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Busca por equilíbrio fiscal não deve ocorrer via aumento de impostos, diz presidente do Itaú

Para Candido Bracher, reforma tributária em discussão não é a mais 'adequada', pois eleva a carga do sistema financeiro; proposta do governo prevê que bancos terão alíquota de 5,8% da CBS, resultado da unificação do PIS/Cofins, ante os 4,65% que pagam hoje

4 ago 2020 - 12h28
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O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, afirmou que a busca pelo equilíbrio fiscal é essencial após o aumento do endividamento público por causa da pandemia, mas não deve ocorrer via a elevação de impostos. A atual reforma tributária em discussão, na sua visão, não é a mais "adequada" e "ideal" à medida que eleva a carga para o sistema financeiro, o que deve aumentar o custo do dinheiro.

"O equilíbrio fiscal após a expansão de gastos necessária em função da crise é muito importante, mas não deve ser buscado em função da carga de impostos, que já é extremamente elevada", disse, em teleconferência com a imprensa, nesta terça-feira, 4, para comentar o balanço do banco, que registrou lucro líquido recorrente de R$ 4,2 bilhões no segundo trimestre, valor 40,2% menor em relação ao mesmo período do ano passado.

Para ele, o aumento de impostos atua no "sentido contrário da expansão da economia". É preciso buscar, conforme ele, a simplificação de impostos e aqueles que "atrapalham menos o funcionamento da economia".

"Esperamos uma reforma tributária racional e que simplifique impostos. A que estamos vendo, não avaliamos todos os pontos, tem aumento de carga no sistema financeiro, o que inexoravelmente provoca aumento do custo do dinheiro. Não me parece adequada, ideal", destacou o presidente do Itaú.

A primeira fase da reforma tributária proposta pelo governo federal prevê a Contribuição de Bens e Serviços (CBS), resultado da unificação do PIS e Cofins. No caso dos bancos, está prevista uma alíquota de 5,8%, acima do que os pagam hoje, de 4,65%.

Ele também não vê como positiva a criação de um imposto semelhante à CPMF. "A CPMF não me parece ser o imposto mais eficiente, além de prejudicar cadeias econômicas com muitos agentes", avaliou.

Segundo Bracher, o aumento de gastos públicos frente à pandemia foi "justificado" e "razoável", mas tem de ser "pontual". Uma vez passada a crise, disse, é necessário retomar as "rédeas da área fiscal". "O governo precisará aprovar reformas. Se não forem feitas, a recuperação da economia será de vida curta em função do risco de elevação juros e volta da inflação", avaliou. "É o que ocorre quando o mercado entende que o endividamento público de um país tende a crescer fora do controle", acrescentou.

Investimento na XP

O presidente do Itaú Unibanco afirmou que o banco está satisfeito com o investimento na XP a despeito da briga deflagrada após uma campanha publicitária sobre remuneração e que incomodou a investida. "Não me referiria ao episódio como briga. A gente precisa separar o olhar para a XP em dois: investidores, quanto conglomerado, e como concorrente", disse.

Em campanha para evidenciar a plataforma de investimentos do seu banco de alta renda, o Personnalité, o banco jogou luz sobre a remuneração dos assessores de investimentos. Segundo Bracher, a iniciativa visou a celebrar a mudança na forma de remunerar a força de vendas do banco, focando o volume total de investimento do cliente e não nas opções escolhidas.

O executivo afirmou ainda que recebeu com "satisfação" o anúncio de que a XP também alterou a forma de remunerar sua força de vendas, encampando a iniciativa do banco. "Como investidor na XP, ficamos muito contentes. É isso que enquanto investidores queremos. Enquanto competidores, vamos atuar duramente e quem sai ganhando é o cliente", completou.

O presidente do Itaú vê a competição como uma "coisa maravilhosa" e que faz o banco ser melhor. "Competidores sempre nos forçaram a melhorar. É bom quando se pratica entre coisas que se admiram e se respeitam como é o caso aqui", disse ele a despeito de executivos da XP terem afirmado que o Itaú estaria "desesperado" e que o banco de alta renda, o Personnalité, poderia acabar em três anos.

De acordo com Bracher, os motivos que levaram o Itaú a ter interesse e adquirir parte da XP seguem valendo no contexto atual. Ele lembrou, inclusive, que o Itaú gostaria de ter uma fatia ainda maior e o controle da empresa, o que foi vetado pelo Banco Central.

"Vimos na XP a possibilidade de crescer no mercado de assessores, algo que nós temos dificuldade de fazer diretamente e um grande potencial de expansão. Vimos na XP uma empresa enxuta, com excelente gestão, focada e aguerrida", disse. "E por isso fizemos investimento", acrescentou.

O banco segue satisfeito, diz: "Todos esses pontos continuam válidos esse ano. Estamos muito satisfeitos. Por meio da XP podemos participar do crescimento de uma parte do mercado embora não tenhamos ingerência. É um investimento muito lucrativo".

O Itaú adquiriu 49,9% da XP em 2016 após o Banco Central ter barrado a aquisição do controle da maior corretora do País. Com a abertura de capital na Nasdaq, que recebe as empresas de tecnologia ao redor do globo, em dezembro de 2019, sua fatia foi diluída para 46,05%. O Itaú ainda tem a possibilidade de uma única aquisição adicional em 2022, que, se aprovada pelos órgãos reguladores - o que é bastante questionável no mercado, poderia empurrar sua fatia para até 62,4%.

Sucessão

Bracher afirmou que seu sucessor virá do comitê executivo do banco. Ele completa 62 anos em dezembro, idade limite para o cargo.

"Minha sucessão será decidida ao longo dos próximos meses pelo Conselho de Administração. Ao que tudo indica, o sucessor será um dos meus colegas do comitê executivo", disse, sem dar mais detalhes.

O comitê executivo do Itaú tem seis integrantes, incluindo o presidente do banco. As apostas para o sucessor de Bracher ainda estão divididas. Na lista, aparecem os nomes dos diretores de varejo, Márcio Schettini, e de atacado, Caio Ibrahim David. Também estão nos holofotes os vice-presidentes Milton Maluhy Filho, de relações com investidores, e André Sapoznik, de tecnologia.

Única representante feminina no comitê executivo do Itaú Unibanco, a vice-presidente Claudia Politanski está de saída do maior banco da América Latina. Ela deixa a instituição no fim do ano por motivos pessoais, conforme antecipou a Coluna do Broadcast.

De acordo com Bracher, Claudia já havia sinalizado o desejo de deixar a instituição há mais de um ano. A executiva, porém, adiou o movimento por causa da pandemia.

Bracher garantiu que a agenda de pluralidade capitaneada pela executiva permanecerá. "Todas as iniciativas do comitê são divididas entre nós seis. Não tenho nenhum receio de continuidade da política de diversidade, centralidade do cliente, apoio à sustentabilidade ambiental. Estou seguro de que terei sucessor mais competente que eu. Orientação se manterá."

Estadão
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