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Empregados da Ford esperam que empresa volte atrás

Após companhia anunciar fechamento de fábrica no ABC Paulista, sindicatos e governo querem buscar diálogo para evitar demissões

21 fev 2019 - 04h10
(atualizado às 07h55)
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Sem conseguir dormir a noite toda, a inspetora de qualidade Carolina Miranda, de 38 anos, chegou cedo ao portão da fábrica da Ford na quarta-feira, 20, em busca de detalhes sobre a decisão da empresa de fechar a fábrica, anunciada na tarde de terça-feira (19). "Estávamos trabalhando quando fomos informados. Fiquei sem chão, muita gente chorou", conta ela, que trabalha na unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, há 11 anos.

Sua esperança é de que a empresa volte atrás. O marido, que era caminhoneiro, está sem trabalhar há um ano. "O caminhão foi roubado e não tivemos como comprar outro." É ela quem mantém a família, paga os estudos das duas filhas de 19 e 20 anos e as prestações da casa e do carro, ambos financiados. "Não sei o que farei se perder o emprego."

Uma tentativa de convencer a direção da Ford a rever o fechamento da fábrica ocorre hoje, às 10h, no Palácio dos Bandeirantes. O governador João Doria (PSDB) convidou o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, para discutir o que pode ser feito. Devem participar o secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB).

Caminhões da Ford fabricados em São Bernardo do Campo
Caminhões da Ford fabricados em São Bernardo do Campo
Foto: Paulo Whitaker / Reuters

"Vamos saber o que a empresa precisa, se podemos fazer algo", diz Morando. "O que não aceitamos é essa decisão unilateral e abrupta de suspender a produção de caminhões e do Fiesta e fechar a fábrica sem sequer um plano de desmobilização."

Na quarta-feira, o prefeito entrou com representação no Ministério Público do Trabalho para que a Ford explique sua atitude. A audiência será no dia 26. A montadora responde por 1,72% da arrecadação de ICMS da cidade (R$ 14 milhões ao ano) e por 0,8% do ISS (R$ 4 milhões).

Segundo a Ford, a unidade emprega 3 mil funcionários. Nas contas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cerca de 2 mil são de produção e os demais, da área administrativa. A entidade diz ainda que há outros 1,5 mil terceirizados.

O Dieese calcula que, caso todos fossem demitidos, o impacto fecharia outras 24 mil vagas quando se leva toda a cadeia produtiva em consideração. A Ford não revela quantas pessoas vai demitir de imediato, pois a área administrativa continuará a funcionar no local.

A fábrica opera com menos de 20% de sua capacidade produtiva e não recebe investimentos para renovação de equipamentos e produtos há pelo menos três anos, ao contrário do que têm feito na região concorrentes como a Volkswagen, a Mercedes-Benz, Scania e até a General Motors, que recentemente ameaçou fechar operações e está em negociações com parceiros para adotar um plano de viabilidade.

Globalmente, a Ford passa por um processo reestruturação e encolhimento de fábricas, com o fim da produção de vários modelos. Por enquanto, apenas uma outra unidade, na França, que produz transmissões, teve o encerramento de atividades confirmado para agosto.

"Poderíamos negociar salários, piso e PLR, como ocorreu com as fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP)", diz o montador de carrocerias Fernando Gomes, de 36 anos, 10 deles na Ford. "Não seria bom, mas fechar é o pior cenário". Casado e com um filho de 10 anos que é autista, Gomes teme principalmente pelo fim do convênio médico muito usado no tratamento da criança.

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