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Brasil deverá recorrer de decisão de Trump sobre tarifas de aço

1 mar 2018 - 18h51
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O Brasil deverá recorrer se a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de tarifar importações de aço e alumínio dos Estados Unidos for confirmada na próxima semana, afirmaram produtores de aço locais e o Ministério da Indústria e Comércio Exterior, nesta quinta-feira.

Trump anunciou mais cedo que os EUA vão impor tarifas de importação de 25 por cento sobre aço e de 10 por cento sobre alumínio na próxima semana, o que causou repercussão imediata ao redor do mundo.

"O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses no caso concreto" dos produtos brasileiros serem incluídos na medida de proteção comercial norte-americana, afirmou o ministério em nota.

O ministro da pasta, Marcos Jorge, esteve em Washington na terça-feira com o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, para afirmar que as exportações de produtos siderúrgicos do Brasil não representam ameaça ao país. Segundo o ministério, Ross manifestou "disposição para buscar soluções positivas e que eventual decisão de aplicação da sobretaxa poderia ser recorrida pelos países interessados".

Em 2017 o Brasil exportou 4,8 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos para os EUA, das quais 3,7 milhões em produtos semiacabados, que precisam ser reprocessados em usinas locais antes de serem usados em produtos finais como carros, máquinas e eletrodomésticos.

O volume representa uma fração da produção siderúrgica norte-americana, que segundo a Associação Mundial de Aço, foi de 81,6 milhões de toneladas em 2017. A China produziu 831,7 milhões de toneladas, o Japão 104,7 milhões e a Índia, 101,4 milhões.

A decisão de Trump "é um tiro no pé, porque a indústria norte-americana não é autossuficiente. Ela importa produto semiacabado", disse o presidente-executivo do IABr, entidade que reúne as principais siderúrgicas brasileiras, Marco Polo de Mello Lopes. "Vai prejudicar a indústria (dos EUA), o Brasil e o consumidor norte-americano", acrescentou.

Apesar dos EUA perderem importância nas exportações de produtos siderúrgicos brasileiros nos últimos anos, as ações de Usiminas e CSN recuaram mais de 4 por cento, respectivamente, nesta quinta-feira. Além de dificultar exportações brasileiras, o mercado avalia que as sobretaxas norte-americanas poderão elevar o excedente mundial de aço, o que pode pressionar os preços internacionais da liga e diminuir o preço de aço importado no Brasil.

Em 2017, as exportações totais de aço da Usiminas somaram 585 mil toneladas, de um total de vendas de 4 milhões de toneladas. As vendas externas no quarto trimestre da empresa somaram 196 mil toneladas, 60 por cento delas para Argentina e Alemanha. Os EUA não aparecem como destino das exportações da empresa.

Já a CSN, que ainda não divulgou resultados do quarto trimestre, no terceiro trimestre exportou 5 por cento de um total vendido no período, de 1,3 milhão de toneladas de aço.

As ações da Gerdau, porém, fecharam em alta de 3 por cento. O grupo siderúrgico da família Johannpeter obtém parte relevante de seus resultados a partir de operações da empresa nos EUA. No quarto trimestre, por exemplo, as operações norte-americanas da Gerdau foram responsáveis por 40 por cento da receita líquida e quase 20 por cento do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do grupo.

Em valores, as exportações brasileiras de aço aos EUA em 2017 equivaleram a 2,6 bilhões de dólares. Enquanto isso, o Brasil importou 1 bilhão de dólares em carvão dos EUA, disse Lopes, do IABr.

"O Brasil deveria ficar de fora (das sobretaxas norte-americanas)... Caso o Brasil seja enquadrado na 232, vamos entrar com recursos nos EUA para sermos excluídos", disse Lopes, que acompanhou a comitiva brasileira em Washington nesta semana.

Ele se referiu ao mecanismo usado pelo governo Trump para justificar as sobretaxas, a seção 232 da "Lei de Expansão Comercial", de 1962. O dispositivo refere-se a ações comerciais para proteger a segurança nacional dos EUA.

Os EUA citam questões de segurança nacional na definição das tarifas, afirmando que o país precisa de oferta doméstica de aço e alumínio para seus tanques e navios de guerra. O Departamento de Defesa norte-americano já vinha recomendando tarifas direcionadas para aço e um adiamento nas que envolvem alumínio.

"O governo brasileiro espera trabalhar construtivamente com os Estados Unidos para evitar eventual aplicação (de tarifas), o que traria prejuízos significativos aos produtores e consumidores de ambos os países", informou o ministério, citando diálogo de Marcos Jorge com o secretário de Comércio dos EUA.

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