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Comida de 'astronauta' para aliviar desastres

Sócio de empresa de alimentos desidratados leva produtos a vítimas de chuvas na Bahia e até à Ucrânia

23 mai 2022 - 05h10
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A rotina do empresário baiano Rafael Romano Mascarenhas mudou bastante nos últimos dois anos. Se antes sua principal preocupação eram as obras da construtora Mega Realty, que fundou em 2015, ele passou a frequentar locais que passaram ou continuam a sofrer com catástrofes - naturais ou causadas pelo homem. Somente em 2022, foi levar alimentos para regiões como o sul da Bahia e Minas Gerais, que foram castigadas pelas chuvas durante o verão, e até mesmo à Ucrânia, país invadido pelo exército russo em fevereiro.

As visitas, no entanto, não foram para dar somente um apoio aos necessitados. Durante a pandemia, ele decidiu criar a Simple Nutri, empresa especializada em refeições desidratadas. Com três sócios, Mascarenhas percebeu que, apesar de seu negócio principal estar trazendo bons resultados, faltava realizar algo que também tivesse um efeito positivo na sociedade.

Por isso, ao saber da existência de uma fábrica no Rio Grande do Sul que faz esse tipo de desidratação para grandes indústrias, pensou que a mesma poderia criar refeições que fossem fáceis de transportar e, principalmente, saborosas. Resultado: fechou uma parceria com essa indústria e criou um cardápio exclusivo. Entre as opções, que ficam prontas em 15 minutos cozinhando em água quente, estão sopa de arroz com carne seca e mandioca, arroz à grega e sopa de macarrão com carne.

Apesar de não ser uma organização sem fins lucrativos - ou seja, é uma empresa que quer gerar lucro -, Mascarenhas diz que o foco principal da Simple Nutri é ajudar no combate à fome.

Para que esse objetivo seja atingido, o empresário aposta no tipo de alimento que a empresa produz. Por serem alimentos desidratados, as refeições não perdem as propriedades nutricionais e possuem um ano de vida útil. E, como não têm necessidade de refrigeração, o transporte é bem mais barato do que de outros tipos de comida.

Até agora, a empresa já enviou 70 toneladas de refeições para diversas áreas afetadas. A única que Mascarenhas não visitou pessoalmente para a entrega foi Petrópolis (RJ), que sofreu com temporais em fevereiro. "Queremos ser mais do que um fornecedor de alimentos, mas gerar uma transformação total no ambiente em que vamos atuar", diz.

Quem paga a conta?

Já que a empresa não visa a filantropia, Mascarenhas e os sócios não têm como queimar dinheiro simplesmente por boas ações. Por isso, a empresa passou a se associar com organizações não governamentais brasileiras e internacionais (algumas ligadas à Organização das Nações Unidas, à Cruz Vermelha, à Care e à Gerando Falcões) e governos para fazer com que os alimentos chegassem a quem precisa deles.

Algumas empresas também apoiaram a Simple Nutri, mas a ideia é aumentar a quantidade de parceiros. Um dos exemplos aconteceu exatamente no envio de refeições para a Ucrânia. Na primeira de três vezes que a Simple Nutri atuou no país europeu, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao governo federal, solicitou dez toneladas de alimentos em três dias e enviou todos os alimentos por meio dos aviões da Força Aérea Brasileira.

O segundo envio foi feito por meio de uma parceria com o UniãoBR, movimento de empresas e da sociedade civil para diluir os impactos causados pela pandemia. A Simple Nutri conseguiu negociar um transporte gratuito por meio de um avião da Latam que estava indo para a região. A última entrega foi em parceria com a Care, uma das maiores agências de ajuda humanitária do mundo.

Até o fim do ano, Mascarenhas acredita que a Simple Nutri terá enviado 100 toneladas de alimentos para diversas regiões. Para os próximos anos, a ideia é ampliar tanto a gama de produtos quanto o público alcançado. Por isso, a empresa pensa em atuar em parceria com programas sociais para fornecer uma alimentação mais barata e de qualidade.

Ao mesmo tempo, para não ficar dependente apenas de contratos esporádicos, Mascarenhas também olha para segmentos como o que se dedica a praticantes de esportes de aventura. "É um mercado muito grande nos Estados Unidos, e acredito que podemos aproveitar essa área por aqui", diz ele, que garante que todas as refeições não têm gosto de ração. "São muito gostosas."

Estadão
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