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Eventual demissão de André Brandão expõe ingerência política no Banco do Brasil, dizem analistas

Especialistas do mercado financeiro afirmam que, se confirmada a demissão, episódio vai contra o discurso de diminuição da máquina pública e gestão técnica das estatais que ajudou a eleger Bolsonaro

13 jan 2021 - 21h35
(atualizado em 14/1/2021 às 09h15)
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Os analistas do mercado financeiro são unânimes ao analisar a notícia de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, quer demitir o atual presidente do Banco do Brasil, André Brandão, que está no cargo desde o final de setembro. Eles acreditam que o episódio vai contra o discurso que inclusive ajudou a eleger Bolsonaro, de diminuição da máquina pública e gestão técnica das estatais, sem ingerência política.

A proposta do Banco do Brasil de fechar 112 agências e desligar 5 mil funcionários irritou Bolsonaro por acontecer em um momento de busca de apoio para os candidatos do governo para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. Na visão de Carlos Daltozo, head de Renda Variável da Eleven Financial, se confirmada a demissão, será um sinal claro de ingerência política, algo que os investidores esperavam que não ocorresse na gestão Paulo Guedes no Ministério da Economia. "Isso vai contra a própria nomeação do Brandão, que tem um perfil mais técnico. Então, com certeza haverá uma reação negativa que vai ter reflexos na ação." Daltozo lembra que BB ON caiu quase 5% nesta quarta, e foi o pior desempenho do Ibovespa.

Na visão de Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, a demissão deixa o BB ainda mais distante de seus concorrentes em relação à percepção dos investidores sobre o potencial de crescimento e rentabilidade. "O ROE (retorno sobre patrimônio líquido) do BB é mais baixo que o dos outros bancos, e isso ocorre muito pela dificuldade em conseguir implementar medidas de ganho de eficiência", explica.

O analista da Guide lembra que os outros bancos fecharam muitas agências físicas no ano passado. E no primeiro passo que o presidente do BB tenta dar neste sentido, surge a notícia de que ele pode ser demitido. "Cada vez fica mais claro que aquele viés liberal que o governo tantas vezes disse possuir, principalmente na campanha, não é verdade. Cada vez fica mais claro que as estatais vão continuar sendo utilizadas para os mesmos fins", afirma.

Um outro analista, em condição de anonimato, também destaca a postura do governo como um problema que vai aparecer no desempenho das ações do BB e até de outras estatais. "Nós esperávamos medidas de diminuição do tamanho da máquina pública, e esse episódio só mostra que esta foi mais uma promessa não cumprida pelo Bolsonaro".

A Ativa Investimentos vai na mesma linha. "A notícia é negativa na medida que expõe, mais uma vez, os riscos de ingerência política na estatal e coloca em xeque qualquer possibilidade do BB assumir uma gestão mais liberal no atual governo", opina a área de Research da corretora.

Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos, acredita que a confirmação desta eventual demissão pode demorar um pouco. Mas se confirmada a saída de Brandão, os investidores vão reagir de forma bastante negativa. "Brandão vem fazendo o planejamento de desinvestimentos do Banco do Brasil, que tem repercutido positivamente dentro da estatal. Os investidores não gostam de nenhum tipo de interferência governamental dessa forma".

Estadão
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