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Dólar dispara a R$ 5,72 com impasse em torno do Orçamento; Bolsa sobe 1%

Possibilidade do governo lançar uma nova PEC para ajudar no combate à covid, com recursos bancados por crédito extraordinário e fora do teto de gastos, preocupou os investidores

12 abr 2021 - 13h47
(atualizado às 18h37)
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O dia foi tenso para o mercado de câmbio nesta segunda-feira, 12, com os investidores de olho na possibilidade do governo lançar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para renovar os programas de combate aos efeitos da covid-19 via crédito extraordinário, sem ter de acionar o estado de calamidade e, possivelmente, descumprindo a regra do teto de gastos. Em reposta, o dólar fechou em alta de 0,84%, a R$ 5,7224. A Bolsa brasileira (B3), no entanto, foi na contramão e encerrou na máxima do dia, em alta de 0,97%, aos 118.811,74 pontos.

Na máxima do dia, a moeda foi a R$ 5,7423, maior nível já alcançado em abril - pela manhã, ela chegou a cair a R$ 5,63. Hoje, o dólar para maio fechou em alta de 0,96%, a R$ 5,7445. Com isso, o real começou a semana com o pior desempenho ante o dólar no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas .

"Mais contabilidade criativa? Brasília não para de querer conspirar contra ao Brasil", comentou um gestor de multimercados ao falar da proposta de PEC para a covid, que pode tirar parte dos gastos da saúde do teto de gastos. "Toda essa discussão acontecendo ainda sem nenhum definição do Orçamento de 2021." Em meio ao imbróglio sobre o orçamento, o Estadão/Broadcast publicou que há até uma proposta de Jair Bolsonaro viajar ao exterior, para que o presidente da Câmara, Arthur Lira, possa assinar o orçamento, sem o presidente correr o risco de ser responsabilizado por crime fiscal.

Caso esta solução venha a se confirmar, Bolsonaro estaria claramente entregando a "chave" do governo ao Centrão, sob o comando de Lira, disse uma fonte de mercado semanas atrás. Perdido o cabo-de-guerra, restaria saber qual a reação de Paulo Guedes e do quadro técnico da Economia ante a perda de influência: ficar ou sair.

A economista-chefe do banco Santander, Ana Paula Vescovi, comentou em live que já era para esse orçamento ter sido aprovado ao final de 2020. Ela lembrou ainda que no próximo dia 15 entra o período em que o Executivo precisa apresentar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022. A ex-secretária do Tesouro vê uma paralisia total para a aprovação deste Orçamento, em meio a restrições de recursos frente ao teto de gastos.

"Com relação ao Orçamento, o impasse continua com os líderes do Congresso e o governo não conseguindo chegar a um acordo sobre como ajustar as despesas obrigatórias a um nível confiável", observam os economistas para Brasil do JP Morgan, citando ainda para complicar o quadro de incerteza e ruídos políticos a decisão do ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso sobre instaurar uma CPI sobre a pandemia, prevista para esta terça-feira.

Nesse ambiente, a desconfiança de investidores estrangeiros com o Brasil aumentou. O Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, termômetro de risco-país do Brasil, foi negociado hoje em 221 pontos, e vem se mantendo nesse nível de 220 nos últimos dias, ficando em um dos patamares mais elevados desde outubro do ano passado.

Além disso, a moeda americana foi pressionada também pela espera dos resultados da inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que saem apenas amanhã. A aceleração do dado é vista como um importante indicador de recuperação da maior economia do mundo. A chance de uma retomada dos EUA também afetou ainda o mercado de títulos do Tesouro local, com investidores preferindo apostar na melhora do mercado americano do que nos índices acionários. Em resposta, o retorno do papel do Tesouro com vencimento em dez anos subia 1,672%, enquanto o de trinta anos se elevava a 2,341%.

Bolsa

Descolado da sessão negativa de Nova York, que também espera o resultado da inflação dos EUA, o Ibovespa iniciou bem a semana, com as ações de Petrobrás e bancos entre as vencedoras, em um pregão com poucos catalisadores. Com isso, a Bolsa eleva os ganhos do mês a 1,87% e limita as perdas do ano a apenas 0,17%, apesar dos ruídos sobre o Orçamento que rondam Brasília.

Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, o ponto atual do Ibovespa, a 118 mil, é "decisivo para o restante do mês e para definir o rumo no curtíssimo prazo". "Se finalmente conseguir romper esse patamar, a tendência de alta no curto prazo volta a ganhar força e temos como alvo a faixa de 120 mil, topo cravado em fevereiro".

No dia no qual Roberto Castello Branco foi oficialmente destituído do comando da Petrobrás - e o petróleo fechou em alta no exterior -, os papéis ON e PN da petroleira tiveram ganhos de 1,02% e 1,01% cada. Bradesco ON subiu 1,67%, Itaú teve ganho de 2,33% e Santander avançou 2,27%. Pão de Açúcar e Braskem subiram 9,79% e 7,82% cada. /ALTAMIRO SILVA JÚNIOR, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO

Estadão
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