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Com "simulador de voo" para desenvolvedores, Devpass conquista empresas

A startup ajuda profissionais em início de carreira a praticar habilidades técnicas e sociemocionais em plataforma que emula experiências reais

16 ago 2022 - 12h06
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À medida em que organizações avançam seus planos de transformação digital, um problema de mão dupla se apresenta: de um lado, empresas competem pelos melhores talentos e do outro, profissionais começam a ingressar no mercado, mas ainda não tem o nível de senioridade e experiência que empregadores buscam. Este é o dilema que a Devpass buscou endereçar.

Desenvolvedores
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Foto: Crédito: Canva / Startups

Com o intuito de ajudar organizações sedentas por talentos com mais experiência e também apoiar profissionais que querem avançar seu nível de proficiência, Dimitri Fernandes e Rodrigo Borges fundaram a Devpass em outubro de 2021. O produto da startup é um "simulador de voo", que tem como proposta treinar tanto as habilidades técnicas quanto socioemocionais.

Desde o lançamento em janeiro deste ano, a empresa tem investido na construção de uma comunidade e já diz ter algumas milhares" de pessoas desenvolvedoras em sua base de usuários. Na frente corporativa, empresas que querem investir na evolução de sua força de trabalho compram o acesso às experiências ofertadas pela Devpass, e a carteira de clientes conta com nomes como a XP Investimentos e a fintech Cora.

"Quando fizemos nossa pesquisa de mercado, percebemos que a maioria esmagadora das vagas [de desenvolvimento] são destinadas a pessoas com uma certa vivência dentro do mercado. É uma distorção curiosa quando se pensa que tem muita gente se formando via bootcamps, mas o mercado, com exceção das grandes corporações não tem a estrutura adequada para absorver pessoas no início da carreira, que tem só a base teórica", diz Dimitri, em entrevista ao Startups.

Através do ambiente da Devpass, desenvolvedores podem participar de ciclos completos de desenvolvimento ágil. Durante os sprints que duram cerca de duas semanas, os profissionais praticam suas habilidades que vão desde o refinamento do código até a experiência de trabalho real, em aspectos como comunicação com pares incluindo como dar e receber feedbacks. Na plataforma B2C, profissionais pagam R$ 300 por experiência, enquanto o produto B2B tem um ticket médio de R$ 500 por usuário, que inclui a curadoria de atividades dos sprints e suporte.

Para tirar a Devpass do papel, os fundadores buscaram uma rodada pré-seed de US$ 200,000, que deve ser concluída até outubro deste ano. Alem da Brazil Venture Capital, anjos que participaram da rodada incluem Juliano Dutra, co-fundador da Gringo, de gestão de veículos, e Denis Minev, CEO da rede varejista Bemol.

Low-code de propósito

Dimitri conta que, ao identificar uma lacuna de expertise que não vai ser resolvida no curto prazo, o desafio foi criar uma solução que, ao invés de formar profissionais do zero, as equipasse com as habilidades para progredir da forma mais rápida e eficiente possível. Outro aspecto relevante foi como oferecer uma experiência mão na massa, já que desenvolvedores tendem a valorizar o aprendizado na prática.

"O primeiro ponto da tese foi como a gente poderia acompanhar essa jornada de aprimoramento e ser relevante para essa pessoa que estiver nos seus primeiros meses de carreira, quando ela estiver sendo promovida de plena para sênior, quando ela quiser sair do país. Queremos ser o melhor amigo da pessoa desenvolvedora ao longo de toda a sua carreira", explica o fundador.

O fundador cita dados da última pesquisa da plataforma de programadores profissionais Stack Overflow, que sugerem que a maioria das pessoas desenvolvedoras com menos de 24 anos consideram conteúdo de creators como a principal forma de acessar novos conhecimentos, acima de cursos ou mesmo da universidade. "Surgiu então a ideia de convidar pessoas seniores do mercado para liderar as simulações de experiência", conta.

Ao convidar esses rock stars do código, os fundadores se deram conta de outros aspecto interessante: as pessoas que estavam liderando os squads ou participando deles eram profissionais estabelecidos em algumas das melhores empresas do mundo. "Cerca de três meses depois que lançamos a Devpass, essas pessoas começaram a nos procurar dizendo que queriam oferecer essa experiência de progresso e treinamento para o time delas, e adiantamos nosso plano de avançar para o B2B, de forma muito orgânica", diz Dimitri.

Segundo o fundador, a ideia é que o produto avance para um modelo de assinatura, e os modelos voltados ao consumidor final e empresas devem coexistir. O motivo é o chamado "community-led growth", em que a comunidade alimenta o crescimento do negócio como um todo. "A nossa comunidade B2C gera nossos leads B2B, então temos equilibrado as duas coisas, mas cientes de que o B2B é onde teremos as grandes margens e conseguiremos escalar", pontua.

Além de fechar a rodada, objetivos da Devpass nos próximos meses incluem otimizar a interface da plataforma. Dimitri diz que muitos elementos da oferta atual foram feitos através de uma abordagem low-code propositalmente, como forma de validar o modelo de negócio, mais do que o produto. "Usamos Notion como área logada, Discord como comunidade, Github como repositório de projetos e por aí vai", conta o fundador.

Dois movimentos importantes para chegar até a próxima rodada, que deve acontecer no segundo semestre do próximo ano, são dar mais robustez e uma camada mais inteligente para a plataforma. Segundo Dimitri, isso envolve trazer insights e dashboards relacionados à gestão de times e a criação de uma simulação autônoma, o que deve eliminar a necessidade de participação simultânea e, ao mesmo tempo, trazer uma maior diversidade de experiências além de uma maior recorrência do uso da plataforma. "Se a gente conseguir garantir a escala do pipeline e a recorrência, conseguiremos chegar no outro round como esperado, já saindo da lógica do product-market fit e entrando de fato no modelo de crescimento", frisa.

Ao comentar sobre a experiência na captação até o momento, Dimitri diz que o modelo da Devpass satisfaz as atuais exigências por um negócio mais rentável. "Por mais que não estivéssemos preparados para esse cenário, estávamos preparados para gerar caixa desde o dia zero. Isso faz toda a diferença, dá muito mais confiança e credibilidade do que [dizer que] não sabe quando o negócio vai gerar dinheiro. Por menores que sejam os cheques, fundos estão olhando com um pouco mais de critério para o modelo de negócio e como ele pode, de fato, atingir um break-even saudável num futuro próximo", pontua.

O poder da comunidade

O maior desafio nos próximos meses será priorizar as tarefas em meio às várias oportunidades. "A maior complexidade é desenhar e definir o roadmap adequado do produto e conseguir segui-lo sem grandes variações. São muitos inputs externos, então tem o fator do saber dizer não adequadamente. O caminho fica mais cristalino depois, mas no início são muitas possibilidades e é preciso ter cuidado para não acabar fazendo tudo e no fim, não fazendo nada", ressalta.

O fato de não ser a primeira vez que Dimitri e Rodrigo empreendem juntos ajuda. Em 2015, a dupla fundou o Meatless, delivery vegano que chegou a atrair mais de 50 mil usuários. Depois de perceberem que o negócio teria uma queima de caixa muito maior do que poderiam investir do próprio bolso, resolveram "fechar as portas no auge", e ganhar mais quilômetros rodados em outras empresas. Enquanto Rodrigo continuou trabalhando em desenvolvimento em empresas como Farfetch e VivaReal, Dimitri seguiu liderando comunidades, em empresas como Airbnb, WeWork e Yuca.

"Tivemos muitos aprendizados ao empreender e fazer isso juntos pela segunda vez. Somos o oposto do empreendedor que não quer contar a ideia para ninguém, com medo de roubarem a ideia. Falamos com todos os tipos de stakeholders minimamente envolvidos com esse universo, além de quem se beneficia do nosso produto, para refinar constantemente o roadmap e modelo. Quando você para de ouvir os players do mercado e seus usuários, a chance de erro passa a ser realmente grande", aponta.

A comunidade é o centro do modelo de negócio da Devpass, diz Dimitri, acrescentando que a lógica da simulação e o valor gerado pela plataforma é fundamentada na interação entre as pessoas. "A premissa básica de uma comunidade é que é um grupo de pessoas que se juntam e geram valor por estarem juntas pelo pela combinação de habilidades, de conhecimento. Para nós faz muito sentido ouvir os usuários constantemente, saber para que lado vai o comportamento, entender suas demandas: acreditamos profundamente que a comunidade é o presente e o futuro", finaliza.

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