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Bastidores: Relatoria da Previdência é vista como influência de Doria e desagrada ao Centrão

Em uma medição de forças, o Centrão agora ameça travar toda a pauta dos Estados no Congresso Nacional

25 abr 2019 - 19h05
(atualizado às 19h44)
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A escolha da relatoria da reforma da Previdência, papel essencial na negociação das mudanças no texto, está sendo vista no Congresso Nacional como resultado da influência do governador de São Paulo, João Doria. A articulação em favor do nome de Samuel Moreira (PSDB-SP), porém, desagradou a integrantes do Centrão, bloco de partidos do qual faz parte o próprio DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a quem cabia a decisão da relatoria.

Nessa medição de forças, o Centrão agora ameça travar toda a pauta dos Estados no Congresso Nacional em retaliação. Isso incluiria não só a exclusão dos Estados e municípios da reforma da Previdência, mas também os repasses da Lei Kandir, a securitização de dívidas (que poderia antecipar o recebimento de recursos pelos governadores) e a divisão do dinheiro do pré-sal. O argumento é de que a "conta" é muito alta para aprovar uma pauta que não é do bloco.

Moreira é classificado pelos próprios tucanos como próximo ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin
Moreira é classificado pelos próprios tucanos como próximo ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão

Moreira é classificado pelos próprios tucanos como um Alckmista - ele já foi secretário e líder do governo na Assembleia na gestão de Geraldo Alckmin em São Paulo. Mas, segundo apurou o Broadcast, sua indicação para a relatoria teve apoio de Doria.

O relator é amigo do secretário especial de Previdência e Trabalho, o tucano Rogério Marinho, e tem base eleitoral em Registro, no Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do Estado mais rico do País. Também pesou a seu favor a experiência na Câmara e sua rede de relacionamentos.

O nome preferido do governador de São Paulo era o deputado Eduardo Cury (PSDB-SP), que acabou deixando a corrida pela relatoria por motivos pessoais. Com isso, Doria acabou apoiando Moreira para não deixar a relatoria cair nas mãos do Centrão após as derrotas que o bloco impôs ao governo na tramitação da reforma, já que outro candidato era o deputado Pedro Paulo, aliado de primeira hora de Maia e integrante do DEM, um dos partidos do bloco.

Para integrantes do DEM, a avaliação é de que Maia optou por sacrificar o próprio partido e um parlamentar muito próximo para ceder ao PSDB. A decisão do presidente da Câmara também atendeu às pressões de agentes do mercado, que almejavam um relator mais independente para a proposta, que é considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas.

Até na última quarta-feira, 24, à noite, aliados do presidente da Câmara davam como certa a indicação de Pedro Paulo a pelo menos um dos postos da comissão especial, a relatoria ou a presidência. O deputado já vinha se preparando com leituras sobre o tema, mas nenhuma dessas expectativas se confirmou. Na reunião de líderes nesta quinta-feira, 25, pela manhã, parlamentares próximos a Maia ainda tentaram convencê-lo a manter a indicação do DEM para o posto, sem sucesso.

O Centrão acabou ficando com a presidência da comissão, com a indicação do deputado Marcelo Ramos (PR-AM). Na função, ele terá o condão de acelerar ou retardar a tramitação da reforma - um poder considerado mais limitado em relação à relatoria.

Nos bastidores do Congresso, o movimento de Doria é interpretado como uma tentativa do governador de se aproveitar do capital político da reforma, principalmente num momento em que haverá "bondades" no sentido de aliviar o rigor da proposta. Outro interesse do governador, na avaliação de parlamentares, é garantir por meio do relator a permanência dos Estados na reforma. A proposta é crucial para os governadores, que estão com as contas em situação até mais crítica do que a União. Também há quem veja um estreitamento de laços entre Doria e Maia.

Doria, que tem coordenado o Fórum de Governadores, também ficaria em posição fortalecida como um dos fiadores da reforma para negociar medidas em prol dos Estados, na visão dos deputados. Essa agenda agora o Centrão se articula para barrar.

Estadão
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