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Inflação encarece alimentos tradicionais de festa junina

Os itens típicos do arraiá apresentaram alta de 13,51% no setor de alimentação e bebidas, acumulado em 12 meses; tomate, açúcar, óleo e farinha de trigo estão entre os mais caros

24 jun 2022 - 05h10
(atualizado às 14h48)
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A cozinheira Ana Carolina Pesaroglo, de 39 anos, trabalha há seis anos com entrega de refeições e há cinco atua no ramo de festas juninas em Curitiba (PR). Após dois anos com as comemorações paralisadas, ela notou aumento significativo nos itens típicos e tradicionais do arraiá. O motivo é o encarecimento no preço dos alimentos, que subiram 13,51% em 12 meses, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio.

Foto: iStock

A cozinheira que produz kits especiais e eventos corporativos sentiu no bolso a alta dos itens mais usados para os preparos juninos. "Há coisas que não podem faltar como o milho, o tomate, a farinha de trigo, o óleo e o leite. Aumentou muito o custo dos produtos que oferecemos". No Brasil, os alimentos e bebidas subiram mais do que o índice geral do IPCA, de 11,73%, e encareceu os produtos básicos da festa junina.

O protagonista do arraiá, o milho, acumula alta de 23,55% no IPCA em 12 meses, enquanto a farinha de trigo apresenta alta de 27,80% e o açúcar cristal com preços 31,46% mais altos no mesmo período. "Alguns destes itens são commodities que tem seu valor atrelado aos preços internacionais, e, assim, são influenciados pelas variações da taxa de câmbio real/dólar", diz a economista Larissa Naves de Deus, professora de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Em uma cesta com itens e ingredientes variados de festa junina, a maioria subiu de preço. O alimento mais caro foi o tomate (80,48%), seguido pelo açúcar refinado (36,28%), o óleo de soja (33,8%) e a mandioca (31,26%).

Também não escaparam do aumento, o leite longa vida (28,04%), o fubá de milho (24,67%), a maçã (24,28%) e a margarina (21,47%). O único dos selecionados que registrou queda em 12 meses foi o arroz, que recuou 10,8% até maio, após ter disparado de preço durante a pandemia de covid-19. A salsicha (10,78%) e o fermento (8,2%) também avançaram de preço, assim como as bebidas associadas à comemoração de São João, como o vinho (4,31%) e a cerveja (7,3%).

Os preços salgados se tornaram um problema delicado para a cozinheira Ana Carolina, que precisou negociar e abrir mão de uma parte de seus lucros. "As pessoas também estão com menos recursos. Nós repassamos uma parte do preço para os clientes, mas absorvemos a outra para poder tornar viável o trabalho de retorno das festas juninas", disse. "Tivemos que mudar a forma de fazer compra, optar por promoções, em quantidade maior e negociar com nossos fornecedores."

A economista Larissa Naves de Deus atribui o aumento de preços aos reflexos da pandemia, os eventos climáticos severos e às questões políticas, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que impactaram os custos de produção a nível global. "Ainda que o Banco Central brasileiro venha subindo a taxa de juros para conter a alta inflacionária, entende-se que este não é o instrumento capaz de lidar com fatores relacionados à oferta, custos produtivos e outros que não a demanda agregada", afirmou.

Mesmo com o aumento dos preços dos alimentos, Ana Carolina espera vender mais neste ano com a volta da comemoração tradicional no presencial. "O número de festas já reservado é bastante alto, inclusive em relação ao ano pré-pandemia. As pessoas continuam animadas com a possibilidade de se reunir e fazer confraternizações. Temos boas expectativas", afirma.

Estadão
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