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Campos Neto indica manutenção de política monetária do BC e faz apelo por reformas

26 fev 2019 - 18h57
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Indicado à presidência do Banco Central pelo presidente Jair Bolsonaro, o economista Roberto Campos Neto sinalizou em sua primeira fala pública que deve manter a atual postura do BC na condução da política monetária ao pontuar que cautela, serenidade e perseverança são valores que devem ser preservados.

 Campos Neto,  na CAE 26/2/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Campos Neto, na CAE 26/2/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que aprovou seu nome por unanimidade, ele fez enfática defesa das reformas e da menor presença no Estado na economia. O plenário do Senado também aprovou a indicação de Campos Neto.

Em outra frente, apontou que o BC deve estar preparado para um sistema financeiro do futuro, marcado por tecnologias como blockchain, inteligência artificial, identidade digital, pagamentos instantâneos e open banking, que estão, na sua visão, "alterando completamente" os modelos de negócios e serviços financeiros.

Segundo Campos Neto, é preciso avançar em mudanças que permitam o desenvolvimento do mercado de capitais, democratizando e garantindo o acesso a firmas e investidores, brasileiros e estrangeiros.

Sobre a política monetária, ele avaliou que o trabalho realizado pelo BC desde meados de 2016 foi "excelente", sendo bem-sucedido ao reduzir a inflação e balizar as expectativas.

"Esse trabalho só foi possível, a meu ver, com o reforço da credibilidade institucional, que se encontrava abalada pelos resultados negativos colhidos em 2015 e em parte de 2016", disse.

"Esse reforço se baseou na transparência, na cautela, na serenidade e na perseverança da condução da política monetária, valores que devem ser preservados e aprimorados no que for possível", completou.

A mensagem de cautela, serenidade e perseverança vinha sendo utilizada pela atual gestão do BC, comandada por Ilan Goldfajn, para sinalizar que só a lenta atividade econômica e a inflação bem comportada não eram suficientes para abrir espaço para eventual queda da taxa básica de juros, estacionada há quase um ano em 6,5 por cento ao ano.

Como pano de fundo para essa leitura, o BC vinha citando maior peso em seu balanço de riscos nos fatores que podem pressionar a inflação para cima: eventual frustração sobre a continuidade das reformas econômicas no Brasil e deterioração do cenário externo para economias emergentes.

Campos Neto afirmou nesta terça-feira que o país precisa avançar na estratégia dos ajustes e reformas, em particular, mas não apenas, na reforma da Previdência, para que possa colocar o balanço do setor público em trajetória sustentável.

"A estabilidade fiscal é fundamental para a redução das incertezas, o aumento da confiança e do investimento, e o consequente crescimento da economia no longo prazo", disse ele, após destacar que "há muito trabalho pela frente" para o país alcançar a recuperação plena da economia.

Também sabatinado pelo Senado, o indicado à diretoria de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, afirmou que os cenários econômicos brasileiro e mundial encontram-se em momento desafiador.

Sobre o quadro externo, Fernandes ponderou que o processo de reversão das políticas monetárias expansionistas nas economias avançadas tem potencial impacto negativo sobre a liquidez disponível aos emergentes. E lembrou que a desaceleração econômica em outros países, numa possível referência à China, pode impactar o Brasil.

"Alguns dos nossos principais parceiros comerciais vêm apresentando sinais de enfraquecimento em seu crescimento. Esse enfraquecimento pode ainda ser agravado por disputas comerciais vigentes entre algumas dessas economias", disse Fernandes.

"Esse cenário de risco apresenta também potencial redução de demanda, e preço, de matérias-primas comercializadas internacionalmente, por países emergentes como o Brasil", complementou.

RESERVAS E COMPULSÓRIOS

Tanto Fernandes quando Campos Neto apontaram que as reservas internacionais, atualmente na casa de 380 bilhões de dólares, funcionam como um seguro para os momentos de crise, servindo para suavizar os impactos de eventual deterioração da liquidez internacional sobre a economia brasileira.

O indicado à presidência do BC, inclusive, lembrou que outros mercados emergentes tiveram uma depreciação cambial muito maior que o Brasil, em momentos de volatilidade do mercado, por não terem reservas robustas.

Entretanto, Campos Neto se esquivou de responder sobre eventual venda de parte das reservas, limitando-se a apontar que o custo desse seguro atualmente está mais baixo. Antes de assumir o Ministério da Economia, Paulo Guedes chegou a dizer que poderia vender parte das reservas em caso de ataque especulativo, com o dólar se aproximando de 5 reais.

"Acho que não é o caso aqui discutir se vamos vender, se não vamos vender porque eu acho que esse é um tema que eu preciso, se aprovado nesta Casa, me aprofundar depois no Banco Central", afirmou Campos Neto.

"Mas gostaria de fazer uma colocação. Imagina que a reserva seria um seguro, imagina que o preço desse seguro era 14 por cento, que era a taxa de juros local, contra zero, que era a taxa de juros americana. Ou seja, era proporcional à diferença de 14 para zero. Hoje a taxa de juros local está 6,5 e a taxa lá fora está 2,5. Então o preço desse seguro ficou muito mais barato. Então se nós acharmos que o seguro não é pertinente é porque a probabilidade do sinistro caiu muito", acrescentou.

Já em relação aos compulsórios, ele disse que há espaço para mais mudanças adiante, mas destacou que o processo não será imediato e não terá impacto tão grande para redução do spread bancário no país.

MEDIDAS

Na sabatina, Campos Neto também fez menção aos dois projetos que devem ser analisados pelo Congresso Nacional e que são de interesse direto da autoridade monetária: a fixação de critérios para o exercício de cargo de dirigente em instituições financeiras públicas e a lei de autonomia do BC.

"A mudança (para autonomia formal), se aprovada por esse parlamento, trará ganhos para a credibilidade da instituição e para a potência da política monetária, reduzindo o tradeoff de curto prazo entre inflação e atividade econômica e contribuindo para a queda das taxas de juros e o crescimento econômico", afirmou.

Campos Neto disse ainda ver os programas de microcrédito e o estímulo ao cooperativismo como instrumentos interessantes para o Brasil avançar na educação financeira.

Ele também chamou a atenção para a necessidade de aumentar a transparência no setor financeiro, com instrumentos para provisão de informação e que deem maior visibilidade às opções à disposição de poupadores e investidores.

Em sua fala, Campos Neto se definiu como um liberal e disse estar "perfeitamente alinhado" à perspectiva do novo governo de aprofundar mudanças em direção à ampliação de espaços para a atividade privada em vários aspectos, e em especial no âmbito econômico.

Em compasso de espera pela aprovação à presidência do BC, Campos Neto foi nomeado em 10 de janeiro como assessor de Guedes, num movimento que denota a forte proximidade entre ambos.

Neto do renomado economista liberal Roberto de Oliveira Campos, que foi ministro do Planejamento nos primeiros anos do regime militar, Campos Neto era diretor de tesouraria do Santander Brasil e participou de reuniões de transição de governo antes mesmo de ser confirmado por Guedes como indicado ao posto de presidente do BC.

A CAE também aprovou por unanimidade o nome de Fernandes, que mais tarde teve o nome avalizado pelo Senado, e do indicado à diretoria de Organização do Sistema Financeiro do BC, João Manoel Pinho de Mello.

(Com reportagem adicional de Jamie McGeever e Maria Carolina Marcello)

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