lehman Brothers; leia análise

Tudo o que Pequim não quer é ter sua imagem associada a uma nova crise de impacto global; reguladores chineses devem forçar empresa a vender ativos e fechar acordos com credores

21 set 2021 - 08h00
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Esqueça a crise financeira de 2008. A possibilidade de que o terremoto da Evergrande reprise o do Lehman Brothers e desencadeie um tsunami financeiro a partir da China parece remota. Os líderes de Pequim prezam a estabilidade acima de tudo e detestam situações que podem sair de seu controle - e o protesto de centenas de credores na sede da empresa nos últimos dias é só um aperitivo do que poderá ocorrer em um default descontrolado.

É difícil exagerar os riscos que a Evergrande representa para a economia chinesa. Sua dívida de US$ 300 bilhões equivale a 2% do PIB do país e sua eventual debacle terá impacto considerável sobre o setor imobiliário, no qual estão três-quartos da riqueza das famílias chinesas. Mas isso não significa que o governo resgatará a companhia com generosa injeção de capital, o que iria na contramão de políticas adotadas por Pequim para reduzir os riscos financeiros na economia, seu grau de endividamento e o peso do segmento de construção e venda de imóveis no PIB.

O mais provável é que os reguladores usem sua considerável amplitude de atuação para forçar acordos entre a empresa e seus credores, com perdas para ambos. Também é possível que haja punições a executivos da empresa, entre os quais seu fundador, Xu Jiayin.

Segunda maior incorporadora imobiliária do país, a companhia tem um ativo valioso no mercado chinês: terra para o desenvolvimento de projetos. No dia 30 de junho, a Evergrande tinha 778 áreas reservadas para a construção de 214 milhões de metros quadrados, com valor estimado em US$ 70 bilhões, de acordo com a revista Caixin. Além disso, possuía outros 146 projetos de remodelação urbana.

A crise financeira de 2008 foi um divisor de águas para os líderes da China. A debacle desencadeada pela quebra do Lehman Brothers fortaleceu o ceticismo de Pequim em relação às receitas econômicas do Ocidente, em particular a liberalização do sistema financeiro, e aumentou a confiança no modelo chinês de controle e forte presença estatal. Depois da pandemia de covid-19, tudo o que Pequim não quer é ter sua imagem associada a uma nova crise de impacto global.

* DIRETORA EXECUTIVA DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA E EX-CORRESPONDENTE DO ESTADÃO EM WASHINGTON E PEQUIM

Estadão
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