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Associações do setor elétrico criticam aumento da tarifa de Angra 3

Elevação no preço pode elevar tarifa para o consumidor em quase 2%, avaliam especialistas do setor

11 out 2018 - 12h29
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Três das principais associações do setor elétrico se posicionaram contra o aumento da tarifa da usina nuclear de Angra 3, aprovada nesta terça-feira, 9, pelo governo. Na tentativa de viabilizar a retomada futura da obra e proporcionar uma nova estrutura de capital para o projeto, o governo dobrou o preço de referência da energia a ser produzida pela usina dos atuais R$ 243 por megawatt-hora (MWh) para R$ 480 por MWh. Como resultado dessa decisão, a tarifa para o consumidor pode subir quase 2%, segundo especialistas do setor, já que o custo para concluir a obra será transferido para a conta de luz no futuro.

O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores (Abrace), Edvaldo Alves de Santana, questiona a autorização para o reajuste sem qualquer análise sobre as causas do atraso na entrega da usina. Angra 3 deveria ter sido concluída em maio de 2014, mas a projeção da Eletrobrás é entregar a usina apenas em 2026. "Até onde se sabe, os abalos na estrutura financeira de Angra 3 decorrem da má gestão, que veio acompanhada do furacão da interferência política, que provoca enormes danos por onde quer que passe", disse.

Para Santana, fazer esse repasse de custos aos consumidores sem fazer uma análise profunda sobre as responsabilidades pelo problema pode gerar "transferência ilegal de renda para os acionistas da Eletrobrás". "Acho que faz sentido concluir a usina de Angra 3, mas o governo e os acionistas, irresponsáveis na gestão da obra, precisam assumir suas partes", disse.

Mesmo sem o reajuste autorizado pelo governo, o custo da energia de Angra 3 já seria, em média, 15% maior do que a adquirida pelas concessionárias atualmente, diz o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite. "Não tem jeito de deixar a obra parada, já que desmobilizá-la custa quase o mesmo que concluí-la. É um problema. Mas se o governo encara a usina como algo estratégico para o País, caberia ao Tesouro Nacional custear essa obra, a despeito das dificuldades econômicas da União", disse.

O presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo Medeiros, disse que o volume de investimentos que Angra 3 vai demandar para ser concluída, da ordem de R$ 15,5 bilhões, poderia ser direcionado para investimentos em dezenas de usinas que geram energia a partir de fontes renováveis, como eólicas, solares e pequenas centrais hidrelétricas.

"Tomaram uma decisão que vai impactar fortemente os consumidores sem chamá-los para opinar, tudo em um gabinete fechado em meio a um governo de transição", disse. "Angra 3 terá um custo enorme para o consumidor. É praticamente um monumento à incompetência nacional. Deveríamos colocar uma placa lá para deixar como legado para outras gerações nunca mais cometerem o mesmo erro."

Estadão
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