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Bolsa sobe e dólar cai 0,8%, com investidor de olho na reforma ministerial

Pequenas mudanças no alto escalão do governo, para melhorar a sustentação de Bolsonaro no Senado, ficaram no radar do investidor; bom desempenho do exterior ajudou o mercado hoje

21 jul 2021 - 14h31
(atualizado às 18h50)
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Apoiados no bom humor do exterior, com os índices de Europa e Nova York fechando em alta, a Bolsa brasileira (B3) subiu 0,42%, aos 125.929,25 pontos nesta quarta-feira, 21, apesar do cenário político movimentado, ante a pequena reforma ministerial que será feita no governo. No câmbio, o dólar subiu 0,76%, cotado a R$ 5,1916.

Apesar o resultado, o dólar ainda acumula alta de 1,49% na semana e valorização de 4,39% em julho. Segundo analistas, a recuperação do apetite ao risco no exterior, com alta firme das Bolsas americanas, do petróleo e do rendimento dos títulos do Tesouro americano, se sobrepôs aos ruídos políticos locais e abriu espaço para a "correção dos exageros" na depreciação do real, que liderou a perda entre divisas emergentes no auge dos temores globais com a cepa Delta do coronavírus.

Não se descarta também o rompimento de suportes técnicos quando do dólar furou o piso de R$ 5,20, o que teria levado ao disparo de ordens de 'stop loss' (limitação de perdas) e zeragem de posições. Ainda mais pelo fato de o dólar à vista ter ensaiado uma alta pela manhã, chegando a operar no nível de R$ 5,27.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo
B3, a Bolsa de Valores de São Paulo
Foto: Divulgação / Estadão

Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, destaca que a queda do dólar ontem, de 0,37%, foi modesta comparada com a alta de 2,64% na segunda-feira. "A correção ontem foi pequena e sobrou uma gordura para queimar, o que aconteceu agora com o cenário externo melhor. Pode ter havido também fluxo mais forte", diz Iha, que ainda vê as indefinições no quadro político como um entrave para o fortalecimento maior do real. "Tem essa questão do fundo eleitoral, a reforma do ministério e, mesmo com o recesso parlamentar, pode sair algo da CPI da Covid".

Depois de anunciar o veto ao fundo eleitoral, de R$ 5,7 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro disse hoje que vai anunciar uma "pequena mudança ministerial" na segunda-feira, 26. Fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast afirmam que o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes, já acertaram o recriação do Ministério da Previdência e Trabalho, que seria comando pelo atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Bolsonaro também anunciou que vai "descontigenciar" todos os recursos do orçamento dos ministérios, pretextando aumento da arrecadação federal.

Nas mesas de operação, teme-se que a perda de popularidade de Bolsonaro esgarce seu capital político, abale sua base no Congresso e impeça a votação das reformas. Depois de "morder" com o anúncio de veto ao fundo eleitoral, Bolsonaro estaria tentando afagar o Centrão, em uma tentativa de reagrupar sua base parlamentar e se proteger das acusações da CPI da Covid. Na Casa Civil, o presidente deve alocar o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, o principal partido do Centrão.

"Olhando a conjuntura política, um dólar ainda acima de R$ 5 ainda faz muito sentido", afirma a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, que vê a queda da moeda americana hoje como um movimento natural de correção, em meio ao ambiente externo mais propício aos ativos de risco. "Nosso cenário ainda é de dólar a R$ 5,20 no fim do ano, e com muita volatilidade no meio do caminho. Tudo o mais constante, a Selic mais alta diminuiria a taxa de câmbio. Mas o retrato do Brasil ainda é muito ruim. Não vejo um fluxo grande de recursos nos próximos meses."

Bolsa

O Ibovespa engatou o segundo dia de recuperação parcial, embora, como ontem, em marcha mais lenta do que a observada em Nova York, com os investidores, por aqui, ponderando dados econômicos, como a forte arrecadação federal em junho como no consolidado do primeiro semestre, e políticos, especialmente a proximidade de nova readequação ministerial.

Na semana, vindo de perda de 1,24% na segunda-feira, quando prevaleciam temores globais decorrentes da variante Delta sobre a retomada econômica, o Ibovespa limita as perdas a apenas 0,02%, em baixa de 0,69% no mês - no ano, acumula ganho de 5,81%. Enfraquecido como ontem, o giro financeiro desta quarta-feira ficou em R$ 24,7 bilhões.

"Apesar de um ajuste natural na margem, tivemos hoje leitura bem positiva sobre a arrecadação federal em junho, no maior nível para o mês desde 2011, e o melhor primeiro semestre da série histórica. Mas os ruídos políticos atrapalham. Lembrando que em agosto, com o fim do recesso, há duas reformas importantes - administrativa e tributária - e possivelmente a privatização dos Correios", diz José Falcão Castro, especialista em renda variável da Easynvest.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para ganho de 8,50% em IRB, de 4,59% em Braskem e de 3,00% em Embraer. Na face oposta, Americanas ON cedeu 5,67%, Lojas Americanas, 5,16%, e Fleury, 2,87%. Entre as blue chips, Vale ON fechou em alta de 1,15%, com desempenho positivo também para as ações de bancos, com Santander em alta de 1,05% e siderurgia, com Gerdau PN subindo 2,26%, CSN ON, 2,22%.

Já a recuperação na casa de 4% observada nos preços do petróleo contribuiu para os ganhos acima de 1% em Petrobrás ON, em alta de 1,61% e PN, de 1,39% no fechamento desta quarta-feira. /ANTONIO PEREZ, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO

Estadão
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