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Dólar em alta reduz a perspectiva de o BC cortar juros em 2020, diz economista

Para Armando Castelar, taxa Selic terá nova redução em dezembro, mas não no ano que vem; ele acredita que movimento da moeda americana não terá grande impacto sobre a saúde financeira das empresas

26 nov 2019 - 12h56
(atualizado às 15h56)
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Para o economista Armando Castelar, coordenador da área de Economia Aplicada do Ibre-FGV, o dólar em alta deve reduzir a perspectiva do Banco de Central de baixar juros no ano que vem. Segundo ele, o câmbio não afeta a inflação como no passado, mas tira um pouco do conforto do BC para cortar juros, apesar de acreditar que o corte sinalizado para dezembro será mantido.

Na avaliação de Castelar, é difícil afirmar que esse novo patamar do câmbio veio para ficar e existem fatores que podem jogar contra esse movimento. Entre eles, Castelar destaca o fato de a economia voltar a crescer em ritmo mais acelerado e atrair investimentos estrangeiros. A seguir trechos da entrevista.

O sr. acha que o dólar mudou de patamar?

O dólar é flutuante e não significa que ele vá ficar aí para sempre. Tem coisas que jogam a favor para o dólar subir e outras que jogam para cair um pouco.

Por que o dólar deu essa arrancada?

O dólar lá fora está muito forte contra o euro, contra libra esterlina e outras moedas. Isso tem a ver com os Estados Unidos estarem crescendo mais que a maioria de outros países. Também os EUA têm uma taxa de juros que remunera melhor, então o dinheiro vai para lá. Tem gente comprando dólar para investir na Bolsa americana e títulos do governo americano. A guerra comercial da China com os EUA tende a valorizar o dólar. Isso explica por que o dólar saiu de R$ 3,5 e foi para mais de R$ 4. Se você olhar para outros emergentes, eles passaram pelo mesmo processo e não têm nada de diferente do que ocorre no Brasil. Agora há fatores que são do Brasil. Os juros caíram muito aqui e as operações para ganhar a diferença de juros ficaram menos interessantes. Os estrangeiros também estão tirando dinheiro da Bolsa brasileira porque o crescimento não veio e existe muita preocupação com esse movimentos políticos no Chile, Bolívia, mudanças de política econômica na Argentina. Existe um certo receio por conta da incerteza política. Numa economia que não está retomando em ritmo forte, investir em Bolsa fica menos interessante. Essas coisas todas estão pesando.

Como o sr. interpreta a fala do ministro da economia Paulo Guedes que disse que é 'bom se acostumar' com esse nível de câmbio?

Para mim, o ministro se referiu mais à questão dos juros. O diferencial de juros ficou menor e, portanto, comprar real para investir aqui ficou menos interessante.

O sr. vê uma crise de confiança para os estrangeiros retirarem dinheiro do País?

Não vejo dessa forma, como a gente viu em 1998. Existe uma perspectiva que é a mesma que afeta os investidores brasileiros. As perspectivas de crescimento são baixas, existem riscos. A reforma da Previdência reduziu o risco fiscal, mas esses movimentos no Chile, Bolívia, deixaram os investidores preocupados. Os indicadores de incerteza mostram que ela está alta. E a perspectiva de crescimento é relativamente baixa.

Isso pode mudar?

Tem três coisas que podem fazer o câmbio cair no ano que vem. O Banco Central americano começou a emitir dólar, está aumentando a injeção de dinheiro na economia. Existe a perspectiva de alguma trégua na guerra comercial entre EUA e China. Ambos fatores desvalorizam o dólar. A economia americana pode desacelerar também e, com isso, o dólar enfraquece. E se a economia brasileira começar a crescer mais rápido, ela vai atrair dinheiro e se tornar mais interessante para investir.

Quais os desdobramentos neste momento do câmbio a R$ 4,25 para economia brasileira?

Reduz a perspectiva do Banco de Central de baixar juros. Câmbio não impacta a inflação como no passado, mas tira um pouco do conforto do Banco Central para baixar juros. O BC vai reduzir juros no final do ano. Mas para o ano que vem fica menos provável. Essa é a primeira consequência. Provavelmente facilita exportação, porque o câmbio fica mais competitivo. As contas externas também tendem a ficar melhores com o câmbio mais valorizado. No passado, o dólar em alta tinha impacto muito negativo porque governo e empresas tinham dívidas lá fora. Hoje o governo não tem dívida lá fora. Ao contrário, hoje ele tem reservas. E as empresas reduziram muito o endividamento lá fora. Então, não há um grande impacto sobre a saúde financeira das empresas.

Estadão
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