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Dólar tem maior alta para setembro em 5 anos em mês marcado por temor fiscal; moeda sobe 40% em 2020

30 set 2020 - 17h12
(atualizado às 18h00)
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O dólar fechou a última sessão de setembro em queda, mas ainda cravou a segunda alta mensal seguida e o terceiro trimestre consecutivo de valorização, períodos marcados por recrudescimento de preocupações fiscais domésticas.

04/08/2003. REUTERS/Bruno Domingos
04/08/2003. REUTERS/Bruno Domingos
Foto: Reuters

O dólar à vista caiu 0,43% nesta quarta-feira, para 5,6188 reais. O pregão foi volátil, com a cotação indo de alta de 0,49% (para 5,6705 reais) a queda de 0,73% (a 5,6015 reais).

Depois de uma manhã de vaivém ainda mais intenso, em meio à formação da Ptax de fim de mês, o dólar foi às mínimas do dia na parte da tarde depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, defender o financiamento do novo programa de transferência de renda do governo Jair Bolsonaro com a junção de recursos de iniciativas que já existem, descartando a limitação ao pagamento de precatórios para tanto.

O mercado financeiro no Brasil sofreu um chacoalhão nesta semana após o governo informar que o Renda Cidadã seria bancado com recursos para precatórios e com verbas do Bolsa Família (que será extinto) e do Fundeb. Alguns membros do governo e da equipe econômica falaram com economistas do mercado sobre a proposta em conversas privadas, mas não conseguiram acalmar os ânimos.

"Precisamos ver o quanto da fala do Guedes (de hoje) será ouvida pelo governo, se terá recepção no governo, para depois entendermos se ele estava lavando as mãos ou se a equipe econômica lutará por uma solução mais austera", disse Thomás Gibertoni, especialista da Portofino Multi Family Office.

O dólar chegou flertar com 5,68 reais nesta semana, revisitando patamares vistos pela última vez em maio, quando a moeda bateu recorde atrás de recorde. No acumulado de setembro, a divisa subiu 2,52%, o que se soma à alta de 5,02% de agosto. É a maior valorização para meses de setembro desde 2015 (+9,33%).

No terceiro trimestre, os ganhos foram de 3,29%, depois de acréscimos de 4,73% no segundo trimestre e de 29,44% no primeiro. Em 2020, a moeda salta 40,02%.

Em meio a incertezas nos próximos três meses --com a eleição presidencial norte-americana de novembro e a discussão sobre o Orçamento de 2021 no Brasil ocupando os holofotes, além da evolução da pandemia--, a perspectiva é de contínua volatilidade para uma moeda que já é a mais volátil do mundo.

O Barclays diz manter posições de "hedge" por meio de compra de dólar ante real via opções, entre outras divisas emergentes. "Esperamos que a volatilidade permaneça alta no real no próximo trimestre, conforme a incerteza sobre as perspectivas fiscais permanece", disseram analistas do banco em relatório recente.

O JPMorgan, por ora, não mudou seu cenário-base --que assume que o teto de gastos será preservado no próximo ano--, mas reconhece que "o debate fiscal deu uma guinada perigosa para pior" depois do anúncio do financiamento do Renda Cidadã, afirmaram profissionais do banco em relatório.

Alguns analistas, contudo, veem chances de algum "catch-up" (o real reduzir a diferença em relação às demais moedas) em caso de desdobramentos positivos do lado da pandemia.

"A potencial aprovação de uma vacina no fim do outono (no Hemisfério Norte), especialmente se coincidir com uma mudança mais amigável na política dos EUA em relação ao comércio global, poderia catalisar um desempenho superior do câmbio emergente mais amplo, incluindo moedas como rand sul-africano, rupia indiana e até mesmo o real brasileiro, devido ao status dessas divisas de ativos cíclicos baratos", afirmaram analistas do Goldman Sachs em relatório.

Gibertoni, da Portofino, calculou que o dólar poderia cair para em torno de 5,20 reais considerando uma resolução para as recentes incertezas fiscais. Seria uma queda nominal de 7,45% da moeda norte-americana.

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