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'Antes de ter o barraco, morei de favor', diz moradora de ocupação

Sandra e as três filhas vivem em uma área de ocupação com um benefício mensal de R$ 998

16 out 2019 - 21h32
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SOROCABA - A três quilômetros do aeroporto de Sorocaba, um dos que mais registram pousos e decolagens no interior do Estado de São Paulo, a família da doméstica Sandra Arlindo de Oliveira, de 32 anos, luta para sair da pobreza. Ela e as filhas Roberta, de 13 anos; Sara, de 9 anos; e Cristina Gabriely, de 4 anos, sobrevivem com uma renda per capita mensal de R$ 312. Até o ano passado, quando dependiam exclusivamente do Bolsa Família, essa renda era ainda menor.

O reconhecimento da deficiência da filha caçula, que perdeu o olho esquerdo ainda bebê, garantiu a ela um benefício mensal de R$ 998. Com a inscrição da família no cadastro único para programas sociais do governo, o pagamento do Bolsa Família foi suspenso. "Disseram que o benefício da menina já inclui o Bolsa Família, por isso paramos de receber uns R$ 300 por mês", disse a mãe. A renda familiar é complementada pela pensão alimentícia de R$ 250 mensais que o pai de Roberta e Sara paga a elas.

A família mora em área de ocupação à margem da linha férrea da antiga Fepasa, no Jardim Marly, zona norte da cidade. Sandra conta que participou da "invasãozinha" há cerca de dois anos. Durante um ano e meio, ela e as crianças moraram no barraco de madeira que montou com a ajuda de outros ocupantes. Sobre a área onde vivem 117 famílias, pesam duas ações de reintegração de posse, uma delas movida pela União. Mesmo assim, Sandra conseguiu erguer uma casa de três cômodos - sala e cozinha juntas, e dois quartos. "Antes de ter o barraco, morei de favor e em casa de aluguel. Agora tenho meu teto porque minha mãe deu os tijolos e meu irmão ajudou a erguer as paredes."

A casa simples tem no interior apenas o indispensável: uma cama de casal em cada quarto, um jogo de sofás e um televisor na sala, geladeira e fogão bastante usados na cozinha, e um tanquinho para lavar as roupas. "Como a parte de esfregar a roupa quebrou, me deram outro, mas ainda não está instalado", contou a mulher. A água é retirada de um poço domiciliar cavado na frente da casa, e o esgoto vai para uma fossa simples, aberta um pouco mais abaixo. "Por ser área de ocupação, não temos asfalto, nem nada. A nossa energia é 'gato'", conta Sandra. A família não tem microcomputador e divide um único celular.

Adolescente, Roberta é a que mais se ressente da falta de internet. "Às vezes, preciso da rede para estudar, mas nem na escola tem computador", disse. Ela está na 7.ª série do ensino fundamental em uma escola estadual e, segundo a mãe, é aluna aplicada, que sonha em fazer pedagogia. "Peguei as notas dela e só tem 10 nas provas." Sara estuda na mesma escola e a pequena Cristina Gabriely conseguiu vaga em uma escola infantil municipal.

A família conta com a solidariedade de vizinhos e de entidades assistenciais para não sofrer privação alimentar. Sandra paga R$ 100 por mês para um fundo criado para buscar a regularização da área. "Ainda estou pagando o guarda-roupa que comprei para elas e o olhinho (prótese ocular) da pequena. Recebi a Bolsa Família por 12 anos e me ajudou muito. Agora, tenho de usar bem o novo benefício. Preciso terminar a casa e queria dar um celular novo para a Roberta, mas fazer o quê? Não posso sair para trabalhar por causa da menina (Cristina) que precisa de cuidados e não fica sem mim", lamenta a mãe.

Estadão
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