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Bets: mais de 1,3 milhão de pessoas ficaram inadimplentes devido a apostas online, diz CNC

Entidade, com base em levantamento que abarcou o primeiro semestre de 2024, afirma que os apostadores têm usado 'sem controle' cartão de crédito em plataformas de jogos online

20 set 2024 - 16h29
(atualizado às 18h52)
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Os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em jogos entre junho de 2023 e junho de 2024.
Os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em jogos entre junho de 2023 e junho de 2024.
Foto: FELIPE RAU/ESTADAO / Estadão

RIO - Mais de 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes no primeiro semestre de 2024 devido a apostas em cassinos online, segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A entidade afirma que os apostadores têm usado "sem controle" cartão de crédito nessas plataformas de jogos, o que contribui para um aumento das contas em atraso.

Os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em jogos entre junho de 2023 e junho de 2024, o equivalente a 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apontou a CNC. O montante revela que 22% da renda disponível das famílias foi destinada às apostas no último ano, "gerando uma série de consequências econômicas e sociais", alertou a entidade.

"O público jovem e de baixa renda é o mais impactado. As apostas, que inicialmente parecem uma forma de entretenimento, acabam comprometendo uma parte considerável do orçamento, resultando na inadimplência e na redução do consumo de bens essenciais", declarou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em nota oficial distribuída à imprensa.

Segundo Tavares, o fenômeno tem potencial para "agravar ainda mais o ciclo de pobreza e desigualdade, já que muitos estão utilizando recursos essenciais para apostar".

Como consequência, a CNC revisou para baixo a projeção de desempenho do comércio varejista em 2024, de uma expansão de 2,2% para uma alta de 2,1% no volume de vendas.

"Levando-se em conta o elevado comprometimento da renda das famílias com apostas online, os impactos sobre o varejo brasileiro são atualmente incertos, mas possuem um potencial de reduzir em até 11,2% a atividade varejista, diminuindo em R$ 117 bilhões o faturamento do setor por ano", previu a CNC, no estudo.

Para a entidade, a aprovação da Lei nº 13.756, em 2018, que autorizou as apostas esportivas, levou a uma expansão exponencial do mercado de apostas online, incluindo cassinos virtuais, porém, sem que fosse acompanhada por uma regulamentação necessária.

O aumento "descontrolado" das apostas online tem comprometido a renda das famílias e redirecionado o consumo de bens e serviços essenciais para gastos em jogos de azar, afirma a entidade.

Perda do poder de compra

"O crescimento do volume de apostas está diretamente ligado à perda de poder de compra das famílias, o que afeta toda a economia e o desenvolvimento do País", alertou o vice-presidente financeiro da CNC, Leandro Domingos Teixeira Pinto, em nota oficial.

No levantamento, a entidade aponta que a quantidade de famílias inadimplentes tem apresentado tendência de avanço ao longo de 2024, apesar da taxa de juros mais baixa e da massa salarial em alta. A CNC calcula que cada aumento de um ponto porcentual no fluxo de gastos com apostas leva a um avanço de 0,118 ponto porcentual na proporção de famílias com dívidas em atraso.

"Como houve avanço de 257% no fluxo desses recursos, em relação ao fim de 2022, a Confederação projeta um aumento de 3,9% na quantidade de famílias impactadas. Ou seja, mais 191 mil famílias", estimou o estudo.

Apoio à regulamentação de cassino físico

A entidade manifestou ainda, na nota, apoio a uma regulamentação de cassinos físicos. Se regularizados, esses estabelecimentos teriam potencial de geração de até 1 milhão de empregos diretos e indiretos, além de R$ 22 bilhões em arrecadação anual para o governo, estimou a CNC.

"Os cassinos online, em particular, têm mostrado um perfil de apostadores que levanta ainda mais alertas. Modalidades como o chamado 'Jogo do Tigrinho', popular entre mulheres, têm o potencial de gerar impactos sociais mais profundos, visto que parte desse público é beneficiário de programas sociais e chefe de família", defende a CNC.

Estadão
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