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Com apetite ao risco no exterior, dólar cai 1,41% e fecha a R$ 4,8054

23 mai 2022 - 18h07
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O dólar encerrou a primeira sessão desta semana em queda de 1,41%, cotado a R$ 4,8054, menor valor desde 22 de abril. O dia foi marcado por apetite ao risco e enfraquecimento da moeda americana no exterior, sobretudo em relação ao euro. No início da tarde, a divisa chegou a romper o piso de R$ 4,80 e registrou mínima a R$ 4,7857.

Operadores relataram entrada de fluxo de recursos para a bolsa brasileira, em especial para ações ligadas a commodities, fechamento de câmbio por exportadores e redução de posições cambiais defensivas no mercado futuro.

A moeda brasileira e os ativos locais se beneficiam da perspectiva de estímulos econômicos na China, o que diminui os temores de uma desaceleração do PIB global e dá suporte aos preços das commodities. Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acenou com a possibilidade de retirar tarifas a produtos chineses (impostas no governo Donald Trump) justamente em momento de fragilidade do comércio internacional em razão da guerra na Ucrânia.

Relatos da mídia estatal chinesa dão conta de que Pequim vai fornecer abatimentos de créditos fiscais a mais setores econômicos e elevará o corte de impostos anuais em mais de 140 bilhões de yuans, para 2,64 trilhões de yuans. Na semana passada, o Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) cortou a taxa para empréstimos de longo prazo de 4,60% para 4,45%, para amenizar o tombo do setor imobiliário. A China também já iniciou um relaxamento de medidas restritivas prescritas pela política de covid-zero que minam o crescimento econômico.

"Estão vindo ventos externos positivos. A China dando estímulos para sustentar a economia significa boa perspectiva para commodities. Isso atrai investidores para a nossa bolsa e aumenta entrada de dólar do lado comercial", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que questões domésticas, como a aprovação da privatização da Eletrobras e o projeto de unificação da alíquota do ICSM sobre combustíveis e energia contribuem para alavancar os ativos locais nesta segunda-feira.

Com raras exceções, a moeda americana apresentou perdas frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes - trabalhou em queda superior a 0,90% a maior parte do dia e ameaçou romper os 102,000 pontos na mínima (102,040 pontos). Esse movimento teve como principal responsável a forte valorização do euro (acima de 1%), após a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sinalizar alta de juros em junho e dizer que o cenário de taxas negativas para depósitos na região deve terminar em setembro. No mesmo tom, o presidente do Banco da França e dirigente do BCE, François Villeroy de Galhau, afirmou, no Fórum Econômico Mundial de Davos, que uma alta de juro no curto prazo na região "está praticamente fechada".

Para Galhardo, da Treviso, a alta de juros na Europa atenua a tendência recente de fortalecimento da moeda americana no exterior, na esteira do processo de elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), que divulga a ata do seu último encontro de política monetária na quarta-feira, 25.

Se não houver episódios agudos de aversão ao risco no exterior, Galhardo prevê que o real pode seguir se apreciando e até o dólar romper R$ 4,60, dado que o Brasil ainda oferece condições atraentes para o investidor estrangeiro, como taxa de juros elevadas e uma bolsa ligada a commodities. "O dólar pode continuar em queda nas próximas semanas, mas deve retornar em agosto para um patamar de R$ 5 e pode até alcançar R$ 5,20 com a eleição para presidencial", diz Galhardo.

A última vez que o dólar fechou no patamar de R$ 4,60 foi em 20 de abril, véspera do feriado de Tiradentes. Na volta dos negócios, em 22 de abril, a divisa disparou e encerrou com alta de 4%, a R$ 4,8051, em meio a forte perda de ativos de risco provocada por sinais mais duros emitidos pelo Fed.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que o real foi beneficiado nesta segunda pela menor aversão ao risco no exterior, mas que o dólar deve voltar a subir no mercado doméstico. "A imprevisibilidade da gestão futura da política econômica e a proximidade da eleição presidencial vão se somar à correção para baixo das previsões de crescimento nos EUA com um juro mais elevado, superior a 3% ao ano", afirma Velho, em relatório.

Segundo operadores, o anúncio da desistência do tucano João Doria de concorrer à Presidência, o que pode levar a chamada terceira a se unir em torno do nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS), não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio nesta segunda-feira.

Estadão
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