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Cenário hostil a emergentes mantém estrangeiro fora em novembro, G20 e Fed ficam no foco

30 nov 2018 - 16h04
(atualizado às 16h43)
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A bolsa paulista caminha para fechar novembro com queda no fluxo de investimento estrangeiro pelo segundo mês seguido, reflexo de um ambiente global mais hostil a mercados emergentes, e também de certa hesitação com a mudança em relação a 2019, quando no Brasil assume o presidente eleito Jair Bolsonaro.

REUTERS/Paulo Whitaker
REUTERS/Paulo Whitaker
Foto: Reuters

Até o dia 27, as saídas de estrangeiros superavam as entradas em 3,8 bilhões de reais, após outubro ter encerrado com resultado negativo de 6,2 bilhões de reais, o que deixava o saldo acumulado em 2019 negativo em quase 10 bilhões de reais.

Em meio a tensões comerciais entre Washington e Pequim e perspectiva de taxas de juros mais elevadas nos Estados Unidos, bem como eventos desfavoráveis envolvendo outros emergentes, como Argentina e México, agentes financeiros externos preferiram adotar cautela antes de alocar no Brasil.

"Eles vão esperar a aprovação das reformas no Brasil para ficarem mais confortáveis em entrar no país de forma mais relevante", disse Pedro Menezes, membro do comitê de investimento de ações e sócio da Occam Brasil Gestão de Recursos.

De acordo com Daniel Gewehr, chefe de estratégia em renda variável para América Latina no Banco Santander Brasil, que teve reuniões no exterior com mais de 50 investidores recentemente, eles esperam medidas reformistas concretas ou um melhor direcionamento da magnitude da reforma da Previdência.

Menezes destacou que a performance mais forte da bolsa brasileira em relação a outros países e o cenário ainda nebuloso para emergentes tendem a manter os estrangeiros de fora, dado que uma equipe econômica aos olhos do mercado já está no preço.

Em 2018, o Ibovespa <.BVSP>, índice de referência da bolsa paulista, acumula alta de cerca de 17 por cento em moeda local. No México, onde foi eleito um governo com tendência mais à esquerda, o índice contabiliza queda de 15 por cento.

Para Will Landers, gestor de renda variável para a América Latina na BlackRock, a agenda liberal da equipe de Bolsonaro, contemplando privatizações e reformas, deve ter resultados positivos para o crescimento econômico e a as ações domésticas.

"A questão principal hoje vai ser o grau de sucesso da execução desta agenda", afirmou, ressaltando que a alta de mais de 10 por cento do Ibovespa em outubro mostra que o Brasil pode ter um bom desempenho com novos eventos positivos no país, mesmo com as bolsas globais caindo. 

A alta no mês passado é atribuída principalmente a compras de ações por investidores locais, antecipando um desfecho considerado mais positivo na eleição, principalmente o perfil econômico mais liberal do guru econômico de Bolsonaro e futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

"Investidores locais estão mais positivos: além dos fundos de ações, notamos que os fundos multimercado representam hoje mais de 21 por cento dos ativos sob gestão do Brasil e são relevantes também para explicar essa alta", acrescentou Gewehr.

FED E G20 SOB HOLOFOTE

Para José Alberto Tovar, sócio da Truxt Investimentos, muitos estrangeiros aproveitaram o rali de outubro para sair da bolsa e agora esperam algo mais palpável em termos de execução pelo próximo governo, além de estabilização no cenário externo.

Na quarta-feira, o chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, abriu a primeira fresta positiva para ativos de emergentes ao adotar um tom mais moderado em relação ao processo de normalização da taxa de juros nos Estados Unidos.

O chefe do banco central norte-americano disse que as taxas de juros nos EUA ainda estão baixas para padrões históricos e seguem abaixo do nível que seria neutro para a economia. Mas o mercado enxergou nas declarações um tom menos firme sobre a necessidade de novas rodadas de altas de juros.

Agora, as atenções se voltam para o encontro do G20, na Argentina, especialmente na reunião entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, no sábado, em meio a um embate comercial que tem preocupado investidores globalmente.

"Se Trump adotar no G20 um tom mais amigável, depois da sinalização feita por Powell e nada mais grave acontecer, podemos ver uma animada no apetite a risco, o que beneficia o Brasil", acrescentou Tovar.

De acordo com Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation, investidores estão um pouco temerosos com mercados emergentes em geral e o Brasil acabou sendo penalizado. Mas cada vez mais estrangeiros parecem se convencer da agenda positiva do novo governo. "Há muito fluxo para vir."

Em relatório mais cedo neste mês, estrategistas do BTG Pactual estimaram um fluxo adicional de cerca de 250 bilhões de reais se o nível de alocação em ações brasileiras por fundos globais e voltados para mercados emergentes (GEM, na sigla em inglês) retomar os patamares de 2014. [nL2N1XP0WL]

"Com a virada do ano, posse presidencial e uma maior visibilidade em relação às propostas, principalmente na parte fiscal, veremos entrada de capital estrangeiro na bolsa", avalia Claudio Pacini, chefe de Brasil na área de ações da corretora INTL FCstone nos EUA.

Para Rodrigo Galindo, sócio-gestor da Novus Capital, a falta de fluxo de estrangeiro no momento é uma grande oportunidade de alocar risco em ativos brasileiros para o próximo ano.

"O Brasil se destacará não só pela implementação da agenda liberal proposta pelo novo governo...como pelo momento do ciclo econômico interno, onde dados antecedentes de confiança e investimento começam a aparecer de forma muito positiva e serão uma mola propulsora para expansão de crédito de melhor qualidade, renda e emprego em um segundo momento", avalia.

O tom positivo é acompanhado por Marcelo Mesquita, sócio na Leblon Equities. "Apesar de um mundo complexo, se o Brasil fizer o dever de casa, o fluxo de investidores externos será enorme nos próximos anos", avalia.

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