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Dólar cai 1,7%, a R$ 5,46, no menor nível desde 12 de novembro; Bolsa sobe 1,26%

Pano de fundo externo positivo, marcado por valorização das commodities e recuo da renda fixa americana, ajudaram no recuo da moeda nesta quarta-feira

19 jan 2022 - 16h49
(atualizado às 19h34)
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Em dia marcado pelo enfraquecimento global da moeda americana, o dólar devolveu parte dos ganhos da sessão anterior e fechou em queda de 1,70%, a R$ 5,4659, menor valor de fechamento desde 12 de novembro. Nesta quarta-feira, 19, a Bolsa brasileira (B3) também teve um dia positivo e operou descolada de Nova York, com alta de 1,26%, aos 108.013,47 pontos - no maior nível desde 16 de dezembro.

O recuo de hoje do dólar foi também o maior tombo porcentual em um único pregão desde a última sessão de 2021, dia 30 de dezembro, quando recuou 2,06%. Com uma aceleração das perdas após o fechamento do mercado à vista, o dólar futuro para fevereiro caiu 2,28%, a R$ 5,45450, com giro de US$ 12,89 bilhão.

Já em queda desde a abertura, o dólar à vista rompeu a faixa R$ 5,50, considerada uma relevante barreira técnica e psicológica, no fim da manhã, provando reversão de posições compradas (que apostam na alta da moeda americana). Rapidamente, a divisa emendou uma sequência de baixas adicionais, descendo para a casa de R$ 5,46. Na mínima, atingiu R$ 5,4588, queda de 1,83%.

Segundo analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, ao pano de fundo externo positivo, marcado por valorização das commodities e recuo da renda fixa americana, somaram-se peculiaridades locais. O Ibovespa, em patamares atrativos e com peso relevante de commodities, é um forte chamariz para investidores estrangeiros em meio às altas do petróleo e do minério de ferro. Além disso, o Brasil promove um ajuste mais forte da política monetária e exibe juros bem mais atraentes que outros emergentes, atraindo mais capital estrangeiro.

"Estamos vendo o ingresso de mais ou menos R$ 1 bilhão de estrangeiro por dia para a Bolsa, motivado pela valorização das commodities", diz Bruno Mori, economista e planejador financeiro CFP pela Planejar. "Há um fluxo grande de estrangeiro atrás de oportunidades. É puxado principalmente por ações, mas também tem dinheiro vindo para aproveitar os juros altos", afirma Pieter Carvalho, economista da Valor Investimentos.

Além de aspectos técnicos e da atratividade dos ativos domésticos, operadores citaram um componente extra que contribuiu para o desempenho da moeda brasileira: declarações em tom conciliador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reforçou a disposição de ter o ex-governador paulista como companheiro de chapa, na construção de uma frente ampla no pleito de outubro. "Eu não terei nenhum problema se tiver que fazer uma chapa com o Geraldo Alckmin para ganhar as eleições e para governar esse país", disse Lula, em entrevista coletiva a blogueiros.

"As declarações do ex-presidente Lula ajudaram. O candidato líder nas pesquisas diz que é necessário ter uma aliança ampla, o que incluiria o centro e até o campo de centro-direita. Uma base como essa deixaria o discurso menos radical, o que agrada o mercado financeiro", afirma Mauro Morelli, estrategista da Davos Investimentos.

A despeito do desempenho positivo do real, analistas dizem que é cedo para falar em uma rodada mais forte de apreciação da moeda brasileira. "Essa queda do dólar é motivada pela alta das commodities e fluxo para a Bolsa. Isso pode se reverter a qualquer momento. E a alta de juros nos Estados Unidos tende a fortalecer o dólar", diz Mori, CFP pela Planejar. "Devemos ter ainda muita volatilidade no câmbio com as eleições aqui e com o aumento de juros no exterior", diz Morelli, da Davos.

Bolsa

De ontem para hoje, o Ibovespa passou de 106 mil para 108 mil pontos, acentuando as melhores leituras desde meados de dezembro, a despeito de piora do humor externo, que coloca as perdas em Nova York em até 8,34% em 2022, no caso do Nasdaq, mais afetado pela perspectiva de elevação de juros nos EUA.

Retardatária no ano passado, a referência da B3 corre atrás do tempo perdido, acumulando ganho de 3,04% em janeiro. Na semana, o índice sobe 1,02%, enquanto as perdas em Nova York variam entre 2,46% para Dow Jones e 3,72% para Nasdaq no mesmo intervalo. Hoje, Dow Jones caiu 0,96%, o S&P 500, 0,97% e o Nasdaq, 1,15%.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta, destaque para o setor de varejo, com Americanas ON em alta de 9,90% e Magazine Luiza, de 7,13%. No lado oposto, Embraer cedeu 2,79%, Cogna, 2,22%, Azul, 1,33% e Yduqs, 1,32%. Entre as ações de grande peso, Vale subiu 2,20% e Banco do Brasil, 0,88%, enquanto Petrobras ON cedeu 0,93%.

"Resta ver se toda essa volatilidade faz sentido pelo que está por vir, com muita coisa acontecendo em juros e commodities, desde ontem. É preciso ver o que é risco e o que é real", diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

Estadão
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