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Estados Unidos e China dão início 'oficial' a guerra comercial

Tarifas de 25% sobre exportações de US$ 34 bilhões entre os dois países entraram em vigor nesta sexta; Trump ameaça taxar mais produtos

6 jul 2018 - 08h51
(atualizado às 20h54)
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WASHINGTON E PEQUIM- Agora é oficial: Estados Unidos e China estão em guerra comercial. As tarifas de 25% impostas pelo governo Donald Trump a importações de produtos chineses equivalentes a US$ 34 bilhões começaram a valer nesta sexta-feira. E, imediatamente, a China pôs em vigor uma retaliação nas mesmas bases, e ainda acusou o governo americano de desencadear a "maior guerra comercial da história". Além dessa acusação, a China também iniciou uma ação contra os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Horas antes do prazo de Washington para que as tarifas entrassem em vigor, o presidente Trump, aumentou o tom, alertando que os EUA poderiam visar mais de US$ 500 bilhões em produtos chineses, ou o volume total das importações norte-americanas da China no ano passado.

"Provavelmente podemos dizer que a guerra comercial oficialmente começou", disse Chen Feixiang, professor de economia aplicada da Faculdade de Economia e Administração Antai, da Universidade Xangai Jiaotong. "Se isso acabar em US$ 34 bilhões, terá um efeito marginal sobre ambas as economias. Mas se aumentar para US$ 500 bilhões como Trump disse, então terá um grande impacto para ambos os países."

Apesar do potencial de estragos na economia global, o início "oficial" da guerra, por ser amplamente esperado, não mexeu com os mercados internacionais. O que acabou mesmo influenciando as bolsas e o mercado de câmbio foi o relatório de empregos nos Estados Unidos, que mostrou uma inesperada alta da taxa de desemprego e um ganho salarial abaixo do previsto. A leitura foi de que, por conta disso, há menos espaço para a aceleração da inflação no país, que pode se refletir na postergação das altas de juros. Com isso, o dólar acabou fechando em queda nos mercados globais e as bolsas registraram altas

Áreas afetadas. A princípio, os efeitos das tarifas adotadas pelos EUA contra produtos chineses e da retaliação tarifária de Pequim serão mais sentidos exatamente nas regiões americanas que garantiram a eleição de Donald Trump.

No caso americano, a tarifação recairá principalmente sobre produtos chineses dos setores aeroespacial, de tecnologia da informação, de autopeças e de instrumentos médicos. O foco da retaliação de Pequim está em produtos agrícolas, carros e petróleo bruto.

As tarifas americanas irão servir de proteção para algumas empresas que competem com importações chinesas, mas a retaliação de Pequim vai atingir grandes partes do território americano, segundo a Moody's Analytics, que calculou quanto do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país está em indústrias que se beneficiarão do protecionismo ou serão prejudicadas pela retaliação.

A retaliação chinesa terá impacto mais pronunciado - afetando mais de 25% da economia dos EUA - em quase 20% das regiões que votaram no republicano Trump na eleição presidencial de 2016, abarcando cerca de 8 milhões de pessoas. Apenas 3% das áreas que preferiram a democrata Hillary Clinton, com uma população de 1,1 milhão de pessoas, serão igualmente atingidas.

"Os beneficiários estão bastante concentrados regionalmente, bem no meio-oeste industrial. Fora de lá, é difícil identificar qualquer um que se beneficie de forma significativa", diz Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics. "As áreas que sofrem são mais amplas e difusas. As áreas rurais são afetadas. Parte dos centros manufatureiros também é prejudicada."

O governo Trump alega que a China tem empregado práticas desleais de comércio com os EUA que precisam ser combatidas, mesmo que haja custos para a economia americana.

Regiões dos EUA com mais de 25% de suas economias atingidas pelas tarifas chinesas provavelmente sofrerão consequências dolorosas se a tarifação continuar em vigor. Indústrias como a de soja das Grandes Planícies, montadoras do meio-oeste e áreas produtoras de petróleo das Dakotas ou do Texas serão as mais afetadas. A China é o maior importador mundial de soja e foi o segundo maior destino das exportações de petróleo bruto dos EUA em 2017.

As áreas que se beneficiam abrigam indústrias cujos concorrentes chineses serão agora tarifados, enquanto as prejudicadas têm empresas que terão maiores custos para exportar para a China.

Estadão
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