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Moeda turca desaba, abala mercado global e faz dólar disparar a R$ 3,86

Influência de Tayyip Erdogan sobre a política monetária e aumento da tensão com EUA fizeram o dólar subir mais de 15% ante a lira turca, empurrando outras moedas emergentes para baixo

10 ago 2018 - 10h59
(atualizado às 21h47)
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A fragilidade da moeda turca, a lira, e temores de que o país não honre seus compromissos contaminaram o mercado global ontem. No Brasil, o resultado foi a forte alta do dólar (1,75%), que fechou o dia cotado a R$ 3,86, e a desvalorização do Ibovespa, que perdeu mais de 2 mil pontos e terminou em baixa de 2,86%, aos 76,5 mil pontos.

O cenário que já era turbulento se agravou com a influência do presidente Tayyip Erdogan na política monetária da Turquia e com o aumento das tensões entre o país e governo americano. Erdogan pediu aos turcos que troquem ouro e divisas pela lira para defender a moeda no que chamou de "batalha nacional", enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que a relação de seu país com os turcos "não está boa neste momento" e autorizou tarifas mais altas sobre as importações do país.

O dólar fechou o dia com alta de 15,65% sobre a lira turca. "O movimento da lira preocupa praticamente a todos", escreveu a corretora H.Commcor em relatório. "Os investidores (estão) acionando o 'modo pânico' em meio à preocupação com a solvência daquele mercado."

Mais cedo, o jornal Financial Times apontou que o Banco Central Europeu (BCE) está preocupado com a forte exposição de grandes bancos da zona do euro - como BBVA, UniCredit e BNP Paribas - à Turquia. As bolsas europeias caíram fortemente com destaque para as de Milão (2,5%) e de Frankfurt (1,9%).

Na avaliação do economista John Higgins, da Capital Economics, as crescentes dificuldades em território turco não devem causar muitos problemas em outros lugares, incluindo países emergentes. "As fragilidades no setor bancário da Turquia estão chamando mais a atenção agora do que a maioria dos outros mercados emergentes", apontou o economista. Ele lembra que os problemas da nação euro-asiática são apenas mais um obstáculo entre os muitos que surgiram nos últimos meses: a desaceleração da economia chinesa, as altas de juros em economias avançadas e a guerra comercial entre Estados Unidos e China.

No Brasil, a queda na Bolsa foi generalizada, com ênfase nos papéis de instituições financeiras. As ações ordinárias do Banco do Brasil caíram 5,51%, seguidas por Bradesco PN, com queda de 4,98% e de Itaú, com recuo de 3,63%.

Para analistas do mercado financeiro, o efeito Turquia no Brasil foi acentuado pelas incertezas locais, pelo desempenho mais fraco de algumas empresas de capital aberto e pelo cenário eleitoral. O desempenho de Geraldo Alckmin (PSDB) no debate eleitoral promovido na noite de quinta-feira pela TV Bandeirantes foi considerado "mais do mesmo". Pesquisas regionais encomendadas por empresas financeiras também continuam a mostrar Alckmin estagnado, enquanto o deputado Jair Bolsonaro (PSL) cresce.

Estadão
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