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Campos Neto e Guedes negam divergências; presidente do BC reforça preocupação comum com fiscal

27 nov 2020 - 07h51
(atualizado às 08h21)
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, negaram ter qualquer divergências após declarações do ministro.

Presidente do BC, Roberto Campos Neto. REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente do BC, Roberto Campos Neto. REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Em entrevista ao SBT veiculada na noite de quinta-feira, Campos Neto afirmou que sua preocupação com a importância de o país passar a mensagem de disciplina fiscal está em linha com o pensamento do próprio Paulo Guedes e de sua equipe.

"Nós temos um pensamento muito parecido", afirmou Campos Neto, um dia depois de Guedes tê-lo criticado por comentários de que o país precisa de um plano que indique aos investidores preocupação com a trajetória da dívida.

Por sua vez Guedes explicou, segundo o jornal Valor Econômico, que a fala feita por ele no dia anterior não tinha sido direcionada a Campos Neto, e sim para a imprensa, que o questionou na véspera sobre credibilidade e relacionando o tema à fala de Campos Neto.

Na noite de quarta-feira, Guedes disse a jornalistas que o presidente do BC deveria ser questionado se tem um plano melhor para o país. "Pergunta qual o plano dele para recuperar a credibilidade. O plano nós já sabemos qual é, nós já temos", disse o ministro.

"Eu estava ecoando uma preocupação que havia sido dita pelo ministro, que é uma preocupação de que não podemos achar uma saída que seja uma saída que gere um gasto fiscal permanente, que gere um gasto fiscal alto", disse Campos Neto. "É importante estar dentro do teto de gastos. É importante passar uma mensagem de disciplina fiscal."

Campos Neto disse que havia conversado na manhã de quinta com Guedes sobre o episódio, o que também foi citado pelo ministro.

Questionado também sobre fala recente do ministro de que o país poderia sofrer hiperinflação se não lidasse com a questão fiscal, Campos Neto disse que a frase pode ter sido tirada de contexto, mas que, de fato, haveria o risco de uma "desorganização de preços", com desvalorização adicional do câmbio, aumento da curva de juros e do prêmio de risco.

"A gente pode interpretar que se, de fato, a gente não conseguir aplicar um sistema de disciplina fiscal em que a gente tem uma convergência da dívida no longo prazo... nós podemos, sim, caminhar para uma desorganização de preços", disse.

Sobre inflação, o presidente do BC reiterou avaliação de que a pressão recente é resultado de componentes que tendem a ser passageiros: a desvalorização do câmbio, aliada a um aumento dos preços das commodities; uma elevação dos preços da alimentação em domicílio, como resultado do isolamento social; e pagamento do auxílio emergencial.

Ele destacou que os preços de commodities como milho e soja já começaram a recuar e também chamou atenção para a valorização recente do câmbio. "O câmbio também, chegou a bater em 5,70 (reais por dólar), 5,80, voltou aí para a faixa de 5,30-5,35, a gente observa isso, sempre lembrando que o câmbio é flutuante."

Campos Neto também repetiu que o BC está pronto para atuar no câmbio se houver disfuncionalidade no mercado no final do ano, em meio a fluxos relacionados ao desmonte de posições de "overhedge" ou de saída de recursos de estatais voltados a compra de ativos no exterior.

O presidente do BC destacou que o processo de desvalorização do câmbio neste governo teve fases diferentes. Inicialmente, o movimento se deu em meio a uma queda dos prêmios de risco, com empresas optando por trocar dívida em dólar por dívida doméstica. Em um segundo momento, o real sentiu os efeitos da valorização global da divisa norte-americana e, em seguida, se descolou, sofrendo perdas maiores, afirmou Campos Neto.

"É uma fase que, na verdade, está espelhando um prêmio de risco maior, que em grande parte é o fiscal", disse.

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