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Cotações de minérios sobem e levam 40 maiores mineradoras do mundo a faturar 32% mais em 2021

Os dados da consultoria PwC confirmam mineração como um dos setores de melhor desempenho diante da pandemia de covid-19

10 ago 2022 - 11h50
(atualizado às 13h12)
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RIO - As 40 maiores mineradoras do mundo faturaram 32% mais no ano passado, segundo relatório da consultoria PwC obtido pelo Estadão. O mesmo levantamento aponta que as empresas devem faturar 16% a mais neste ano em relação a 2021.

Os dados da PwC confirmam a mineração como um dos setores de melhor desempenho em meio aos impactos desiguais da covid-19 sobre a economia, reforçados pelos choques associados à guerra na Ucrânia. Apesar dos ganhos, o cenário para os próximos anos está longe de ser um mar de rosas. Por um lado, o boom nas cotações de minerais vem perdendo fôlego desde o fim do ano passado. Por outro, tanto para gigantes, como a Vale, quanto para pequenas mineradoras nacionais, é hora de correr para se posicionar diante de mudanças no setor, causadas pela transição energética para uma economia de baixo carbono.

Gigantes da mineração, como a Vale, e pequenas mineradoras nacionais serão impactadas pela transição energética para uma economia de baixo carbono Foto: Fabio Motta/Estadão

O resultado das mineradoras foi turbinado pela rápida recuperação da demanda por bens industriais desde o segundo semestre de 2020, que impulsionou as cotações dos minerais. O boom perdeu fôlego e vem passando por volatilidade desde o fim do ano passado, mas, ainda assim, a PwC projeta que as 40 maiores mineradoras do mundo registrarão receita agregada de US$ 833 bilhões este ano (R$ 4,48 trilhões, pela taxa de câmbio média de julho), alta de 16% sobre 2021.

Importância da China

Diante das incertezas sobre o ritmo do crescimento econômico da China e das expectativas de que a economia global entre em recessão - por causa da ação dos bancos centrais para conter a inflação elevada que se espalha mundo afora -, o crescimento da receita das 40 maiores mineradoras este ano já ocorrerá sob condições menos favoráveis. Se, em 2021, o lucro líquido das maiores produtoras globais saltou 127%, para US$ 159 bilhões (R$ 854 bilhões), para este ano, a PwC projeta queda de 1%.

O tamanho do apetite chinês afeta demanda e preços de todos os minerais, mas o minério de ferro - transformado no aço usado em obras de infraestrutura, na construção de prédios comerciais e residenciais e na fabricação de bens industriais - é mais sensível. As cotações médias do primeiro semestre ficaram 31,3% abaixo do visto na primeira metade de 2021, segundo o Ibram, entidade que representa as mineradoras nacionais.

Grande produtor de minério de ferro, o Brasil sentiu a perda. O faturamento do setor no País somou R$ 113,2 bilhões no primeiro semestre, 24% abaixo de igual período de 2021, informou o Ibram no fim de julho. O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, creditou o desempenho à redução do ritmo da economia da China, principal compradora do minério de ferro brasileiro.

Adriano Correia, sócio da PwC no Brasil, coloca no topo das preocupações a crise no mercado imobiliário chinês. Ainda assim, uma vez que uma solução para essa crise seja encaminhada, e a esperada recessão na economia global passe, haveria uma retomada da demanda pelos minérios.

Redução de emissões de carbono

Em paralelo ao cenário conjuntural, a transição energética para uma economia de baixo carbono lança incertezas sobre a demanda de longo prazo. Na visão do relatório da PwC, assim como mostrou o Estadão no ano passado, na série de reportagens "Carbono Zero", a necessidade de redução de emissões de carbono nas atividades econômicas deverá provocar uma revolução na mineração.

Diferentemente do setor de petróleo e gás, a mineração deverá seguir com demanda garantida no longo prazo, mas com um novo mix de produtos. Se o carvão assume o papel de vilão, a eletrificação dos transportes e a necessidade de ampliar, e muito, a geração de eletricidade via fontes renováveis impulsionam a produção dos "minerais críticos", com destaque para cobre, lítio e níquel, usados em linhas de transmissão e baterias.

Para a PwC, ainda que as mineradoras estejam com os caixas turbinados pelos resultados recentes, a revolução exigirá rapidez para redirecionar investimentos. As mudanças também poderão mudar o ranking das maiores do setor, que tem a brasileira Vale em terceiro lugar - por causa de fusões e aquisições e do crescimento de empresas menores focadas nos novos minerais. E até permitir a chegada de novos atores - grandes compradores, como a Tesla, fabricante de carros elétricos do bilionário americano Elon Musk, poderão resolver produzir eles mesmos os insumos para baterias.

Pandemia e guerra na Ucrânia

O relatório da PwC dedica uma página para ressaltar impactos dos riscos geopolíticos associados à pandemia e à guerra na Ucrânia, mas a executiva Ana Cabral-Gardner vai além. Codiretora executiva da Sigma Lithium, fabricante de produtos de lítio criada em 2012 para desenvolver um projeto no norte de Minas Gerais, Cabral-Gardner vê as implicações geopolíticas da invasão militar russa ao país vizinho como o "empurrão" que faltava para os Estados Unidos mergulharem de vez na transição energética.

Para a executiva, a eletrificação dos transportes, tanto veículos particulares quanto ônibus, será rápida. "No fundo, o problema de infraestrutura (de pontos para carregar as baterias dos veículos elétricos) não é um 'big deal'. É mais uma ansiedade das pessoas por autonomia. Com a agenda econômica, o empurrão politico para os Estados Unidos assinarem o cheque (para financiar a transição energética) veio", diz Cabral-Gardner, dando mais peso à agenda econômica e geopolítica do que às mudanças climáticas como motor da transição energética, especialmente nos Estados Unidos.

A aposta é de que o crescimento da demanda por produtos de lítio, níquel e cobre será rápido, na esteira de investimentos bilionários em fábricas de baterias. No caso do cobre, devem faltar entre 6 e 8 milhões de toneladas do metal em 2030, como mostrou o Estadão ano passado, evidenciando a necessidade de as mineradoras se movimentarem para ampliar a oferta.

A Vale já anunciou projetos para a ampliação da produção de cobre no Brasil, no Canadá e na Indonésia. Desde 2019, após o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG), a companhia vem reforçando o posicionamento de focar em produtos de "qualidade", seja com uma produção mais sustentável de um minério de ferro mais puro seja com mais espaço para os minerais demandados pela transição energética em seu portfólio.

O vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores da mineradora, Gustavo Pimenta, reforçou a estratégia em entrevista ao Estadão/Broadcast em junho: "Hoje, provavelmente, uns 5% do que vendemos vão para o mercado de veículos elétricos. Achamos que vai haver uma revolução, principalmente nos Estados Unidos. Isso poderá chegar a 30% ou 40%", disse o executivo naquela ocasião.

Fontes renováveis

Apesar dos planos da Vale, que incluem projetos no exterior, o relatório da PwC coloca o Brasil relativamente fora do mapa dos "minerais críticos" para a transição energética. Segundo Correia, isso não significa estar de fora da revolução da mineração. A transição para uma economia de baixo carbono também garantirá demanda de longo prazo pelo minério de ferro produzido no País. Afinal, usinas eólicas e solares, além da fabricação de carros elétricos, seguirão demandando ferro. Só que será preciso garantir sustentabilidade socioambiental produção, ressalta Correia.

"O Brasil é muito forte no minério de ferro e tem algumas vantagens que pode aproveitar nesse assunto da transição energética. A vantagem competitiva, que não estamos aproveitando, é a matriz elétrica muito verde e sustentável", diz o sócio da PwC.

Segundo Correia, a participação de fontes renováveis de geração de eletricidade na matriz do Brasil é significativamente maior do que nos demais produtores de minérios, como Chile, Austrália e Canadá. O caso da Anglo American reforça a avaliação. A operação brasileira da gigante anglo-sul-africana foi a primeira unidade da multinacional a se tornar totalmente "autoprodutora" da energia que consome, informou a companhia, por escrito. A Anglo consome 300 MW médios de eletricidade em suas operações no Brasil. A partir deste ano, todo esse consumo passou a ser fornecido por fontes renováveis (eólica, solar, hidrelétrica), após a "negociação de contratos de longo prazo" de fornecimento.

Estadão
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