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Fraga: Com o Brasil quase falido, é preciso repensar gastos

Em evento do grupo 'Derrubando Muros', ex-presidente do Banco Central diz que quase 80% dos recursos do País são gastos com folha de pagamento e previdência

14 set 2021 - 22h35
(atualizado em 15/9/2021 às 07h28)
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O economista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, afirmou hoje que, quantitativamente, o Estado brasileiro está em situação pré-falimentar e que é preciso repensar as prioridades dos gastos públicos para mudar essa situação. "Algo precisa acontecer, pois hoje essas prioridades espelham a captura do Estado, o sistema político nacional", destacou ele, em evento do grupo 'Derrubando Muros', movimento que reúne empresários, investidores, políticos e intelectuais em oposição ao governo de Jair Bolsonaro.

Armínio Fraga prevê dificuldades financeiros
Armínio Fraga prevê dificuldades financeiros
Foto: Renato S. Cerqueira / Futura Press

Para Arminio, a comparação internacional mostra que o Estado brasileiro é grande para um País de renda média. Avaliando os dados pré-pandemia, o gasto ficou entre 30% e 35% do Produto Interno Bruto (PIB). Nesse cenário, os gastos sobem e os investimentos caem. "O Brasil tem uma característica fora da curva global. Quase 80% de seus recursos são gastos com folha de pagamento e previdência. Esse número supera em uns 20% o topo dos demais países."

Junta-se a isso o fato de o déficit primário estar negativo desde 2014. Isso significa que o Brasil está tomando dinheiro emprestado para pagar juros, o que eleva ainda mais a dívida, hoje acima de 90% do PIB. "Esse é um número alto para um país com a nossa história." Na avaliação de Arminio, em algum momento será preciso encarar os problemas de frente e repensar as prioridades dos gastos. Trazer o saldo primário para o terreno positivo não será suficiente para equilibrar a situação, disse o ex-presidente do BC.

Mas ele disse acreditar que um governo bom e com projeto desenhado conseguirá colocar o País nos trilhos do crescimento. Hoje, diz o economista, há espaço para crescer em todas as áreas e melhorar os serviços. "Precisamos evoluir muito. Estamos há 40 anos com crescimento muito baixo, mesmo nos melhores momentos, como FHC e Lula (1.º governo). A pergunta que temos de fazer é por que nós, como nação, não conseguimos nos organizar e fazer melhor as coisas de forma inclusiva e sustentável?"

Em relação à reforma do Estado, Arminio afirmou acreditar que é possível atacar o problema de forma rápida e eficaz com instrumentos já existentes. Um desses caminhos está na Constituição e permitiria avaliar o servidor público. "Não consigo entender como não se avalia um servidor público. Isso está há 23 anos esperando."

O economista disse que, no geral, o Estado pouco planeja, administra mal e quase não avalia. "É fundamental que se crie uma cultura de justificar tudo que se faz. É preciso administrar com rigor e avaliar. O Brasil preciso de um modelo de RH para melhorar as coisas."

Tradicionalmente otimista com as questões políticas e econômicas do País, Arminio disse que infelizmente "chegamos a um ponto em que temos de contar um pouquinho mais com a sorte para as coisas darem uma ajeitada". Mas ele ainda disse acreditar que há tempo para encontrar uma terceira via, mesmo que seja para melhorar o debate eleitoral. "No curto prazo, não é para se desesperar, mas é preciso se preocupar com certeza."

Estadão
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