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BC intensifica atuação no câmbio e impõe "teto" a moeda perto de R$4,20, dizem analistas

27 ago 2019 - 19h15
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O Banco Central ofertou dólares no mercado de câmbio à vista nesta terça-feira, em operação extraordinária e sem estar conjugada com outros instrumentos, em resposta à disparada da moeda para perto de níveis recordes na esteira de crescente demanda do mercado por uma atuação mais incisiva da autoridade monetária.

10/09/2015
REUTERS/Ricardo Moraes
10/09/2015 REUTERS/Ricardo Moraes
Foto: Reuters

A taxa de corte anunciada --ou seja, a cotação mínima pela qual o BC aceitou ofertar os dólares ao mercado-- foi de 4,125000 reais, bem abaixo do nível acima de 4,19 reais batido na máxima intradiária. Depois do anúncio da operação, o dólar virou e chegou a cair para 4,1235 reais (-0,45%).

Ao longo da tarde, o dólar recobrou parte do fôlego e acabou fechando em alta 0,45%, a 4,1581 reais na venda. É o maior patamar desde 14 de setembro de 2018 (4,1667 reais na venda).

O lote mínimo disponibilizado pelo BC no leilão de dólar à vista realizado nesta tarde foi de 1 milhão de dólares. A autoridade monetária não divulgou o montante total negociado, e a expectativa é que esse número seja informado na quarta-feira da semana que vem, junto com dados do fluxo cambial.

Para analistas, a atuação do BC adiciona um fator "imprevisibilidade" no mercado, o que pode ter efeito de impor um "teto" para o dólar.

"O BC mostrou os dentes", disse Italo Lombardi, estrategista para mercados emergentes do Crédit Agricole em Nova York. "O BC colocou seu limite, percebeu que o movimento estava exagerado", acrescentou.

A atuação extraordinária ocorreu após a disparada do dólar justamente na esteira de comentários do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que foram interpretados como sinal de falta de disposição da autarquia em atuar de forma mais incisiva no câmbio.

"O real nos últimos dias tem tido desvalorização um pouquinho acima, mas está bem dentro do padrão normal", disse Campos Neto em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, nesta terça-feira.

A fala puxou o dólar ainda mais para cima, e a moeda bateu 4,1956 reais na venda, colado na máxima histórica de fechamento, de 4,1957 reais, alcançada em setembro do ano passado.

"O BC quis dar um sinal de que (o dólar) em 4,20 reais incomoda", disse Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. Para ele, o não anúncio do tamanho da operação serve para "não dar previsibilidade" ao mercado, o que o profissional classifica como "prudente".

"O mercado deveria ficar na dúvida dos próximos passos da Selic, por mais que ele negue que exista relação mecânica", completou.

Um gestor destacou que a intervenção "piorou" outras moedas emergentes, como peso mexicano, peso argentino e rand sul-africano. "Isso mostra que todo mundo está 'hedgeado' no real", disse, referindo-se a posição vendida na moeda brasileira (apostando na desvalorização).

Esse "hedge" aumentou conforme os diferenciais de juros entre o Brasil e o mundo caíram a mínimas recordes, o que barateou a utilização do real como instrumento de proteção a posições em outros ativos, como ações e renda fixa.

REAL PARA TRÁS

O aumento das posições contrárias ao real tem impedido que a moeda capte na mesma intensidade que a bolsa ou a renda fixa o otimismo quando à agenda de reformas no Brasil.

Mais recentemente, a pressão sobre o câmbio se intensificou conforme o mercado continuou a sofrer com mais saídas de recursos. Em 12 meses até julho, o acumulado está negativo em quase 30 bilhões de dólares, pior resultado em 20 anos.

A escassez de dólar à vista provocou distorções no mercado, com alta nas taxas do cupom cambial (juro em dólar) --que por sua vez pioram a atratividade do real como investimento.

A taxa do casado (cupom cambial de curtíssimo prazo) chegou a bater 6% recentemente, bem acima de taxas de 2,5% consideradas como mais usuais.

Para suprir a demanda do mercado por dólar físico, o BC anunciou no último dia 14 de agosto leilões de venda de dólar à vista conjugados com swap reverso. Na ocasião, o BC informou que seria a primeira vez desde fevereiro de 2009 que recursos das reservas seriam injetados no mercado sem compromisso de devolução.

Desde o dia 21 de agosto, o BC tem ofertado 550 milhões de dólares no mercado à vista, anulando o mesmo montante em swaps cambiais tradicionais. As operações vão até quinta-feira, e o BC já anunciou o mesmo tipo de leilão para o mês de setembro.

Nesta terça, o BC anunciou para quarta-feira oferta de 550 milhões de dólares em dólar à vista conjugada com swaps reverso e tradicional.

Adicionalmente, a autarquia disponibilizará até 1,5 bilhão de dólares em linhas de dólares com compromisso de recompra, em operação que visa rolar parte dos 3,8 bilhões de dólares vincendos em 4 de setembro nessa modalidade.

A divisa brasileira cai 8,2% ante o dólar em agosto, segundo pior desempenho global, melhor apenas que o peso argentino, que tomba 22,4%.

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