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Encomendas decepcionam e Embraer tem primeiro prejuízo em 20 anos

Perdas do ano passado somaram R$ 669 milhões, com revisão de custos do projeto do cargueiro militar KC-390 e baixa venda do avião executivo Lineage 1000; para analista, preocupação é falta de crescimento nas entregas futuras de aeronaves

14 mar 2019 - 21h04
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A Embraer encerrou um ano com resultado negativo pela primeira vez desde, pelo menos, 1999. A fabricante de aeronaves anunciou nesta quinta-feira, 14, que teve prejuízo de R$ 669 milhões no ano passado. Diante do desempenho, as ações da companhia - cuja venda para a americana Boeing foi aprovada no último dia 26 pelos acionistas - caíram 0,16%.

A empresa destacou, em relatório, que o prejuízo decorreu de fatos não recorrentes, ou seja, que não devem interferir nos resultados futuros. Apenas a revisão de custos do projeto do cargueiro militar KC-390 causou um impacto negativo de R$ 458,7 milhões para a empresa. O protótipo da aeronave, a maior já produzida no Brasil, saiu da pista em maio de 2018, quando realizava testes de solo, adiando a entrega do primeiro modelo para o segundo semesttre deste ano.

A revisão para baixo da expectativa de vendas do avião executivo Lineage 1000 também causou impacto negativo para a Embraer, de R$ 238,2 milhões. Questionado sobre o prejuízo, o vice-presidente financeiro e de relações com os investidores, Nelson Salgado, disse que a empresa segue agora em uma rota positiva. "O grande resultado que esperamos para este ano é a conclusão do deal", afirmou o executivo, em teleconferência com jornalistas, referindo-se ao acordo com a Boeing.

Desconsiderando os fatos não recorrentes, a Embraer apresentou lucro de R$ 800 milhões em 2018, queda de 38% na comparação com o ano anterior. Em nota, a companhia informou que o resultado reflete um menor número de entrega de aeronaves à medida que novos modelos de aviões foram introduzidos no mercado.

Segundo o analista Álvaro Frasson, da Necton Investimentos, o prejuízo da Embraer já era esperado. Ele destacou, no entanto, que a falta de crescimento nos contratos fechados pela companhia tem prejudicado o preço das ações. "A empresa continua não crescendo na entrega futura de aviões, o que mostra que o mercado já está consolidado."

Frasson disse ainda que o revés sofrido pela Boeing no últimos dias também pressiona a fabricante brasileira de aviões. Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que seu país também decidiu manter em terra os modelos 737 MAX 7 e 8 da Boeing, após o acidente no domingo com uma dessas aeronaves na Etiópia, que matou 157 pessoas. "Embora o acidente não tenha capacidade de afetar a parceria com a Embraer, ele pode afetar a empresa financeiramente", afirmou o analista.

Em relatório, o Banco Safra informou que já esperava os fracos resultados do quarto trimestre e que os preços das ações da companhia já refletem esses números. De acordo com o analista Lucas Marquiori, a Embraer sinalizou que teria um fraco desempenho quando revisou para baixo suas expectativas para 2018 e as entregas do último trimestre. "As entregas mais brandas da Embraer no trimestre já estavam no radar. As menores entregas nos últimos três meses de 2018 já foram antecipadas pela companhia quando revisou seu guidance (expectativas) para 2018. Portanto, já vemos isso refletido nos preços das ações." /LUCIANA DYNIEWICZ, FABIANA HOLTZ e NIVIANE MAGALHÃES

Estadão
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