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Embate na CCJ antecipa clima belicoso da comissão especial, mas governo é otimista

Apesar do desfecho da última quarta-feira, 3, governistas acreditam que ganharam votos de deputados na sessão da CCJ

4 abr 2019 - 12h13
(atualizado às 15h13)
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Os embates travados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) entre parlamentares e o ministro da Economia, Paulo Guedes, foram uma prévia do clima belicoso que aguarda a equipe econômica na comissão especial, próxima parada da reforma da Previdência. Embora muitos pontos da proposta já tenham sido amplamente criticados na primeira fase, é na comissão especial que o texto será debatido ponto a ponto.

Apesar da confusão de ontem, governistas têm uma visão otimista e estão certos de que ganharam o voto de deputados que ficaram indignados com o ataque do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) a Guedes.

A área econômica do governo já se prepara para uma discussão ainda mais densa e combativa na fase seguinte. O temperamento do ministro também deve ser testado novamente pela oposição, que conseguiu fazer Guedes "estourar" ao fim da reunião.

O ministro explodiu após ser atacado pelo Dirceu, que chamou Guedes de "tigrão" com os mais pobres e "tchuchuca" com a camada mais privilegiada. O rompante gerou um imenso bate-boca, despertou a reação de Guedes e o ministro acabou saindo escoltado da CCJ.

Para lideranças da Câmara, o episódio expôs a falta de articulação do governo, que deixou o ministro nas mãos da oposição por pelo menos cinco horas. Só depois governistas saíram em defesa de Guedes. O filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), circulou no plenário da CCJ. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), fez uma defesa tímida da proposta. A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), não apareceu.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu as avaliações de que faltou a articulação. "Os aliados estavam lá, mas a manutenção da lista de inscritos da semana passada desorganizou tudo", afirmou. As lideranças na CCJ firmaram acordo para manter a lista de inscrições iniciada na semana passada, quando Guedes adiou a ida à comissão.

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, disse que achou "ruim o final", mas "vamos adiante".

Preparação. O primeiro grande teste de Guedes na defesa da reforma era visto como decisivo para o avanço da proposta, que mais de 40 dias depois de apresentada ainda não teve sequer o sinal verde da CCJ - selo que garante que a proposta está de acordo com a Constituição.

Diante da importância da missão, o ministro recebeu um "treinamento" na manhã de quarta-feira (3), horas antes de ser metralhado pelas perguntas dos parlamentares. Do outro lado da trincheira, a oposição também se articulou para fazer as primeiras inscrições - como resultado, dominou as primeiras cinco horas de debate.

Além do preparo prévio, Guedes recebeu orientações de seus auxiliares mesmo durante a audiência. Ex-parlamentar e experiente no campo de batalha do Congresso Nacional, Marinho passou quase toda a sessão ao lado do ministro, aconselhando-o e ajudando-o com informações.

Guedes começou a audiência em tom moderado, falando baixo e pausadamente. Fez um afago aos parlamentares ao dizer que eram "extremamente qualificados" para a discussão da reforma da Previdência. Horas depois, chegou a pôr o dedo em riste quando a oposição o confrontou.

Em uma de suas colocações mais incisivas, Guedes elevou a voz após ser interrompido, apontou o dedo em riste e bradou a deputados petistas: "Nós estamos há três meses, vocês tiveram 18 anos e não tiveram coragem de mudar".

Neste momento, auxiliares do ministro e integrantes da base entraram em campo para esfriar os ânimos e baixar a temperatura da comissão. Pediram uma pausa na audiência. Os deputados aliados aproveitaram o intevalo para tentar acertar uma estratégia dali para frente e acordar do "cochilo" que deixou Guedes nas mãos da oposição por quase cinco horas.

Após o intervalo, um novo embate. A oposição reagiu ferozmente quando o ministro sugeriu "internar" quem não vê déficit na Previdência - argumento usado por alguns deputados contrários à reforma. Em meio a mais um bate-boca, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), bateu diversas vezes na mesa e gritou para defender Guedes. "Mantenham o decoro", pediu o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR).

Apesar dos confrontos, a avaliação na área econômica é de que o ministro conseguiu desviar da oposição nos momentos mais tensos. Mesmo que tenha havido algum bate-boca, a visão no governo é de que eles não comprometeram o desempenho do ministro, que defendeu a proposta tecnicamente e politicamente.

Estadão
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