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Decisão do Fed faz dólar cair para R$ 5,06, menor nível em 5 meses, e diminui perda do Ibovespa

Encerrando na linha dos 112 mil pontos, o principal índice da B3 teve queda menor após decisão sobre juros do do BC americano

1 fev 2023 - 19h52
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O Ibovespa acentuou perdas na primeira metade da tarde, cedendo no intradia a linha dos 112 mil e depois a dos 111 mil pontos, chegando na mínima da sessão aos 110.729,47 antes da decisão sobre juros do Federal Reserve (Fed) e da coletiva do presidente do BC americano, Jerome Powell, eventos mais aguardados do dia. O comitê americano anunciou, como esperado, elevação da taxa de juros em 0,25 ponto percentual, apesar de desaceleração do ritmo de alta.

O movimento do índice acompanhou avanço firme dos juros futuros no meio da tarde, e a consolidação de alta, ainda que moderada - e ao final revertida -, do dólar frente ao real. A moeda americana encerrou o dia em baixa de 0,32%, cotada a R$ 5,06, menor valor de fechamento desde 29 de agosto de 2022 (R$ 5,0334). Com isso, o dólar já acumula baixa de 1,01% na semana e de 4,16% no ano.

O mercado de câmbio doméstico foi engolfado na reta final dos negócios pela onda de desvalorização mais aguda da moeda americana no exterior. Embora Powell tenha, assim como o comunicado do Fed, acenado com continuidade de aperto monetário e manutenção de juros elevados por mais tempo, os investidores parecem ter se apegado à menção de que o processo de desinflação da economia americana já está em curso.

No mundo, o dólar recuou ante boa parte dos rivais. No fim da tarde em Nova York, o dólar recuava a 128,85 ienes, o euro avançava a US$ 1,0995 e a libra tinha alta a US$ 1,2380. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, caiu 0,86%, a 101,217 pontos.

No fechamento, apoiada na fala de Powell a partir das 16h30, a referência da B3 mostrava queda bem menor, de 1,20%, aos 112.073,55 pontos, saindo de máxima a 113.597,64, pouco distante da abertura aos 113.429,60 pontos. Na semana, após ter acumulado ganho de 0,99% de segunda a terça-feira, o Ibovespa vira ao negativo, com recuo de 0,22% até esta quarta-feira.

No ano, o Ibovespa sobe agora 2,13%, após ter encerrado janeiro com ganho de 3,37% no mês, o primeiro desde outubro. O giro financeiro desta quarta-feira subiu para R$ 32,6 bilhões.

Hoje, antes de Powell, a piora do Ibovespa era puxada por acentuação de perdas em Petrobras no miolo da tarde, quando superavam os 2%, enquanto os contratos futuros de barris de petróleo Brent (abril) e WTI (março) mostravam queda superior a 3% na sessão, em dia de manutenção pela Ope dos níveis atuais de produção.

"Vale já caía mais de 2% desde cedo após os dados sobre produção, divulgados na noite anterior. E à tarde Petrobras colocou pressão a mais no Ibovespa, o que se fez acompanhar pouco depois pelas ações de 'bancões'", diz Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, indicando que o movimento de vendas pode ter sido liderado por investidores estrangeiros, que vinham muito ativos na ponta compradora de ações na B3, recentemente.

Tanto as ações de Petrobras e da Vale, gigantes das commodities, como as de grandes bancos estão entre as preferidas dos estrangeiros. Com a cautela vista nesta 'superquarta' de Fed e Copom, Petrobras fechou em baixa de 1,97% (ON) e de 1,38%

(PN) e Vale (ON), de 1,11%, enquanto as perdas entre os grandes bancos chegaram a 5,53% na Unit do Santander (mínima do dia no fechamento), que abre amanhã a temporada de balanços das instituições financeiras no Brasil.

Na ponta negativa do Ibovespa, além de Santander Brasil, destaque também para Eztec (-5,12%), Raízen (-4,26%) e Natura (-3,78%). No lado oposto, BRF (+7,66%), Marfrig (+5,32%) e São Martinho (+4,72%).

"Mais tarde, para o Copom, o mercado estará muito atento à avaliação do comitê de política monetária do BC sobre o balanço de riscos, tendo em vista que os boletins Focus têm trazido, semanalmente, aumento das projeções para a inflação", observa Paulo, da Manchester.

A agenda de dados americanos, pela manhã, trouxe leitura sobre geração de vagas de trabalho no setor privado, da ADP, "bem mais fraca do que a expectativa", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Os dados da ADP são divulgados na antevéspera do relatório oficial sobre o emprego nos Estados Unidos, mas ambos os levantamentos costumam guardar pouca correlação apesar de o ADP ser observado como uma espécie de prévia. "Há um sinal de esfriamento da economia americana, o que se refletiu no dólar ante uma cesta de moedas de referência" após a leitura sobre esses dados de emprego, diz Camila.

Leituras mais acomodadas sobre dados de emprego são um fator que corroborava a impressão de que Powell poderia vir, na coletiva desta tarde, menos 'hawkish' com relação à política monetária, tendo o mercado já precificado que haveria desaceleração do ritmo de alta dos juros de referência dos Estados Unidos, hoje, de um grau de meio para 0,25 ponto porcentual, atingindo agora a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano - o que afinal se confirmou, nesta tarde.

Comunicado do Fed

No comunicado sobre a decisão, o comitê de política monetária do Fed apontou que altas de juros são necessárias para atingir postura monetária "suficientemente restritiva", o que resultou, num primeiro momento, em algum aprofundamento de perdas dos índices de ações em Nova York e em progressão dos juros dos Treasuries, especialmente do vencimento de 2 anos, mais correlacionado á perspectiva de curto prazo - na máxima do dia, o yield de 2 anos foi à casa de 4,25%, mas mudou de direção durante a entrevista coletiva de Powell, caindo a 4,08% na mínima intradia.

Em paralelo à oscilação vista nos rendimentos dos Treasuries, entre o comunicado e a fala de Powell, os três índices de referência para ações em Nova York (Dow Jones, S&P 500 e Nas-daq) viraram para o positivo, e assim fecharam após renovarem máximas da sessão, com o sinal dado pelo presidente do Fed de que o pico de inflação nos Estados Unidos provavelmente ficou para trás.

"O Fed está cada vez mais próximo da sua meta de redução da inflação e colecionando evidências que justificam esse entendi-mento. Ainda é incerto, mas, na minha opinião, estamos mais próximos da sonhada etapa de 'pouso econômico suave', embora ainda não seja seguro descartar o risco de recessão", observa em nota Carlos Vaz, CEO da Conti Capital, para quem, com base nos índices econômicos divulgados nos últimos meses, a fase mais dura da crise nos EUA, com pico inflacionário, pode já ter ficado para trás, conforme apontado também por Powell.

"É cedo para dizer que o problema está resolvido, mas está endereçado", resume Bruno Mori, economista e sócio fundador da Sarfin, ao se referir aos comentários do presidente do Fed sobre a inflação americana.

Por outro lado, Powell afirmou também que o comitê de política monetária não está discutindo eventual pausa no aumento de juros em curso nos Estados Unidos, e que, caso as projeções do BC se confirmem, também não deve ocorrer um corte nas taxas neste ano, como já havia sinalizado após a reunião de dezembro.

"Entendemos os danos que a inflação alta causa e estamos determinados a reduzi-la", disse hoje o presidente do BC americano, logo na abertura da coletiva sobre a decisão de política monetária. "Precisamos ver evidências substanciais para ficarmos confiantes na queda da inflação", observou também Powell, acrescentando que o Fed tem tomado "medidas enérgicas" para conter a demanda. "Efeitos do aperto monetário ainda serão sentidos completamente", afirmou o dirigente do Fed, reconhecendo que "reduzir a inflação demandará crescimento abaixo do esperado".

Após o início da fala de Powell nesta tarde, o CME Group mostrava avanço da possibilidade de uma elevação de juros em 25 pontos-base pelo Federal Reserve na próxima reunião, em mar-ço, a 86,3%, de 82,4% ontem. Já a probabilidade de o Fed não elevar juros e manter a taxa atual diminuiu de 17,3% para 13,4%.

"A atenção esteve hoje totalmente voltada ao Fed, antes da decisão do Copom, à noite. Após terem operado em estabilidade em grande parte do dia, todos os vértices de juros subiram, especialmente a ponta longa, com a expectativa para a decisão e os sinais sobre juros no Brasil e, possivelmente também, por alguma cautela sobre a eleição para as presidências da Câmara e do Senado, com algum efeito, dúvida, sobre o que o resultado poderá trazer para a condução fiscal", diz Gabriel Matesco, especialista em renda variável da Blue3.

Estadão
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