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Dólar cai de olho no Congresso e Bolsa perde fôlego

Alívio político, com o Centrão se dispondo a votar as MPs, amenizou as tensões políticas, mas não eliminou as incertezas sobre a relação entre Congresso e governo

22 mai 2019 - 19h16
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Depois de ensaiar uma queda expressiva pela manhã, quando desceu até a mínima de R$ 4,0076, o dólar reduziu gradativamente as perdas em relação ao real ao longo da tarde e encerrou o dia cotado a R$ 4,0407, em baixa de 0,18%. Segundo operadores, a aceleração das perdas da maioria das moedas emergentes, em meio a atritos entre China e Estados Unidos e a divulgação da ata do Federal Reserve, se contrapôs ao ambiente interno menos tenso e tirou força do real durante a segunda etapa de negócios.

Operadores ressaltam que, passado o movimento técnico de desmonte de posições compradas em dólar na última terça-feira, 21, e pela manhã desta quarta-feira, 22, houve uma acomodação do preço da moeda americana, com investidores adotando uma postura mais cautelosa. Se parece afastado o risco de uma crise política aguda, após o Congresso destravar a votação das MPS, ainda há muitas incertezas em torno do andamento das reformas e, por tabela, a melhora da perspectivas econômicas.

Um sinal de alerta surgiu na reta final dos negócios, quando houve a primeira tentativa da Câmara de votar a MP 870, que reorganiza os ministérios, malogrou por falta de quórum, após embate entre partidos do Centrão e o PSL, legenda de Bolsonaro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), convocou nova sessão e as negociações para votação prosseguem na Casa.

Incertezas

Para o especialista no mercado de câmbio Jefferson Laatus, o alívio político, com o Centrão se dispondo a votar as MPs, amenizou as tensões políticas, mas não eliminou as incertezas sobre a relação entre Congresso e governo. "O mercado se tranquilizou, mas não muito. O dólar continua ainda acima de R$ 4, com muitos players ainda comprados", dia Laatus, ressaltando a volatilidade da cotação nesta quarta-feira, com o dólar ameaçando zerar as perdas fortes pela manhã ao longo da tarde. "A tensão foi amenizada, mas ainda não há nada resolvido nessa questão política".

O vaivém das apostas e da busca por proteção pode ser visto na movimentação dos investidores não residentes no mercado futuro. Entre 14 e 17 de maio, quando houve alta expressiva da moeda americana, os estrangeiros elevaram a posição comprada em dólar futuro em 11 mil contratos, para 163 mil contratos. Os estrangeiros deram meia volta nos últimos dois pregões e reduziram a posição comprada em cerca de 26 mil contratos, o que ajuda a explicar o alívio no câmbio.

Segundo operadores, não há, por ora, sinais de demanda física por dólar. Tanto que o Banco Central, diante da escalda da moeda americana na semana passada, se limitou a anunciar a antecipação da rolagem de linhas com recompra que venceriam na virada do mês - ou seja, não trouxe dinheiro novo para o mercado. O BC conclui a antecipação da rolagem desta quarta-feira, 22, com a venda de R$ 1,250 bilhão em leilão de linha

Exterior

Às incertezas domésticas soma-se o ambiente propício ao fortalecimento do dólar no exterior, em meio ao desempenho forte da economia americana e disputa comercial sino-americana. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, disse que o governo chinês deu um "grande passo atrás nas negociações". Depois da ofensiva contra a gigante chinesa de telecomunicações Huawei, o governo americano estaria estudando impor restrições ao uso de tecnologia americana para até cinco empresas chinesas.

A ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) frustrou quem esperava um sinal, ainda que tênue, de que poderá haver corte de juros neste ano. O BC americano reiterou a postura "paciente" ao avaliar qualquer ajuste na política monetária. Leia-se: não se pode contar com um corte de juros no segundo semestre, fator que poderia tirar força do dólar. Em relatório divulgado nesta quarta-feira, 22, economistas do Bradesco afirmam que um dos motivos para a alta do dólar é o fato de do os EUA manterem um ritmo de crescimento forte, "enquanto o resto do mundo mostra sinais de desaceleração ou de retomada tímida".

Para os economistas do Bradesco, a aprovação da reforma da previdência pode reduzir o risco-país do Brasil e dar fôlego ao real, levando o dólar a encerrar o ano a R$ 3,80.

Lá fora, a moeda americana subiu nesta quarta-feira na comparação com a maioria das divisas de países emergentes e exportadores de commodities, com avanços mais fortes em relação a lira turca, mas caiu na comparação com moedas consideradas pares do real, como o peso mexicano e o rand-sul africano.

No mercado futuro, às 17h43, o dólar para junho era negociado em alta de 0,04%, a R$ 4,0450. O volume negociado era de R$ 22,254 bilhões. No mercado à vista, o volume era de US$ 2,39 bilhões.

Bolsa

Depois de ter subido quase 5% em dois pregões, o Índice Bovespa perdeu fôlego nesta quarta-feira, com os investidores à espera de sinais de evolução concreta no ambiente legislativo, onde o dia foi marcado por discussões e votações. O indicador alternou sinais ao longo do dia e arrastou-se em torno da estabilidade na última hora de negociação. Ao final do pregão, marcou 94.360,66 pontos, com baixa de 0,13%. Os negócios somaram R$ 13,7 bilhões.

"O cenário internacional não trouxe um 'driver' que pudesse direcionar o mercado. Nem mesmo a ata do Federal Reserve repercutiu nos preços, uma vez que o documento trouxe 'mais do mesmo'", diz Rafael Winalda, analista da Toro Investimentos. Internamente, afirma o analista, a expectativa é de que a Câmara avance em matérias que impedem o avanço da tramitação de outros projetos, como as reformas da Previdência e a administrativa.

Na terça-feira, 21, à noite, a Câmara aprovou a MP 863, que libera 100% do capital das companhias aéreas a estrangeiros. A matéria estava sendo apreciada em sessão aberta no final da tarde no Senado, sob o risco de perder a validade caso não haja votação. Também foi costurado um acordo entre o governo e os parlamentares para votar nesta quarta-feira a MP 870, que trata da reforma administrativa, considerada prioridade para o governo. A primeira sessão aberta para esse fim foi encerrada por falta de quórum e uma nova convocação foi feita, ainda para esta quarta-feira. "Se houver evolução nos trabalhos, fica reforçada a importância do (presidente da Câmara) Rodrigo Maia (DEM-RJ)", disse Winalda.

Cautela

Apesar dos sinais de maior empenho do Congresso em dar agilidade à pauta, a cautela do investidor não foi abandonada. O próprio Rodrigo Maia, cujo papel tem sido considerado crucial, é objeto de precaução. Depois da notícia do seu rompimento com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), Maia negou o fato porque, segundo ele, nunca houve relação com o parlamentar governista.

"O clima mais calmo dos últimos dias patrocinou a alta do Ibovespa nos últimos dois dias, mas a incerteza continua pairando no ar, o que incentiva a cautela. Para o Ibovespa reconquistar novos patamares, deverá haver evolução de fato", disse o analista da Toro.

Apesar da alta de 2,17% registrada pelo índice na última segunda-feira (20), os investidores estrangeiros retiraram R$ 23,505 milhões naquele pregão. Em maio, o saldo líquido da participação de estrangeiros mostra saída de R$ 5,804 bilhões. A posição vendida dos estrangeiros no Ibovespa futuro foi elevada de 7.670 contratos no dia 20 para 10.285 na terça-feira.

Ao longo do dia, o Ibovespa oscilou entre a máxima de 95.212 pontos (+0,77%) e a mínima de 93.883 pontos (-0,64%). As bolsas de Nova York estiveram em terreno negativo ao longo de todo o dia e não contribuíram para a sustentação do apetite por risco por aqui. Ao final da tarde, o MSCI Emerging Markets, que acompanha a variação das bolsas de 24 países emergentes, tinha baixa de 0,49%. Já o MSCI Brazil avançava 0,25%.

As quedas mais importantes do dia ficaram com papéis do setor financeiro, com destaque para Bradesco PN (-1,78%) e as units do Santander (-1,64%).

Estadão
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