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Buscas são retomadas em Brumadinho após normalização de barragem; Justiça bloqueia mais R$5 bi da Vale

27 jan 2019 - 16h43
(atualizado às 16h48)
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Equipes de resgate retomaram na tarde deste domingo os trabalhos de busca por centenas de desaparecidos em meio a um mar de lama provocado pelo rompimento de uma barragem de mineração da Vale em Brumadinho (MG) na sexta-feira, depois que uma barragem de água que apresentava risco de rompimento foi considerada segura pelas autoridades.

Bombeiro gesticula para helicóptero de resgate em área atingida pelo rompimento de barragem em Brumadinho (MG)
27/01/2019
REUTERS/Adriano Machado
Bombeiro gesticula para helicóptero de resgate em área atingida pelo rompimento de barragem em Brumadinho (MG) 27/01/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

De acordo com o tenente-coronel Flávio Godinho, porta-voz da Defesa Civil, equipamentos de monitoramento apontaram que a barragem 6, também da Vale, retornou para o nível de alerta 1, que não representa mais risco para moradores e para os bombeiros que trabalham na região.

Um alerta de possível rompimento da barragem soou às 5h30 da manhã em Brumadinho, levando a uma operação para a retirada de milhares de pessoas de suas casas na mesma região atingida pelo rompimento de uma barragem de rejeitos que deixou ao menos 37 mortos e 287 desaparecidos.

Devido ao alerta, os trabalhos de busca de desaparecidos foram suspensos, tanto devido aos riscos para as equipes como para concentrar a atuação na retirada de moradores nas áreas de risco.

"Retornamos para o risco 1, ou seja, a barragem nesse exato momento não oferece risco para as pessoas que moram e nem para os bombeiros, que voltaram para o trabalho de resgate", disse Godinho a repórteres em Brumadinho.

"A medição é feita a todo momento, houve drenagem de água e a medição da barragem mostrou que nesse momento ela não traz risco", acrescentou.

Inicialmente o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais estimou que 24 mil pessoas teriam que sair de casa devido ao alerta sobre a barreira de água, mas o número depois foi revisado para 3 mil pessoas, antes de o alerta ter sido suspenso pelas autoridades.

A Defesa Civil orientou as pessoas que saíram de casa devido ao alerta a retornarem. "As pessoas devem retornar para as suas residências, as vias de acesso estão liberadas para que isso aconteça", disse o porta-voz.

Segundo a Defesa Civil, 192 pessoas foram resgatadas com vida após a tragédia.

R$11 BI BLOQUEADOS

O Ministério Público de Minas Gerais informou neste domingo que a Justiça mineira bloqueou mais 5 bilhões de reais da Vale para garantir a reparação de danos causados às vítimas do rompimento, ampliando para 11 bilhões de reais o total de recursos da mineradora bloqueados pela Justiça devido ao incidente.

Segundo o MPMG, que solicitou o novo bloqueio à Justiça, o dinheiro bloqueado nesta ação se soma a outros 5 bilhões de reais bloqueados para a reparação de danos ambientais provocados pelo rompimento da barragem. Além disso, a Justiça estadual de Minas Gerais também acatou pedido do governo do Estado para bloquear outro 1 bilhão de reais da mineradora.

Procurada, a Vale não comentou de imediato o novo bloqueio.

Mais cedo, a empresa havia informado que assim que foi intimada da decisão de bloqueio de 1 bilhão de reais apresentou petição informando que fará o depósito do valor, sem necessidade de bloqueio judicial, e que estava "avaliando as providências cabíveis" quanto ao primeiro bloqueio de 5 bilhões de reais.

INDIGNAÇÃO

O trabalho de retirada de moradores desviou a atenção da busca por centenas de pessoas desaparecidas devido à avalanche de lama de rejeitos que atingiu comunidades e área administrativa da própria empresa depois do rompimento.

Imagens de TV mostraram barreiras sendo feitas na cidade, desviando pessoas de determinadas regiões e impedindo a passagem para certas áreas.

Famílias e amigos de luto por vítimas da tragédia foram forçados a deixar a cidade.

Renato Maia, um vendedor de 44 anos cuja filha do melhor amigo continua desaparecida, fugiu de casa em pânico no domingo de manhã. Por volta de meio-dia, ele e sua esposa esperavam no entorno da cidade que a polícia suspendesse um bloqueio, indignado com a situação.

"Estamos cansados da Vale... e isso está realmente piorando a situação", disse. "Foi uma grande tragédia e agora não sabemos o que pode acontecer."

O rompimento em Brumadinho é o segundo desastre do tipo evolvendo a Vale em pouco mais de três anos. O número de mortos já supera as 19 vítimas fatais do rompimento em 2015 de uma barragem em Mariana, também em Minas Gerais, da Samarco, uma joint venture da Vale com a BHP.

O rompimento da Samarco despejou cinco vezes mais rejeitos de mineração, porém em uma região mais remota. A tragédia de Mariana, no entanto, atingiu o rio Doce, o que faz dela o maior desastre ambiental da história do país.

O governo ordenou que a Vale suspenda as operações no complexo de mineração de Córrego do Feijão, local do rompimento da barragem na sexta-feira.

O diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, pediu desculpas sem assumir responsabilidade em uma entrevista na televisão no sábado, e prometeu que a empresa fará a sua parte.

A causa do rompimento permanecia incerta. Inspeções recentes feitas por uma empresa de auditora alemã, a TUV SUD, e pela própria Vale não indicaram nenhum problema com a barragem, segundo as empresas.

Schvartsman disse que todas as barragens de rejeitos da Vale foram verificadas após o desastre de 2015 em Mariana, e que revisões periódicas são realizadas.

O procurador da República José Adércio Sampaio disse à Reuters no sábado que o novo colapso de barragem de rejeitos de mineração pode mudar completamente o rumo das negociações sobre uma ação de 155 bilhões de reais movida contra a Samarco e suas donas (Vale e BHP) no âmbito da tragédia ocorrida há três anos.

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